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se. É um escândalo. É uma indústria com

muitos setores, difícil de ser combatida.

Mas a sociedade se organizando pode

enfrentar e vencer.

BP – Como mudar a cultura da cor-

rupção? É possível acabar com a

corrupção dentro da política e das

relações empresariais de pagamento

de propinas e até mesmo bônus por

indicação nas agências de publicida-

de, por exemplo?

MA – Só descobri que existe esse ne-

gócio de bônus durante o processo do

Mensalão. Acho que é uma questão de a

sociedade tomar conhecimento desses

mecanismos. E a partir daí é um traba-

lho de convencimento de que isso não

pode ocorrer. As empresas têm setores

de compliance, mas precisam levar a

sério. Não é para fazer gênero. Chegará

um dia em as empresas que não forem

sérias sofrerão boicote dos consumido-

res. Acho que a tarefa é convencer que

a corrupção faz mal pra todos. Prejudica

eticamente, economicamente. Temos

que destruir a “cultura” da corrupção.

Não é o brasileiro que é corrupto. Isso é

conversa fiada. Temos uma estrutura de

NÃO E X IS T E DNA DA

CORRUPÇÃO, NEM

ORIGEM POR T UGUESA,

COLONIAL , MAS, SIM, UM

ECOSSIS T EMA JURÍ DICO

QUE F OR T ALECE A IMPU-

NI DADE

ENTREVISTA

MARCOANTONIOVILLA

HISTORIADOR

poder que legitima a corrupção. Quan-

do pegar Sérgio Cabral (ex-governador

do Rio de Janeiro), que destruiu o Es-

tado do Rio, e colocar na cadeia por 20

anos, não vai mais ter isso.

BP – Quando podemos esperar o re-

sultado final da Lava Jato?

MA – O juiz Sérgio Moro é a grande

figura do século 21 brasileiro. O que ele

tem feito em termos de qualidade téc-

nica das sentenças e enfrentado os que

solapam a Lava Jato é inacreditável. Está

indo muito bem. O pessoal está na ca-

deia. Temos que estimular exemplos de

Sérgio Moro. É muito triste, por exem-

plo, ver o evento que a Associação de

Magistrados Brasileiros fez em Arraial

d’Ajuda, levando juízes patrocinados por

empresas que demandam justiça. Isso é

conflito de interesse. É uma luta que não

é da noite para o dia, mas estamos mu-

dando rapidamente. Se conseguirmos

aprovar as medidas contra corrupção no

primeiro semestre do ano que vem, vai

ser mais uma vitória parcial. Essa não é

uma guerra que se resolve em uma ba-

talha. No final, construiremos um estado

democrático de verdade.

BP – Quais são os pontos prioritários

da reforma política e por quê?

MA – Agora será possível aprovar a

cláusula de desempenho. Cada partido

precisa ter o mínimo de representação

no Congresso. O fim das coligações

também é muito importante. Aprovar

mais do que isso será impossível. Claro

que eu gostaria do voto distrital misto,

mas não acredito nisso a curto prazo.

São avanços graduais.

BP – Qual é o caminho da recupera-

ção econômica?

MA – Primeiramente, os governos pre-

cisam gastar somente o que recebem,

enfrentar o déficit. A PEC 241 é muito

importante para limitar os gastos públi-

cos. Também precisamos diminuir a taxa

de juros paulatinamente. Não é possível

um país com essa taxa, que inviabiliza o

consumo e a expansão de qualquer ne-

gócio. Precisamos melhorar a qualidade

do gasto público e ter uma visão de mé-

dio prazo.

BP – O senhor é favorável ao fomen-

to do crescimento do PIB por meio

do crédito?

MA – Não. Isso era uma ilusão. Fui con-

trário a isso na época. Fazer profecia do

passado é fácil, mas escrevi isso no livro

“Década perdida”, publicado no final de

2012. Quase fui linchado. Inventaram a

história da Classe C, que nunca exis-

tiu. A população estava na favela, tinha

uma televisão belíssima, mas nunca saiu

do lugar. Continuava tendo esgoto cor-

rendo a céu aberto. Tivemos uma ilusão

de consumo momentânea, mas a escola

continuava um horror, não tinha creche,

a estrutura de estado não funcionava.

Foi um grave equívoco. Expandir o con-

sumo pelo credito é irresponsabilidade.