Segundo mandato da presidente Dilma Rousseff apresenta situações e combinações inusitadas na história recente da nossa democracia.
Temos a presidente e seu ministro Joaquim Levy isolados com menos de dois meses de governo. Convivem mas não convencem como companheiros. É resultado de um “casamento” arranjado e imposto pela conjuntura política e econômica.
Como se isso não fosse suficientemente grave, também enfrentam sérias dificuldades com o Legislativo e a sociedade, que rejeitam a conta a pagar pelo desatino e a aventura da presidente e de sua equipe de primeiro mandato.
Convivem como se a queda de um não fosse a desgraça do outro e, por conseguinte, do País.
Até agora, o que Levy conseguiu foi transferir a parte considerável do ajuste para a sociedade. Seja por aumentos que penalizam empregadores e geram desemprego ou por meio de reajuste dos preços administrados.
Medidas duras e acertadas, mas Levy não avança nos cortes do governo e ainda se vê limitado por um verdadeiro cordão de isolamento patrocinado pela presidente. É como uma criança no chiqueirinho, que tem seu espaço delimitado e sua capacidade de ação definida pelo outro.
Não à toa, Dilma cercou seu principal ministro por figuras que ele certamente quereria ver longe.
A Caixa foi entregue a Miriam Belchior, o BNDES permaneceu com Luciano Coutinho, o Banco do Brasil, com Alexandre Abreu, a Petrobras, com o desconhecido Aldemir Bendine, e o Planejamento, com Nelson Barbosa, o ministro da Fazenda sonhado por petistas. Todos têm em comum a fidelidade ao projeto de poder do PT.
Não bastasse essa restrição, Levy paga o preço, que sobe cada vez mais, de ter aceito ser ministro de Dilma após uma campanha acirrada em que participou da equipe econômica responsável pelo projeto do adversário da presidente: Aécio Neves. Os tucanos mantém um certo estranhamento em relação ao economista agora a serviço do governo Dilma.
E Dilma continua a agir como a presidente do primeiro mandato. Não perde a oportunidade de chamar a atenção em público de um ministro da importância de Levy.
Discute a situação das empreiteiras e dos bancos públicos com seus fiéis escudeiros do BB, da Caixa e da Petrobras, mas deixa seu ministro da Fazenda de fora. Numa clara exposição pública de falta de espaço de Levy.
Dilma abre o flanco para o cidadão Lula, que, talvez, seja hoje o principal sabotador do seu governo. Ele mantém reuniões frequentes com parlamentares do PT e do PMDB e faz vazar suas recriminações ao governo e a Dilma.
Tomou para si a coordenação política do PT. Em um ato a favor da Petrobras, no Rio, convocou o “exército” de Stédile (o sem-terra) a ocupar as ruas, causando mais prejuízo ao governo, que continua imobilizado, e levando a sociedade a um nível mais alto de exacerbação.
Se apresenta como interlocutor do PMDB e reivindica em nome desse partido ações junto a Dilma, desqualificando os escolhidos pela presidente para seu primeiro escalão do governo.
Ao mesmo tempo, busca retomar espaço com as organizações sociais que em comum apresentam fortes traços de atraso político, um campo fértil para expor suas ideias. É o cidadão Lula trabalhando para si próprio com vistas a 2018.
Curiosamente, o cidadão Lula não se mostra tão capaz de levar seu partido a apoiar o ajuste fiscal proposto por Dilma com seu aval. Um sinal de fraqueza? Não. É a postura clássica do agente duplo.
O partido que se acostumou com as benesses e regalias de anos anteriores, agora parece fazer beiço para aprovar as medidas duras preconizadas pelo seu governo.
A vida do ilhéu Levy, parece ficar cada dia mais difícil. A credibilidade, conquistada ao longo da carreira, que hoje empresta ao governo, começa a ser enfraquecida com o desgaste para a aprovação do ajuste da economia.
O ministro deve se manter alerta. Exemplos de comportamento recente do PT não deixam dúvida. A culpa de um eventual desastre do governo será atribuída a seu trabalho. Cai bem ao partido acusar alguém cuja formação e imagem estão alinhadas com a matriz econômica da oposição. No limite, sua derrota servirá para desqualificar todos aqueles que defendem as mesmas teses. Não permita que isso ocorra, ministro. Saia antes.
Manoel Francisco Pires da Costa é diretor-presidente do Diarionet Comunicações.
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