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É hora de defender os puxa-sacos no mundo corporativo

Por: Afonso Bazolli
Em: Gestão
Fonte: Valor Econômico

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Por: Lucy Kellaway

Se você está lendo isto, são boas as chances de você ser um bajulador, um puxa-saco, uma pessoa falsa. A maioria d os leitores do “Financial Times” passa a vida profissional tentando subir na hierarquia das grandes empresas, o que os torna covardes e falsos. Pelo menos foi o que disse o empresário Luke Johnson em uma recente coluna no “FT”. Ele afirmou que o mundo corporativo é totalmente falso.

Os escravos dos salários, disparou ele, aprendem desde cedo a viver na mentira; os mais falsos chegam a cargos de diretoria, onde trapaceiam e caluniam uns aos outros.

A única maneira de evitar esse esgoto é fazer como o próprio Johnson e trabalhar por conta própria. Aos vinte e poucos anos ele jurou que não seria mais tratado de bobo por seu chefe em um banco de investimentos. Um ano depois, havia se livrado de uma vez por todas do servil mundo corporativo. Agora, a bajulação é uma coisa do passado. Ele é franco e, na maioria das vezes, diz o que pensa.

Li isso durante o café da manhã sem fazer nenhum comentário e passei o artigo para meu marido. “Excelente! É isso mesmo”, disse ele ao terminar de ler, como eu tinha certeza que faria. Quando o conheci, meu marido era jornalista do “FT”, mas com o passar do tempo, o comportamento deferente que o jornal exigia passou a ser um fardo pesado demais para ele. Pouco depois de casarmos, ele pediu demissão e começou a editar sua própria revista. A versão dos eventos apresentada por Johnson bateu perfeitamente com a dele.

Minha carreira seguiu um outro rumo. Continuei no mundo corporativo abaixando minha cabeça com tranquilidade sempre que necessário. A visão de Johnson não bate com a minha. Há quatro coisas erradas com ela. A primeira é que estou preparada para admitir que sou uma puxa-saco fingida. Mas não sei se isso é uma coisa totalmente ruim. A frase puxa-saco, no entanto, soa muito vulgar – prefiro a palavra bajuladora.

Tenho orgulho em ser uma bajuladora e acho até que deveria ser melhor nisso. A bajulação é uma parte essencial do charme, crucial não só para a sobrevivência no mundo corporativo, mas também em qualquer encontro com alguém que envolva conseguir aquilo que você quer.

A segunda coisa é que minha experiência com grandes corporações mostra que a bajulação é apenas uma das muitas habilidades necessárias para se sair bem. Outras incluem a diplomacia, o trabalho duro, a sociabilidade, a ambição, a crueldade e o talento. As grandes empresas são lugares complicados, onde as pessoas emocionalmente sofisticadas podem acabar se dando muito bem.

Os traços exigidos para a promoção são uma mistura de bom e ruim – embora algumas companhias sejam mais disfuncionais que outras, todas elas inevitavelmente exigem concessões. Egos precisam ser administrados, o que significa que é melhor ser cuidadoso do que ser precipitado. Mesmo assim, classificar as habilidades necessárias para esse jogo delicado como bajulação barata é perder o fio da meada.

A terceira coisa é que não concordo com a ideia populista de que o homem que manda uma corporação às favas é um herói. Há uma boa possibilidade de ele ser um bolchevique desajustado que não aprendeu a se comportar em sociedade de maneira educada. Meu marido, assim como Johnson, teve uma discussão com seu chefe, que envolveu raquetes sendo arremessadas pela quadra de tênis. Quando ele me contou o que aconteceu, fiquei 30% orgulhosa dele. Nos restantes 70% achei que ele precisava aprender a se controlar.

Mas ele não aprendeu e não tem esse perfil.

No final das contas trata-se de uma questão de personalidade. As pessoas acabam se transformando em empreendedoras por razões diferentes. Algumas, como Sir Richard Branson, são disléxicas e foram tão mal na escola que encontraram as portas de carreiras normais fechadas.

Outras começam empresas porque suas personalidades não evoluíram o suficiente para se enquadrar no tipo corporativo. Não tem nada a ver com a tolerância moral que elas têm pela dissimulação. É como falar uma língua estrangeira. Algumas pessoas possuem os genes, outras não. E, assim como acontece com os idiomas, é preciso prática para aprender o comportamento corporativo.

Quando você pratica todos os dias, a coisa flui naturalmente e não é preciso grandes esforços. Mas aqueles que saem do clima vão ficando mais e mais enferrujados e solipsistas até se tornarem inaptos ao trabalho. Será isso um sinal de superioridade moral? Não acredito.

A objeção final à tese é que as pessoas que mais resistem a bajular os outros podem ser aquelas que mais desejam ser bajuladas. Johnson menciona isso de passagem, como um risco menor. Mas vejo isso como uma grande fraqueza de qualquer teórico que tenta provar a fibra moral do empreendedor que segue sozinho. Não há muito valor em opiniões sinceras quando você é a única pessoa que pode dá-las. Pergunte a qualquer pessoa que trabalhou com Steve Jobs.

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