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Executivos e bebês são mais parecidos do que se imagina

Por: Afonso Bazolli
Em: Gestão
Fonte: Valor Econômico

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Por: Lucy Kellaway

Não era para ser muito interessante. Tudo aconteceu quando um homem que estava estudando em casa, na Coreia do Sul, estava dando uma entrevista ao vivo para a BBC pelo Skype. Seus filhos pequenos perambulavam pelo quarto atrás dele, e foram enquadrados pela câmera por alguns segundo, até que uma mulher os cercou e os tirou de cena, e a entrevista prosseguiu.

Mesmo assim, o vídeo com esse pequeno contratempo doméstico na casa do acadêmico Robert Kelly foi assistido mais de 100 milhões de vezes ao redor do mundo, provocando muita diversão, constrangimento e comentários. Durante dois dias a família Kelly foi uma das mais famosas do mundo. Quando o “The Wall Street Journal” publicou a primeira entrevista depois do contratempo, o artigo resultante se transformou no mais lido na internet na história do jornal, que normalmente é sério.

Por que o vídeo viralizou? Em parte, porque as pessoas gostam de ver crianças pequenas fazendo travessuras, da mesma maneira que gostam de ver gatinhos pulando dentro de caixas de papelão. Mas um motivo maior foi que a situação mostrou uma diferença irreconciliável entre o que somos no trabalho e o que somos em casa. A aparição imprevista de duas crianças pequenas mostra uma verdade que a maioria de nós tenta esquecer – o quanto a vida no trabalho é pretensiosa e artificial.

O caso de Kelly foi extremo porque ele estava ao vivo na TV e usando terno e gravata, adotando a compostura que exigimos dos especialistas. Nada poderia ser menos sério do que uma criança vestindo uma malha amarela e dando pulos de alegria atrás dele: na verdade, a simples visão de seus filhos se intrometendo na transmissão configurou uma falta de etiqueta tão grande quanto se ele tivesse aparecido nu diante da câmera.

O abismo entre esses dois mundos se mostrou diante dele. No começo, ele usou a máscara exigida para o seu trabalho. Ele era o especialista, a autoridade toda séria. Então, a máscara caiu para revelar uma pessoa bem diferente, um pai exasperado dando um sorriso complacente para a filha. Em seguida, após mais constrangimento, ele conseguiu colocar de novo a máscara do trabalho.

A maioria de nós usa máscaras no local de trabalho a maior parte do tempo. O trabalho exige um código de comportamento que precisa ser seguido. Ele requer estar no controle, enquanto duas crianças pequenas peraltas requerem justamente o contrário.

Estar no trabalho significa alegar ser “apaixonado” por coisas que precisamos acreditar que são importantes, enquanto que a presença de uma criança torna difícil sustentar esse fingimento – coisas sérias de repente parecem engraçadas.

Mas apesar dessas verdades evidentes, a mais nova moda nos locais de trabalho – possivelmente a mais idiota já inventada – é encorajar os gestores a se comportar como crianças. Na semana passada, a Swatch publicou seu relatório anual com o tema “Agora temos seis”. Ela usou fotografias de todos os seus diretores como se eles tivessem seis anos de idade, uma ideia excelente visualmente porque eles eram bem mais interessantes na época, mas fora isso, uma coisa desconcertante.

A mensagem de abertura do presidente fala do prazer de se construir castelos de areia, que é uma coisa legal e tudo, mas que não deve distrair nem mesmo o mais preguiçoso dos investidores do fato de que a fabricante de relógios lucrou cerca de metade do que conseguiu no ano anterior. A não ser que a ideia tenha sido explicar que a companhia se saiu tão mal porque seus diretores estavam muito ocupados com baldes e pás.

Mais absurdo ainda é um livro que será publicado em abril intitulado “Little Wins: the Huge Power of Thinking like a Toddler”. Sir Richard Branson é um grande fã e escreve no prefácio: “Há muita mágica neste mundo, mas às vezes precisamos virar crianças para experimentá-la”. Virar criança, explica o autor, Paul Lindley, é uma grande ideia para os gestores, uma vez que eles ficam mais confiantes, criativos, honestos, divertidos e nunca desistem.

Essas características despertaram em mim poucas lembranças de crianças, embora eu consiga pensar em algumas outras maneiras pelas quais crianças de três anos se parecem com executivos seniores – e é melhor evitar todas elas.

Crianças pequenas têm explosões de raiva. Elas não gostam de compartilhar. Elas não prestam atenção no que falamos. O bom senso não é um ponto forte. Elas são extremamente egoístas e veem as outras pessoas como objetos. E elas não são boas em lidar com margens de lucro.

Os traços de comportamento mostrados pelos filhos de Kelly consistiram em pular, demonstrar irritação e se balançar em um andador para bebês – e nenhum deles me parece digno de ser copiado por gestores. O principal ponto sobre essas atividades é que elas são melhor conduzidas em uma sala onde entrevistas com a BBC, um trabalho sério, não estiverem sendo realizadas.

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