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Eu devo sim pago se puder

por: Afonso Bazolli
em: Cobrança
fonte: Valor Econômico
15 de março de 2017 - 18:03

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Por Diego Viana

No centro das turbulências econômicas aparece, desde 2008, a figura da dívida: seja pública – como na Grécia, que aplica pacotes de rigorosa austeridade na tentativa de pagar os credores europeus -, seja privada, como no caso das hipotecas securitizadas das famílias americanas. Nem tudo nessa dinâmica é recente ou típico do capitalismo contemporâneo, como o mundo pós-2008 poderia levar a crer. Conflitos entre devedores e credores, revoluções causadas por endividamento descontrolado e pressões para perdoar débitos compõem uma história que remonta pelo menos aos antigos impérios da Mesopotâmia. É o que conta o antropólogo americano David Graeber no livro “Dívida: os Primeiros 5.000 Anos” (Três Estrelas, tradução de Rogério Bettoni. 712 págs., R$ 99,90).

As questões de endividamento têm alcance bem mais amplo do que apenas a economia, segundo Graeber. O motivo é que a lógica da dívida tira sua força do fato de ser entranhada na linguagem da moralidade. Mas ambas se confundem com a dinâmica da política e da violência. “Ninguém jamais conseguiu imaginar um modo mais potente de justificar relações baseadas em poder arbitrário do que vesti-las na linguagem da dívida.”

“Um dos grandes méritos do livro é reabrir o caminho para um debate entre antropólogos e economistas, que não costuma acontecer”, diz Marcos Lanna, professor de antropologia na Universidade Federal de São Carlos (Ufscar).De fato, a maneira de compreender fenômenos como o dinheiro, a circulação de bens e a atuação do poder político difere de uma disciplina para outra. Um dos principais alvos da argumentação de Graeber é a tradicional narrativa de que a origem do dinheiro está na troca direta de mercadorias (o escambo), como “óleo que torna mais suave e fácil o movimento das rodas [do comércio]“, nas palavras do filósofo escocês David Hume.

Nos EUA, as principais divergências sobre o estudo do antropólogo estiveram centradas nessa crítica. Para Graeber, existe uma oscilação na natureza do dinheiro, em ciclos que podem chegar a ter 500 anos. Assim, em períodos de grandes impérios, o dinheiro costuma ser representado por um objeto físico, como o ouro. Já nos períodos com unidades políticas menores, prevalece um dinheiro baseado em relações de crédito e débito, dando razão a quem vê nele o reconhecimento de uma dívida.

“A noção de dívida, na teoria econômica hegemônica, é realmente problemática e a profissão [de economista] poderia aprender bastante com antropólogos e sociólogos”, diz o economista MatíasVernengo, da Universidade Bucknell, nos EUA.

Vernengo evoca também a noção de “imperialismo” dos economistas, que levam outras disciplinas que estudam o ser humano a aplicar métodos da teoria econômica sem questionar se a transferência do raciocínio funciona de fato. Tanto Graeber quanto Lanna afirmam, porém, que o desinteresse pelo diálogo transdisciplinar se encontra em ambas as pontas: muitas vezes, os cientistas sociais preferem escrever apenas uns para os outros, sem pensar em como seus trabalhos podem afetar os pressupostos dos economistas.

A extensa pesquisa de Graeber foi um sucesso de vendas no mundo anglo-saxão, comparável ao também volumoso estudo do economista francês Thomas Piketty sobre a desigualdade de renda e propriedade no capitalismo contemporâneo. Em 2013, um debate que reuniu os dois autores revelou um importante ponto de discordância.

Para Piketty, é preciso combater a desigualdade com um imposto internacional e progressivo não apenas sobre a renda, mas também sobre a propriedade. Graeber vê aí uma tentativa de voltar ao sistema keynesiano de meados do século XX. Nessa época, a taxação progressiva e o Estado de bem-estar social impediam que a desigualdade de renda crescesse exponencialmente, como acontece agora. Piketty, por sua vez, critica a proposta de perdão de dívidas, como sugere Graeber, sob a alegação de que o gesto tenderia a ser mais favorável aos grandes proprietários do que aos pequenos endivida.

Graeber teve participação ativa no movimento Occupy Wall Street, em 2011, que consagrou o slogan “Nós somos os 99%”, central na caracterização do debate sobre a concentração de poder e renda na sociedade americana. Ele contou a história do Occupy Wall Street no livro “The Democracy Project: A History, a Crisis, a Movement”, lançado em 2013 e publicado no ano passado no Brasil com o título “Um Projeto de Democracia”.

Hoje, Graeber é professor da London SchoolofEconomics. Seu último livro, lançado em 2015, chama-se “The Utopia ofRules: On Technology, Stupidity, andtheSecretJoysofBureaucracy” (A utopia das regras: sobre tecnologia, estupidez e as alegrias secretas da burocracia). Seu argumento é de que o mundo contemporâneo vê surgir um enorme sistema burocrático em nível global.

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