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Feedbacks digitais nos fazem sentir carentes e grosseiros

por: Afonso Bazolli
fonte: Valor Econômico
05 de setembro de 2016 - 18:02

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Por: Lucy Kellaway

A maioria dos gestores é ruim em muitas coisas como autoconhecimento, falar de maneira inteligível e prestar atenção. Mas eles são ainda piores em dar feedback.

Como resultado, passamos nossa vida profissional à deriva, sem sermos informados como estamos nos saindo – ao menos não de um jeito que nos ajude a melhorar. Para a maioria de nós, há a enfadonha e desmotivadora charada da avaliação anual de desempenho, e só.

Na semana passada, fiquei sabendo de um aplicativo que poderá mudar para sempre a maneira como o feedback é fornecido. O Impraise permite que você saiba instantaneamente como se saiu naquela reunião, ou depois de qualquer coisa. Para isso, é preciso convidar colegas para avaliá-lo anonimamente sobre diferentes questões. Você falou de maneira convincente? Manteve-se à agenda? A informação chega diretamente ao seu celular, onde é exibida em uma série de gráficos pequenos e estilosos.

Na noite da última quarta-feira fiz uma palestra para vários colegas e, na manhã seguinte, decidi experimentar o Impraise. Enviei a todos que estavam na plateia um convite para dizerem como me saí. Em seguida, sentei e esperei, sentindo-me desconfortavelmente exposta.

Com uma velocidade quase indecente, algumas respostas começaram a chegar. O mais gratificante é que descobri que fui uma “superstar”, obtendo a pontuação média de 8. A notícia não tão boa é que esse número é baseado em uma amostra estatisticamente insignificante, pois a maioria das pessoas não respondeu. As pessoas podiam estar muito ocupadas, ou talvez não gostaram da palestra e acharam que seria indelicado dizer isso.

Mesmo aqueles que me atribuíram uma nota minaram o valor de seus próprios testemunhos ao me dar um 8 no quesito “escutar atentamente”. Como só eu estava falando, não havia evidências de que eu estava prestando atenção em alguma coisa.

O fato de o aplicativo não ter revelado nada a respeito de mim mesma pode se dever em parte ao fato de eu não ter dado a ele chances suficientes. Mesmo assim, tenho lá minhas dúvidas se isso é uma boa ideia.

Embora pareça muito bom o fato de colegas poderem avaliar rápida e facilmente uns aos outros, isso tem um custo. Ficar o dia inteiro em reuniões é bem chato. Que dirá ter o trabalho extra de avaliar como cada um se saiu nelas! E o pior é que não quero ser forçada a emitir tantas opiniões sobre meus colegas. Não sou supervisora deles, não é minha função e não quero ser indelicada.

O aplicativo é baseado na interpretação falsa e comum de que quanto mais feedback, melhor. Mas, ao contrário da maior parte das pessoas que trabalham em escritórios, e que não recebem nenhum feedback, eu recebo muito.

Recentemente o “Financial Times” implementou um novo software que monitora as respostas dos leitores a cada palavra que eu escrevo, em mais de uma dezena de maneiras diferentes, e me permite comparar minhas pontuações com as de meus colegas semana após semana, ou mesmo a cada minuto. E o que aprendi como resultado dessas informações extras?

Se você dá a jornalistas inseguros a chave de tal informação, eles passarão horas checando obsessivamente como estão se saindo e tentando elaborar alternativas para que seus desempenhos não pareçam tão ruins. Também aprendi que os artigos que atraem mais leitores não são necessariamente os melhores, e sim aqueles que têm palavras como “idiota” no título – em vez de palavras como “sustentabilidade”.

Os comentários embaixo dos textos também não são muito úteis. “Grande texto!” e “É isso aí!” não me ajudam a escrever melhor do que quando recebo um comentário como “não acredito que você recebe para escrever essas baboseiras”. Às vezes os leitores contribuem com pontos de vista interessantes, mas eles chegam tarde demais porque a coluna já foi escrita.

Não estou dizendo que todos os feedbacks são inúteis, pois às vezes eles são surpreendentemente proveitosos. Há cerca de um ano, após uma palestra minha, um homem me enviou um e-mail reclamando sobre a maneira irritante com que agito meus cabelos toda vez que coloco e tiro meus óculos.

Isso foi muito útil. Agora, na hora de imprimir algo que preciso ler no palco, aumento o corpo do texto e consigo dispensar os óculos.

Os filhos também são uma excelente fonte de feedback. No mesmo evento da semana passada, dois dos meus me disseram depois que a) o crachá que deixei pendurado no pescoço estava horrível; b) minha voz estava alta demais; e c) eu poderia ter envolvido a plateia um pouco mais. São todas observações excelentes e úteis, mas que só puderam ser transmitidas e recebidas porque os dois lados sabem que continuarão se amando não importa o que aconteça.

Um bom feedback sempre será raro, com ou sem a ajuda de aplicativos. Mas isso não é um desastre tão grande, uma vez que, lá no fundo, a maioria de nós consegue saber como está se saindo no trabalho sem que outras pessoas precisem nos dizer isso. Sei quando uma palestra minha foi bem, ou quando escrevo algo original.

É verdade que umas poucas pessoas superestimam ou subestimam de maneira patológica seu desempenho, ao insistir que são maravilhosas ou inúteis; mas a resposta para essas pessoas não é mais feedback. É ajuda psiquiátrica.

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