
Para Samuel Garson, recém-empossado presidente da Anfidc, avanço dos FIDCs representa também uma mudança de paradigma no crédito brasileiro, historicamente concentrado nos grandes bancos
Os fundos de investimento em direitos creditórios (FIDCs) atravessam uma fase de expansão acelerada e consolidação no mercado. Segundo dados da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o patrimônio líquido da indústria já ultrapassa R$ 810 bilhões, e a expectativa é que alcance R$ 1 trilhão em breve.
Para Samuel Garson, recém-empossado presidente da Associação Nacional dos FIDCs (Anfidc), a combinação de novas regras da Resolução CVM 175 com a entrada gradual do investidor pessoa física tem potencial para expandir a classe e colocar o FIDC “entre as vedetes” do crédito brasileiro. “O ambiente regulatório amadureceu, há transparência e a porta para o investidor de varejo está se abrindo.”
Desde que a resolução CVM 175 entrou em vigor, em outubro de 2023, pessoas físicas passaram a poder investir em FIDCs. A maior parte do capital vem de investidores institucionais, que compram cotas subordinadas em busca de retornos mais altos. Essas cotas funcionam como uma espécie de amortecedor de risco, uma vez que são as primeiras a absorver eventuais perdas da carteira e, por isso, oferecem remuneração maior.
No primeiro momento, os FIC-FIDCs, fundos que investem em cotas de FIDCs, podem ser uma porta de entrada mais comum para o investidor final, funcionando como uma vitrine do setor. “O investidor vai conhecer o produto aos poucos, ver a rentabilidade e a segurança; com o tempo, passará a investir direto nos FIDCs.”
Segundo o executivo, a taxa média de perdas do mercado de FIDCs é pequena, entre 1,5% e 3% ao ano. Um dos elementos dessa segurança é a presença das cotas subordinadas, que amortecem perdas para as cotas seniores (as que o investidor pessoa física pode investir). Garson comenta que, em média, cerca de 33% do capital de um FIDC é composto por cotas subordinadas, que absorvem eventuais inadimplências. Assim, um fundo de R$ 100 milhões teria pouco mais de R$ 30 milhões destinados exclusivamente à cobertura de perdas, o que, segundo ele, garante conforto adicional ao investidor. “Mesmo nos momentos mais críticos, o investidor mantém a rentabilidade contratada e dificilmente vê o valor de face se deteriorar”, ressalta.
Garson lembra ainda que a maior parte dos FIDCs tem estrutura multicedente e multisacado, o que aumenta a exposição entre diferentes empresas e setores e, assim, reduz o risco de concentração. “Os regulamentos limitam o percentual de concentração por cliente, o que impede desequilíbrios. Os fundos com essa estrutura têm diversos recebíveis pulverizados. Isso praticamente elimina o risco de uma quebra relevante”, afirma.
“Durante muito tempo o FIDC foi o patinho feio do mercado. Era uma aplicação pouco conhecida, com estrutura complexa e limitada a investidores institucionais. Hoje, virou o cisne: é o instrumento mais completo e transparente para dar crédito e captar recursos.”
Para o novo presidente da Anfidc, o avanço dos FIDCs representa também uma mudança de paradigma no crédito brasileiro, historicamente concentrado nos grandes bancos. “O papel do FIDC é desbancarizar. Ele leva crédito principalmente para pequenas e médias empresas, que são a base da economia brasileira”, argumenta.
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