
Itaú, Bradesco e Santander expandem carteiras de crédito à habitação; financiamento de longo prazo é uma forma de fidelizar cliente
Apesar da escalada da Selic a 15% ao ano, os três maiores bancos privados do Brasil avançaram no financiamento à habitação no terceiro trimestre, sendo uma das linhas que mais cresceu nas carteiras no período. Em meio à entrada do novo modelo do governo para esses financiamentos, as instituições financeiras sinalizaram a intenção de implementar estratégias mais agressivas para ampliar a participação em um mercado dominado pela Caixa.
Juntos, Itaú Unibanco, Bradesco e Santander expandiram a carteira de crédito imobiliário à pessoa física para R$ 321 bilhões, um salto de 13,5% ante a igual período do ano passado.
A expansão foi bem mais rápida que a da carteira de pessoa física como um todo, que cresceu 7,5% no período, para R$ 1,15 trilhão. Os juros restritivos impuseram uma postura um pouco mais seletiva na concessão de empréstimos, com preferência por linhas seguras, com garantias, como o consignado e o financiamento imobiliário, que ajudam a preservar a qualidade dos ativos.
Embora sensível à taxa básica, a linha imobiliária é considerada um instrumento importante para fidelizar clientes em um produto de prazos longos, além do banco ter a garantia do imóvel. O objetivo é estimular a principalidade, ou seja, fazer com que o usuário tenha determinado banco como instituição prioritária para as transações cotidianas.
“É uma forma dos bancos tradicionais de tentarem reter clientes, porque é um contrato de prazo muito longo”, explica o analista Gustavo Schroden, do Citi. “O cliente até pode pedir a portabilidade, mas não é algo tão trivial de se fazer”.
Expectativa de crescimento à frente
Entre os privados, o Itaú chegou a 47% de participação no segmento, com aumento de 15% na carteira em 12 meses, para R$ 137 bilhões. De janeiro a setembro, a instituição financeira originou R$ 24 bilhões nessa frente, um incremento anual de 24%.
“Estamos com 47% em um produto que é muito relevante para o relacionamento com o cliente e para a visão de longo prazo e em uma carteira em que temos, estruturalmente, um saldo de poupança maior entre os privados”, afirmou o CEO do Itaú, Milton Maluhy Filho, na teleconferência com analistas.
Em entrevista ao Estadão/Broadcast, o diretor de Estratégia Corporativa, RI e M&A Proprietário do banco, Renato Lulia, afirmou que o objetivo é manter o desempenho forte do imobiliário no próximo ano. “Temos uma base de funding e um balanço que nos permitem crescer mais que os concorrentes”, ressaltou.
O discurso é semelhante ao adotado pelo Santander, que teve alta de 9% no portfólio imobiliário de pessoa física na comparação anual, para R$ 71,8 bilhões. O produto foi um dos principais destaques em uma carteira de pessoa física que caiu 0,7% na mesma base comparativa, para R$ 249 bilhões. “O imobiliário é um dos pontos de destaque do nosso desempenho do último trimestre e eu acredito que vai continuar sendo pelos próximos”, declarou o CEO, Mario Leão.
O Bradesco registrou alta anual de 14,5% da carteira imobiliária para pessoa física, que fechou setembro em R$ 11,99 bilhões. Já na comparação trimestral, o banco desacelerou o ritmo de expansão para preservar a margem, enquanto caminha em um plano estratégico de cinco anos que visa elevar o retorno sobre o patrimônio (ROE) para a faixa entre 15% e 20%, de 14,7% atualmente.
O CEO do Bradesco, Marcelo Noronha, disse ver oportunidades para voltar a colocar o pé no acelerador no ano que vem, com apoio do esperado corte de juros. “Vocês vão ver isso mais para o fim do ano, no início de 2026, que vamos para cima, decolando”, afirmou. “Temos demanda e capacidade de voltar a crescer e vamos voltar a crescer”, acrescentou.
Para os próximos anos, os banqueiros demonstram confiança nos efeitos do novo modelo de crédito imobiliário, anunciado pelo governo no mês passado. A iniciativa visa reestruturar as normas de mobilização dos recursos da poupança para a habitação. Leão, do Santander, afirmou que o banco recebeu “positivamente” as medidas. “O imobiliário é um destaque em nossa performance e vai continuar sendo”.
“O Bradesco considera o pacote de medidas como um ponto de partida importante para as necessárias modernizações do sistema de financiamento imobiliário”, afirmou Noronha.
Entre as medidas, a exigência de direcionamento de 20% para compulsórios será eliminada gradualmente, a fim de permitir que bancos apliquem os recursos em operações mais rentáveis, desde que mantenham volume equivalente de crédito imobiliário por outras fontes.
Para a Fitch, as medidas beneficiarão instituições mais diversificadas. “Os grandes bancos devem consolidar as vantagens associadas à diversificação e à escala, enquanto as instituições menores enfrentarão maior dependência de captações no mercado e margens mais estreitas”, analisa.
Seguro habitacional aquecido
O aquecimento no setor ajudou, inclusive, a Caixa Seguridade a se destacar em relação ao seu principal par na B3, a BB Seguridade. A holding da Caixa emitiu R$ 1 bilhão em prêmios de seguros de habitação no terceiro trimestre, alta anual de 10,2%. Com a residencial, a linha ajudou a estabilizar a arrecadação da BrasilSeg, que amargou tombo de 36% na prestamista, vulnerável ao ciclo de aperto no crédito.
A habitação atua como importante mecanismo anticíclico para as seguradoras, por conta do caráter de empilhamento: a receita vem tanto de novos financiamentos como de apólices contratas anteriormente com contratos vigentes. Assim, entrega um fluxo arrecadatório constante. O produto também ganhou força na carteira da BB Seguridade, mas tem participação limitada no total da empresa, bem mais exposta ao castigado agronegócio.
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