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30 de novembro de 2025 - 12:12

‘Até aqui não sabemos o tamanho do impacto’, diz presidente do Bradesco sobre liquidação do Master-televendas-cobranca-1

Marcelo Noronha descarta, porém, risco sistêmico ao sistema financeiro por conta da liquidação do banco de Vorcaro e afirma que ‘mercado funcionou sem problemas’

O presidente do Bradesco, Marcelo Noronha, descarta risco sistêmico por conta da liquidação do Banco Master, mas diz que é preciso esperar para saber os efeitos e as lições que ficarão da liquidação do banco. “Até aqui, não sabemos o tamanho do impacto. Hoje, tudo é especulação”, diz, em entrevista ao Estadão/Broadcast, durante evento do Bradesco BBI, em Nova York.

Perto de completar dois anos à frente do Bradesco, o banqueiro afirma que sua gestão avança “step by step”. Na área de tecnologia, o banco deu um salto triplo e hoje realiza em horas o que antes levava semanas.

Além disso, passou a focar linhas de crédito com mais garantia e rentabilidade sustentável, enquanto criou ou reforçou novas áreas, como o segmento Principal, voltado a clientes de renda mais alta, cuja meta é atingir 300 mil correntistas neste ano e 800 mil em 2026.

Em relação à questão macroeconômica, Noronha diz que, seja qual for o novo governo eleito em 2026, será preciso fazer o dever de casa na política fiscal. “Não se trata deste ou daquele governo; é um desafio estrutural para o Brasil há muitos mandatos. Precisamos avançar bem mais na política fiscal para garantir crescimento econômico de longo prazo acima de 3% e estabilizar a relação dívida/PIB”, diz.

A seguir, os principais trechos da entrevista:

O desfecho do Banco Master, com a liquidação extrajudicial, representa algum risco sistêmico ao sistema financeiro nacional?

Do ponto de vista de risco sistêmico, é nulo. O mercado funcionou sem problemas.

Qual a lição que o Master deixa para o mercado, por ter crescido muito em cima do marketing da proteção do FGC?

Precisamos esperar, porque, quando há um processo de liquidação, o Banco Central vai indicar quem irá conduzir o processo e olhar para os números. Todo mundo fala do passivo. E o ativo? Quanto há para receber? Temos de esperar para saber qual será o tamanho do eventual descasamento de ativos e passivos pelo liquidante/BC e da cobertura pelo FGC formalmente. A regulação do FGC prevê determinados tipos de cobertura, mas o fundo pode decidir por liquidez em prazos e instrumentos distintos. Até aqui, não sabemos o tamanho do impacto. Hoje, tudo é especulação.

O senhor está prestes a completar dois anos na presidência do Bradesco de um plano de cinco anos. Qual a sua avaliação dos resultados até agora?

A avaliação é positiva. Temos entregado o que nos comprometemos, “step by step”. Crescemos três vezes as aplicações tecnológicas, mas não aumentamos o investimento e a estrutura na mesma proporção. Ganhamos produtividade, reforçamos o time e o que empurra os negócios são as ferramentas próprias de GenAI — inteligência artificial generativa. Isso é uma revolução colossal. O que antes entregávamos em uma semana, hoje, estamos fazendo em horas. Também incrementamos a equipe de crédito em mais de 200 pessoas.

E quanto ao Principal, o novo segmento para clientes de renda mais elevada?

Vamos terminar este ano com 62 escritórios e cerca de 300 mil clientes. E miramos 800 mil clientes no fim do ano que vem. Já no Prime, vamos para mais de 4 milhões de clientes no ano que vem.

O que está faltando?

Continuar entregando. O resultado do último trimestre encostou bem no custo de capital. Em algum momento dos próximos três anos, vamos superá-lo. O foco é ganhar competitividade no curto e longo prazos, rentabilidade e fidelização muito maiores. Isso não acontece da noite para o dia, mas com o tempo. O segmento de pequena e média empresa é o que mais vai crescer no Brasil até 2028.

Qual tamanho o Bradesco quer ter neste mercado?

O banco não vai comprar market share e não ter rentabilidade. Queremos ser líderes e vamos brigar, e pode ser luta livre, boxe, jiu-jítsu. Estamos entregando experiências melhores, um gerenciamento diferente de risco de crédito e implementamos um novo app, começando pelas pequenas empresas e vamos avançar para as médias ao longo do próximo semestre.

Quando o Bradesco vai voltar a ter a rentabilidade do passado?

Com o tempo. Eu não faço promessas; eu entrego. Não abro mão de aumentar a competitividade. Quero deixar este banco em um nível de competitividade brutal, à frente, como já vemos em tecnologia.

As operações nos EUA já estão neste patamar?

Estão decolando cada vez mais. Estamos fazendo uma transformação tal qual no Brasil.

Qual a percepção do investidor estrangeiro em relação ao Brasil?

Investidores estrangeiros estão mais animados com o Brasil diante da perspectiva de início da queda dos juros em 2026. Eles perguntam sobre os juros, o horizonte de inflação e se o mercado de ações vai voltar. A Bolsa já subiu mais de 30% apenas com essa expectativa. Em ano de eleição, a volatilidade deve crescer, sobretudo no segundo semestre. O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro tende a desacelerar, mas vem surpreendendo nos últimos anos. Em um almoço em Nova York, empresários brasileiros afirmaram que esperam ampliar seus lucros. A economia segue resiliente, com desemprego baixo. O País, porém, tem peculiaridades como o crédito direcionado, que limita a política monetária. Esse é o nome do jogo.

