
Por: Felipe Marques
Se o crédito varia regionalmente, sua face mais inglória, a inadimplência, não poderia deixar de se distinguir também. Embora o Norte e o Nordeste tenham perdido para o Centro-Oeste a liderança em termos de crescimento de crédito, essas regiões mantêm a “pole position” em calotes. Enquanto a taxa média nacional de inadimplência foi de 3,68% em janeiro, no Norte, o indicador foi de 4,43%. No Nordeste, os calotes cravaram 4,25%. Na ponta oposta, o Sul registra atrasos de 2,99%.
A evolução regional da inadimplência, porém, sinaliza um cenário mais favorável para o crédito como um todo. Em janeiro, o indicador recuou na maior parte do país. Em relação a dezembro, a maior queda da inadimplência foi observada no Centro-Oeste (0,07 ponto percentual), seguido por Norte (0,03) e Sudeste (0,01). No Nordeste, permaneceu estável. Já no Sul, subiu 0,01 ponto percentual.
Os bancos dão algumas pistas para explicar as diferenças regionais de inadimplência. O Banco do Brasil, por exemplo, destaca a concentração de pequenas e médias empresas na região Nordeste. Como são mais vulneráveis a variações de ciclos econômicos – e abrem e fecham com mais velocidade – têm taxas de inadimplência maiores.
As diferenças de renda entre as regiões e a maior presença de novos tomadores de crédito também são elementos que explicam o comportamento distinto do calote entre as regiões. Embora tenham evoluído nos últimos anos, os indicadores de renda das famílias do Nordeste e do Norte seguem abaixo da média nacional. Com a renda mais apertada, a capacidade de pagamento das dívidas também é mais facilmente comprometida.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) referentes a 2011 mostram que, no país, o rendimento real médio per capita por mês era de R$ 879. No Norte, R$ 640. No Nordeste, ainda menor: R$ 557. O Centro-Oeste apresenta o maior valor entre todas as regiões: R$ 1,1 mil.
Na visão de Gilberto Abreu, do Santander, a inadimplência mais alta no Norte e Nordeste tende a melhorar com o tempo e diminuir a distância para as outras regiões. Ele afirma que há dois componentes que influem nos calotes daquelas regiões específicas. Primeiro, tanto no Norte como no Nordeste a chegada de novos tomadores ao sistema financeiro foi muito acentuada e, em alguns casos, resultou em um endividamento acima do que as famílias puderam suportar. “Isso é algo que deve melhorar no curto prazo, tanto pelo aprendizado do tomador quanto pelo do banco, na hora de conceder crédito.”
O segundo componente, na visão de Abreu, é mais estrutural e está relacionado à maior desigualdade social. Portanto, deve levar um tempo maior para ser solucionado. “São questões de renda e da estrutura da economia local que fazem da taxa naturalmente mais alta. Esse pontos estão evoluindo positivamente nos últimos anos, o que ajuda na redução da inadimplência”, diz.
As diferenças entre as atividades econômicas de cada região se refletem também na inadimplência de empresas, diz Fernando Freiberger, diretor do “corporate banking” do HSBC. “Há uma série de casos de empresas que, embaladas pelo boom da economia depois da crise de 2009, fizeram planos ambiciosos de investimentos para os anos seguintes. Só que esse crescimento não veio e hoje o esforço é para reestruturar essas dívidas”, afirma.
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