
Por: Martha Funke
A iniciativa da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) de estabelecer um marco legal para o financiamento coletivo com base em equity (participação), que está em consulta pública até o próximo dia 8 de novembro, deve estimular a adoção do modelo por empreendedores e investidores no país. Embora as ações associadas a questões como causas e cultura ainda dominem o segmento, as iniciativas empresariais avançam na plataforma, principalmente voltadas a pré-vendas de novos produtos.
Também cresce o número de plataformas dedicadas ao crowdfunding empreendedor. Uma das novatas no setor é a iFunding, que no início do ano arrecadou R$ 75 mil com a venda de edição limitada do vinho com selo de Chiquinho Scarpa, o Royal Scarpa Rosé. O fundador, Charles-Henri Calfat Salem, anuncia que vai colocar no ar a primeira plataforma somando os três modelos de negócio do setor – crowdfunding, equity e imobiliário (real state).
A pioneira Kickante, no ano passado, registrou 2,8 mil campanhas relacionadas a startups, tecnologia e pequenos negócios. Somadas, as três categorias arrecadaram R$ 713,8 mil. Já em 2016, só no primeiro semestre, foram 4,2 mil campanhas, com arrecadação de pouco mais de R$ 1 milhão. Desde sua criação, a plataforma já arrecadou mais de R$ 30 milhões, com 25 mil campanhas publicadas.
A Bluelux, solução de controle de lâmpadas e luminárias por smartphone, e a Aguawell, produto criado para reciclar água do chuveiro, estão entre as campanhas bem sucedidas do ano passado. A primeira vendeu 190 peças com preço reduzido e frete grátis em 45 dias de campanha, arrecadando os R$ 28,4 mil necessários para a produção dos soquetes e reatores. Em março, entregou as encomendas e começou a fabricação de um segundo, diz o cofundador Wellington Soares Júnior. A Aguawell, da Late Farm, arrecadou R$ 30,9 mil com 376 pessoas. “Além do financiamento, é uma forma de testar a aceitação do produto no mercado”, diz a fundadora Flavia Jensen.
A questão do equity é mais sensível. Frederico Rizzo, criador da pioneira Broota, explica que uma das formas de atender a busca das startups por investidores estratégicos e sanar o receio da “vaquinha” foi a formação de sindicatos, com um gestor liderando o investimento, como em uma espécie de mini-fundo. Uma das metas é evitar problemas futuros com fundos de investimentos, que podem não ver com bons olhos uma empresa com um leque de investidores pouco sofisticados com potencial de interferência futura.
“Já tivemos captações de sindicatos, fundos e aceleradores ao mesmo tempo”, diz Rizzo. Um dos exemplos é a 123Reformei, plataforma de serviços de reforma com captação ao mesmo tempo de um sindicato e do fundo Redpoint Ventures. Com faturamento de R$ 230 mil em 2015, levantou R$ 11 milhões para 36 projetos nos últimos dois anos. Este ano, a meta é dobrar de tamanho. Hoje são dez ofertas no ar e dez sindicatos com maior atividade.
O interesse no segmento levou à criação da Equity, entidade que reúne nove empresas, quatro delas já atuantes. Um dos objetivos é a atuação junto à CVM. Segundo o presidente, Adolfo Melito, até agora 43 empresas já captaram recursos pelo sistema em quatro plataformas, somando perto de R$ 15 milhões.
As propostas na pauta da CVM, até agora, incluem questões como o aumento do limite de levantamento anual para cada empresa, dos R$ 2,4 milhões previstos nos acordos anteriores para R$ 5 milhões; a falta de vinculação das interessadas ao regime de micro ou pequeno empresa; a não necessidade de interferência ou participação de instituição financeira; o limite de R$ 10 milhões de faturamento bruto por empresa, não por grupo econômico; a aceitação de declaração do investidor em relação ao limite sobre seu rendimento ou patrimônio; e a flexibilidade para aceitar captação abaixo do limite fixado na oferta. “Também pleiteamos o estabelecimento do papel de sindicato e de investidor líder”, aponta Melito.
Um dos benefícios da figura do sindicato e do líder, para os empreendedores, é a possibilidade de contar com um interlocutor único, ao invés de se relacionar com diversos investidores-sócios. O desenho também permite que a oferta seja direcionada a investidores específicos de seu interesse, com apoio do líder.
Um dos líderes da Broota é Fábio Póvoa, professor de empreendedorismo da Unicamp que tornou-se investidor anjo em tempo integral depois de vender a Movile em 2013 e formar um fundo de R$ 5 milhões. Hoje tem um portfólio de onze startups, incluindo a própria Broota e a 123Reformei, e fecha entre três e quatro negócios ao ano, com aportes de R$ 500 mil com co-investidores. “Trabalho pessoalmente na apresentação das startups”, afirma.
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