
Para CEO do maior banco privado do país, eleições podem ampliar volatilidade e crédito deve crescer em ritmo moderado
O CEO do Itaú Unibanco, Milton Maluhy Filho, afirmou que o banco ainda está trabalhando no seu orçamento para 2026 e não deu muitos detalhes sobre o que esperar do desempenho da instituição. Ainda assim, sobre o cenário macroeconômico, comentou que a atividade deve crescer menos e a Selic deve cair, com um primeiro corte de 0,25 ponto em janeiro. E que ano de eleição presidencial tradicionalmente gera uma dose maior de cautela.
“Não estamos tendo dificuldade de encontrar oportunidades de crescer, especialmente nos segmentos de clientes que entendemos que são resilientes em um ciclo mais longo. O banco nunca esteve tão preparado para enfrentrar os cenários, quaisquer que sejam. Essa capacidade de reação vale para os dois lados, seja para encontrar oportunidades e acelerar, ou seja se acharmos que é o momento de ser mais cauteloso. O balanço do banco está muito protegido, em nível de provisionamento de crédito, capital, liquidez. Isso nos dá segurança de enfrentar qualquer cenário”, comentou.
O executivo comentou ainda sobre as perspectivas para a corrida eleitoral. “Ano que vem, de fato, é um ano de eleição, é um ano que pode trazer alguma volatilidade para os mercados”, afirmou. “É evidente que, num cenário de juros mais altos, num cenário de mais incerteza, todos operam com um nível de cautela um pouco maior.” Segundo ele, o banco não projeta crescimento acelerado da carteira de crédito em 2026. “Especialmente num ano como 2026, com incerteza, eu posso garantir para vocês que a gente não vai vir aqui mostrar uma carteira crescendo 15%, que é o dobro do que a gente deve crescer este ano.”
A referência aos 15% é porque na sua reunião anual com investidores, em setembro, o banco disse que com os ganhos esperados no varejo, tanto de pessoa física como de pequenas e médias empresas (PMEs), pode dobrar sua carteira nesse segmento até 2030. Para chegar a 100% de expansão em cinco anos, teria de crescer 18,5% ao ano a partir de 2026. Ontem, Maluhy deixou claro que isso não é um guidance. “É algo mais aspiracional, uma ambição, que seria atingida se tudo caminhasse à perfeição. Dá para fazer? Dá, mas depende de ‘n’ ciscunstâncias, do ambiente macro, da execução do nosso plano, de eventuais mudanças na proposta de valor. Nós somos nós e nossas circunstâncias. Se não der para dobrar a carteira porque as circunstâncias não permitiram, não vamos sofrer por isso.”
Segundo ele, o banco mantém a ambição de continuar crescendo no varejo, mas com disciplina na gestão de risco. “É evidente que tem um cenário de maior incerteza no ano que vem, e a gente jamais vai colocar a ambição, a aspiração na frente de uma boa gestão de risco e alocação de capital”, disse. O executivo afirmou que o banco está preparado para enfrentar possíveis turbulências. “A gente tem uma tradição de navegar bem em mares turbulentos se, de fato, eles se manifestarem. E eu acho que o nosso portfólio nunca esteve tão preparado para enfrentar qualquer que seja o desafio.”
“A gente tem uma tradição de navegar bem em mares turbulentos se, de fato, eles se manifestarem”
— Milton Maluhy
Com um nível de capital principal de 13,5%, acima do apetite de 11,5% definido pelo conselho de administração, Maluhy foi questionado novamente sobre os dividendos. Ele já vem dizendo que, tudo mais constante, deve ser anunciado um novo dividendo adicional no início do ano que vem. “Nossa política de dividendos não mudou”, disse.
Ele também foi questionado sobre uma fala do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que disse haver uma pressão dos bancos para que o BC não corte a Selic. “Existe uma percepção equivocada de que bancos preferem taxas de juros elevadas”, disse Maluhy, ressaltando que todos gostariam de uma taxa de um dígito. Ele lembrou que juros altos por muito tempo fazem a inadimplência subir e afetam a capacidade dos bancos de crescer a carteira de crédito.
“Juro é sintoma, não causa. Ele tem o objetivo de evitar que a inflação suba e passe a ser um imposto regressivo, que afeta as classes menos favorecidas.”
O CEO do Itaú terminou a teleconferência com analistas afirmando que os resultados do bancos são construídos com muita humildade. “A gente tem plena convicção que os resultados são sólidos, que o retorno é muito forte, mas a gente também tem muita consciência dos desafios que vêm pela frente. Em nenhum momento eu quero que fique a sensação de que existe uma acomodação, porque não existe”, afirmou.
Segundo ele, a gestão se cobra muito, o tempo todo, para fazer melhor, buscando encantar o cliente. “Nossa capacidade hoje de competir em qualquer nicho, em qualquer mercado, em qualquer segmento, nunca foi tão forte. Estamos muito entusiasmados com o que tem de oportunidade pela frente.”
Maluhy voltou a dizer que a visão do Itaú é de longo prazo e que não vai hipotecar o futuro. “Não vamos tomar decisões de curto prazo para que os resultados do próximo trimestre sejam um pouco melhor do que as expectativas. A gente acha que correções na ação têm de ser estruturais, ação não sobre no grito, sobe com consistência e qualidade [nos resultados].”
Os analistas destacaram os resultados consistentes e a rentabilidade bastante elevada do Itaú no terceiro trimestre. Ainda assim, o Citi aponta para a pressão sobre as despesas operacionais. “Essa pressão, em nossa opinião, reflete uma nova realidade dos bancos brasileiros, que precisarão continuar investindo em tecnologia para se manterem competitivos, enquanto, no caso do Itaú, o índice de eficiência permaneceu sob controle. No geral, o Itaú demonstrou uma capacidade bem-vinda de entregar rentabilidade consistentemente alta.”
Na avaliação da XP, o resultado do trimestre destaca a resiliência estrutural do Itaú e a execução disciplinada do guidance. “Continuamos vendo o Itaú como um player diferenciado, entregando resultados consistentes e previsíveis mesmo em um ciclo de maior incerteza.”
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