
Por: Sofia Esteves
Trabalho em uma empresa de internet e não tenho chefe. Recebo as informações do que eu tenho que fazer de quem já está há mais tempo na companhia e, supostamente, deveria fazer um treinamento com o cliente que atendo. O problema é que não recebo nada deles, nem bom dia. As outras pessoas da equipe não se comunicam comigo e nem para almoçar sou chamada. Isso tem me deixado tensa, pois estou há exatos 30 dias nesse emprego, quase sem função e totalmente desmotivada. Não gostaria de ser demitida, mas sinto que estou perdendo tempo e já comecei a olhar outras oportunidades. Devo cobrar meu cliente, esperar alguém se manifestar ou simplesmente desistir? O que devo fazer?
Community manager, 39
Resposta:
Você faz parte de uma minoria de profissionais que atuam em empresas com a chamada gestão horizontal, ou seja, que utilizam um modelo que foge do convencional controle hierárquico. Sem chefes, cargos, tarefas, e sim com grupos de trabalho, espaços organizacionais, projetos e desafios. Esse sistema que extingue a tradicional estrutura piramidal e passa a funcionar em círculos semi-independentes que englobam uns aos outros é também chamado de holocracia.
A tendência é que esse modelo de gestão seja implementado cada vez mais, já que atende às características valorizadas pela geração que está ingressando no mercado de trabalho: inovação, desenvolvimento a partir da troca e de equipes colaborativas, autonomia, meritocracia e flexibilidade de horários.
Muitos relacionam a holocracia com empresas de tecnologia como a sua, mas isso não é exclusividade delas. Existem bancos, indústrias e consultorias que já usam ou até nasceram sob esse modelo. Isso não quer dizer que todas as companhias que adotaram a holocracia tiveram sucesso ou se adaptaram rapidamente.
Diversos estudos sobre essas organizações apontam que nelas os colaboradores tendem a ter um desempenho melhor do que trabalhadores em hierarquias mais tradicionais. Já outros estudos apontam que os papéis claramente definidos e a hierarquia ajudam as pessoas a ser mais eficientes no trabalho.
Não há uma regra clara de sucesso e a cultura da empresa, independentemente do tamanho, precisa estar madura para esse tipo de mudança. Mesmo assim, a companhia que adotar a gestão horizontal deve ter clareza que levará tempo para a adaptação de todos e a mensuração dos resultados esperados. Talvez a sua empresa esteja passando por esse período e as pessoas ainda não estejam confortáveis ou adaptadas.
A gestão horizontal funciona bem em times entrosados e que confiam uns nos outros, mas é preciso tempo e investimento nessa transição – também de sua parte. Mudar de emprego não é simples, mesmo entre culturas e negócios similares. A mudança exige uma postura mais ativa de entender o novo contexto, ler o novo time e alinhar expectativas.
No seu caso, esse protagonismo é ainda mais importante. Lembre-se do que a levou a aceitar essa proposta de trabalho, pense no desafio que está vivendo e procure aprender com o atual momento e esse modelo de gestão diferenciado. Isso, inclusive, pode ser um diferencial no seu histórico profissional daqui para frente.
Não desperdice uma oportunidade por um período de adaptação; 30 dias ainda é muito pouco para já concluir que está perdendo tempo. Marque uma reunião com o cliente e alinhe expectativas e entregas. Procure construir vínculos com as pessoas ao seu redor, peça ajuda e colabore com alguma atividade que não é do seu dia a dia, mas que pode facilitar a sua aproximação dos demais. Tenha certeza de que você fez o que estava ao seu alcance para, então, decidir se vai sair ou não.
Caso a sua decisão seja por permanecer na empresa, saiba administrar bem o seu tempo, já que não haverá um gestor definindo agendas; aprenda a distinguir o que é urgente do que é importante, pois mais de uma equipe pode acioná-la com diferentes prioridades; e assuma uma postura ativa para defender suas ideias e administrar conflitos. Caso contrário, o ambiente inovador e colaborativo acabará sendo camuflado pelas dificuldades e pela falta de produtividade.
Se quiser se aprofundar nessa discussão dos modelos de gestão das empresas, recomendo a obra “O Lado Humano das Organizações” de Douglas McGregor, escrita em 1957, mas com reflexões bem atuais.
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