E a eleição no Brasil? Eles perguntam? Quão preocupados estão os estrangeiros?

Perguntam, mas não temos uma resposta. Deve ser uma eleição disputada. Não será uma eleição simples para quem quer que seja. Agora, não sabemos nem quem serão os candidatos. Não dá para fazer apostas. Ainda é cedo. O governo em vigor tem sempre uma posição diferenciada, e a temperatura da economia vai dizer muito. Temos de aguardar.

Qual será a pauta obrigatória de quem vencer a eleição de 2026?

É preciso fazer o dever de casa na política fiscal. Não se trata deste ou daquele governo; é um desafio estrutural para o Brasil há muitos mandatos. Precisamos avançar bem mais na política fiscal para garantir crescimento econômico de longo prazo acima de 3% e estabilizar a relação dívida/PIB. Ao fazer isso – que não é nenhum milagre – veremos um País muito mais resiliente, com juros mais baixos e expansão mais perene por um período mais longo. Esse desafio, porém, cabe a qualquer governo.

O senhor sempre foi um dos executivos mais vocais na questão da urgência fiscal. Qual é a sua visão da atual política fiscal?

Temos desafios na política fiscal. O ministro (Fernando) Haddad tem consciência do desafio que tem. Acho que o governo entrega a meta fiscal neste e no próximo ano. Mas, para a frente, há sustentação dessa dívida pública/PIB. Temos de estabilizá-la. Esse é o grande desafio do Brasil.

Existem caminhos para enfrentar o desafio fiscal estrutural, estabilizar a dívida e sustentar um crescimento perene por anos para que o Brasil não tenha soluço

E se nada for feito no próximo governo, o Brasil corre risco de enfrentar uma crise fiscal?

Não vejo o mundo se acabando; muitas vezes, as mudanças surgem justamente da pressão. Há espaço para um ajuste fiscal, mas é preciso vontade política. E não apenas do Executivo: a ação deve ser combinada com o Legislativo. O Brasil precisa fazer. Quais botões apertar? Existem caminhos para enfrentar o desafio fiscal estrutural, estabilizar a dívida e sustentar um crescimento perene por anos para que o Brasil não tenha soluço.

Qual a sua avaliação sobre a decisão do presidente Donald Trump de isentar mais de 200 produtos brasileiros da sobretaxa de 40%?

Foi uma ótima notícia a decisão dos Estados Unidos de eliminar a sobretaxa dos produtos brasileiros. O Brasil e os Estados Unidos são dois parceiros históricos e podemos retomar a normalidade das relações comerciais. Todos ganham com a medida.

Com a expectativa do início da queda da Selic, o apetite de risco de crédito do banco aumenta?

Não. Tomamos a decisão de buscar melhor qualidade em nossos ativos. Por isso, não temos apetite por risco alto em determinadas modalidades e públicos. Operamos em linhas com mais garantia e menor margem, o que é bom para as empresas e para o banco. Isso não traz um salto de margem da noite para o dia, mas a qualidade da carteira melhora muito ao longo do tempo. O mesmo vale para pessoa física. Seguimos apostando em um perfil de risco e em um modelo de crédito com modalidades que ofereçam mais garantia.

Isso inclui crédito imobiliário? O banco baixou os juros mesmo sem o início da queda da Selic. Por quê?

Nós reduzimos os juros porque o horizonte à frente indica queda da taxa. No Sistema Financeiro da Habitação (SFH), há tabelamento de juros, então, passamos a operar de forma um pouco mais restrita para compensar o custo da Selic no início deste ano. Não foi decisão só do Bradesco; foi do mercado. Agora, o mercado começou a reagir, estamos reprecificando, começando a reduzir as taxas, e voltando a crescer acima do ritmo atual. Essa estratégia é pensada, pois há demanda.

Quais os impactos das mudanças recentes, em termos de funding, redução de compulsório?

Isso estimula o mercado de crédito imobiliário num primeiro momento, mas será preciso avaliar os impactos antes do fim do próximo ano. Como as novas regras retiraram o recurso livre – usado para reduzir o descasamento na curva longa de juros – e mantiveram a obrigação de aplicar 80% dos recursos no SFH, teremos o desafio de lidar com esse descompasso. Portanto, é recomendável que haja alguma mudança na regulação mais adiante, para não desestimular os agentes econômicos, reduzindo seus apetites por crescer.

Qual?

Será preciso liberar parte dos recursos livres para o banco não ficar descasado, por exemplo. Na regulação e no Conselho Monetário Nacional (CMN) está prevista a possibilidade de revisão anual, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi vocal sobre isso no dia da divulgação do programa. Será preciso regular a medida para não desestimular os agentes. E isso não interessa a nenhum governo.

Os juros vão começar a cair no País, mas continuarão altos. Quão preocupado o senhor está com o crédito corporativo após casos de deterioração recentes?

Não estou preocupado porque o banco continua trabalhando com bons riscos. É claro que na grande empresa, podemos ter surpresa, um caso aqui ou ali. Faz parte do jogo. Não existe risco zero.

O banco considera elevar a provisão para o caso específico mencionado no terceiro trimestre?

Não. Não tem nada no meu pipeline.

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