
Para Confederação Nacional do Comércio, endividamento deve frear consumo brasileiro em 2014
Por: Carlos Thadeu de Freitas Gomes e Marianne Hanson
Dados disponíveis revelam que 2013 foi um ano de menor crescimento no consumo das famílias brasileiras. As vendas do comércio varejista, que apresentaram um crescimento médio de 7,9% entre 2004 e 2012, expandiram-se apenas 4,7% em 2013 e devem ficar ao redor de 6% neste ano. Apesar de ser ainda satisfatório, o resultado representa uma forte desaceleração em relação à tendência observada até 2012. O bom crescimento do comércio varejista a partir de 2004 veio de uma conjunção de fatores favoráveis – entre eles, o fortalecimento do mercado de trabalho e do crédito. Entre 2004 e 2012, a massa de rendimento dos trabalhadores das regiões metropolitanas brasileiras avançou 62% em termos reais e o saldo de crédito do Sistema Financeiro Nacional passou de 25% para 55% do PIB. No pós-crise até 2012, as políticas anticíclicas de incentivos ao crédito e ao consumo intensificaram esses efeitos.
No entanto, esses dois motores de crescimento já dão sinais de arrefecimento. Muito embora o mercado de trabalho continue aquecido e a taxa de desemprego tenha se estabilizado nos seus níveis históricos mais baixos, o ritmo de geração de postos de trabalho se reduziu consideravelmente. A renda real do trabalho também cresce menos, tanto por meio da redução dos reajustes salariais quanto pelo aumento do nível dos preços. Finalmente, o mercado de crédito cresce em ritmo mais moderado. Ou seja: a demanda doméstica seguirá em processo de ajuste em 2014. Ainda que já seja possível notar um encarecimento do crédito, os saldos das operações para pessoas físicas continuam crescendo mais do que a renda. Logo, o endividamento das famílias está subindo. Dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor, da Confederação Nacional do Comércio, mostram que 63% das famílias relatavam ter dívidas em 2013 – 7,6% a mais que em 2012. Felizmente, houve uma mudança no perfil das dívidas. Segundo a pesquisa, mais famílias afirmaram ter dívidas no crédito consignado, no financiamento de carro e no financiamento de casa. São modalidades de menor risco, com juros mais baixos e prazos mais longos. Essa melhora no perfil do endividamento possibilitou a redução do comprometimento médio da renda mensal, o que manteve a inadimplência em queda. Em 2012, 30% da renda das famílias estava comprometida com dívidas. Em 2013, o percentual já havia caído para 29,3%.
Mesmo assim, a manutenção da tendência de alta do endividamento das famílias, combinada com uma moderação no ritmo do consumo, traz uma consequência importante para o cenário econômico de curto prazo: a perda de espaço para a expansão do crédito. É claro que a renda ainda se situa em um patamar elevado. Mas, com o alongamento dos prazos das dívidas, as famílias deverão continuar com poder de compra limitado por algum tempo.
Um endividamento elevado, somado ao encarecimento do crédito e de ganhos menores de renda, forma um cenário menos positivo para a inadimplência em 2014. As famílias não só demandarão menos crédito como também encontrarão condições mais difíceis para obter novos financiamentos e renegociar dívidas antigas.
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