8 Best Performance
se. É um escândalo. É uma indústria com
muitos setores, difícil de ser combatida.
Mas a sociedade se organizando pode
enfrentar e vencer.
BP – Como mudar a cultura da cor-
rupção? É possível acabar com a
corrupção dentro da política e das
relações empresariais de pagamento
de propinas e até mesmo bônus por
indicação nas agências de publicida-
de, por exemplo?
MA – Só descobri que existe esse ne-
gócio de bônus durante o processo do
Mensalão. Acho que é uma questão de a
sociedade tomar conhecimento desses
mecanismos. E a partir daí é um traba-
lho de convencimento de que isso não
pode ocorrer. As empresas têm setores
de compliance, mas precisam levar a
sério. Não é para fazer gênero. Chegará
um dia em as empresas que não forem
sérias sofrerão boicote dos consumido-
res. Acho que a tarefa é convencer que
a corrupção faz mal pra todos. Prejudica
eticamente, economicamente. Temos
que destruir a “cultura” da corrupção.
Não é o brasileiro que é corrupto. Isso é
conversa fiada. Temos uma estrutura de
”
“
NÃO E X IS T E DNA DA
CORRUPÇÃO, NEM
ORIGEM POR T UGUESA,
COLONIAL , MAS, SIM, UM
ECOSSIS T EMA JURÍ DICO
QUE F OR T ALECE A IMPU-
NI DADE
ENTREVISTA
MARCOANTONIOVILLA
HISTORIADOR
poder que legitima a corrupção. Quan-
do pegar Sérgio Cabral (ex-governador
do Rio de Janeiro), que destruiu o Es-
tado do Rio, e colocar na cadeia por 20
anos, não vai mais ter isso.
BP – Quando podemos esperar o re-
sultado final da Lava Jato?
MA – O juiz Sérgio Moro é a grande
figura do século 21 brasileiro. O que ele
tem feito em termos de qualidade téc-
nica das sentenças e enfrentado os que
solapam a Lava Jato é inacreditável. Está
indo muito bem. O pessoal está na ca-
deia. Temos que estimular exemplos de
Sérgio Moro. É muito triste, por exem-
plo, ver o evento que a Associação de
Magistrados Brasileiros fez em Arraial
d’Ajuda, levando juízes patrocinados por
empresas que demandam justiça. Isso é
conflito de interesse. É uma luta que não
é da noite para o dia, mas estamos mu-
dando rapidamente. Se conseguirmos
aprovar as medidas contra corrupção no
primeiro semestre do ano que vem, vai
ser mais uma vitória parcial. Essa não é
uma guerra que se resolve em uma ba-
talha. No final, construiremos um estado
democrático de verdade.
BP – Quais são os pontos prioritários
da reforma política e por quê?
MA – Agora será possível aprovar a
cláusula de desempenho. Cada partido
precisa ter o mínimo de representação
no Congresso. O fim das coligações
também é muito importante. Aprovar
mais do que isso será impossível. Claro
que eu gostaria do voto distrital misto,
mas não acredito nisso a curto prazo.
São avanços graduais.
BP – Qual é o caminho da recupera-
ção econômica?
MA – Primeiramente, os governos pre-
cisam gastar somente o que recebem,
enfrentar o déficit. A PEC 241 é muito
importante para limitar os gastos públi-
cos. Também precisamos diminuir a taxa
de juros paulatinamente. Não é possível
um país com essa taxa, que inviabiliza o
consumo e a expansão de qualquer ne-
gócio. Precisamos melhorar a qualidade
do gasto público e ter uma visão de mé-
dio prazo.
BP – O senhor é favorável ao fomen-
to do crescimento do PIB por meio
do crédito?
MA – Não. Isso era uma ilusão. Fui con-
trário a isso na época. Fazer profecia do
passado é fácil, mas escrevi isso no livro
“Década perdida”, publicado no final de
2012. Quase fui linchado. Inventaram a
história da Classe C, que nunca exis-
tiu. A população estava na favela, tinha
uma televisão belíssima, mas nunca saiu
do lugar. Continuava tendo esgoto cor-
rendo a céu aberto. Tivemos uma ilusão
de consumo momentânea, mas a escola
continuava um horror, não tinha creche,
a estrutura de estado não funcionava.
Foi um grave equívoco. Expandir o con-
sumo pelo credito é irresponsabilidade.
•




