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nômico de setores que estavam estabele-
cidos, por exemplo, a música gravada. A
indústria da música era um setor que pa-
recia muito poderoso e, de repente, por
uma mudança no modo de transmissão
de conteúdos digitalizados de música, se
viu mudando todo o conceito anterior.
Isso provoca uma nova forma de conce-
ber e de pensar os negócios.
BP: Qual é a principal característica des-
sas novas tecnologias?
EGF: Ela altera o modo de vida das pes-
soas e o próprio modo de produção da
sociedade. Se formos pensar no Google
e no Uber, eles são intermediários, ou
seja, não estão nem na ponta da produ-
ção e nem agregando valor aos bens de
serviço de forma tangível. O que eles dis-
seminam e distribuem são possibilidades
de encontrar uma certa demanda. Para
mim, esta é uma das características mais
marcantes e curiosas dessas novas tecno-
logias.
BP: Pode-se dizer que estes são os atra-
vessadores do antigo mercado?
EGF: Sim, essa é a palavra exata para
defini-los. Eles se colocam exatamente
no ponto crítico da atividade econômica
que é a possibilidade da oferta encontrar
a demanda. A Google praticamente não
produz uma linha de conteúdo, no entan-
to, é por meio deles – do site e do meca-
nismo de busca – que tem oferta (conte-
údo) encontrando quem precisa, ou seja,
a demanda. Porém, isso está esmagando
o produtor. A receita de publicidade da
Google, hoje, supera os grandes impérios
da mídia de comunicação – que, no caso,
são os produtores de fato destes conteú-
dos reproduzidos pela empresa.
BP: Você acredita que ainda podemos ter
mudanças no futuro, diante deste cená-
rio?
EGF: Acredito que sim, pois a situação
ainda está muito fluida. Estas empresas
de tecnologia são analisadoras. Porém, o
próprio produtor dos conteúdos não con-
segue se beneficiar disso. Ele acaba sen-
do espremido, mas, por outro lado, nada
acontece na cadeia sem ele. Hoje, está
muito dinâmico e as tecnologias abrem
portas para a criação de outras novas tec-
nologias, virando um ciclo sem fim.
BP: E podemos ver esse cenário sem fim
também na economia e no mercado de
trabalho, por conta destas tecnologias?
EGF: Sim. Hoje, a última onda desse
processo é a inteligência artificial, que já
começa a substituir profissionais qualifi-
cados em setores que demandam conhe-
cimento. Por exemplo, os advogados. Já
existe um mecanismo em que você colo-
ca as informações em uma máquina e ela
te dá o parecer sem precisar passar por
um profissional. Pelos testes e experiên-
cias que estão sendo feitos, os resultados
desse parecer são mais confiáveis do que
os pareceres dos seres humanos. Prova-
velmente, estramos em uma espécie de
revolução permanente das tecnologias.
BP: Quais profissões estarão mais amea-
çadas por essa nova revolução tecnológi-
ca?
EGF: Além dos advogados, como dito
anteriormente, os próprios jornalistas.
Aquele jornalismo analítico e investigati-
vo, não. Mas a notícia padrão, sim. A área
da medicina também prevê mudanças. Os
médicos já começam a ser substituídos
por máquinas. Você coloca os resultados
dos exames em uma máquina dotada de
inteligência artificial e ela te fala o diag-
nóstico do paciente, de forma, por vezes,
bem mais confiável. Outra profissão que
pode estar com os dias contados é a de
motorista. Em questão de anos, carros
que não precisarão mais de um motorista
se tornará uma realidade. De modo ge-
ral, profissões liberais que estavam muito
estabelecidas começam a ficar duvidosas
com relação ao futuro.
BP: Diante do cenário que vivemos hoje,
como você enxerga a economia e o Brasil
para o próximo ano?
EGF: Com relação à economia, eu acre-
dito que iremos sair da recessão, mas é
uma recuperação muito lenta e tímida,
e ainda está sujeita a retrocesso, visto o
agravamento da incerteza política. O que
eu considero o fator central da atualida-
de da vida pública é a Operação Lava
Jato. Ela está escancarando aos olhos da
sociedade brasileira o grau que chegou
nosso estado patrimonialista, em que os
governantes usam o poder para se per-
petuar nele e o segmento do setor pri-
vado usa um acesso privilegiado a estes
governantes para encontrarem atalhos de
enriquecimento sem passar pelo ciclo de
mercado. E eu vejo com bons olhos esse
escancaramento da realidade, pois nos dá
a oportunidade de correção. É uma con-
dição necessária para que o Brasil possa
refundar a sua convivência democrática
e possa corrigir as enormes soluções que
transformam nossa economia em uma
caricatura de economia de mercado. A
resposta para isso virá nas eleições de
2018, em que a sociedade brasileira será
chamada para se manifestar sobre tudo o
que ela descobriu. O país hoje passa por
um doloroso processo de autoconheci-
mento.
BP: Como este cenário atual de modelos
disruptivos interfere na economia brasi-
leira com relação ao crescimento das em-
presas, principalmente para o mercado
de crédito e cobrança?
EGF: Todos os indicadores convergem
que saímos de uma situação de quase
queda livre que estávamos há um ano
atrás. As melhores notícias para esse se-
tor são: a geração de empregos na eco-
nomia, a recuperação da renda, e o pro-
cesso de estagnamento patrimonial das
famílias das empresas brasileiras. Porém,
infelizmente, uma recuperação mais con-
tundente terá que esperar os próximos
capítulos e os resultados das eleições.
Mas, de um modo geral, acredito que
os mercados financeiros atravessaram o
período de grave depressão e incerteza
de uma forma razoavelmente serena,
sem maiores atribulações, ao contrário de
outras crises – o que foi positivo para o
país.
•
ENTREVISTA




