Por: Felipe Marques

Demorou – a ponto de frustrar os bancos -, mas a queda da inadimplência no financiamento de veículos finalmente deu as caras em 2013. De junho de 2012, quando bateu o pico de 7,2%, até outubro deste ano, quando chegou em 5,5%, o indicador encolheu 1,7 ponto percentual, para a menor índice em dois anos. E, na visão dos banqueiros, não deve parar por aí. A taxa tende a seguir caindo, ainda que em velocidade menor ao longo de 2014.

“São de três a quatro anos para que os bancos consigam tirar os créditos originados em 2010 e 2011, que têm pior qualidade, do balanço”, afirma Décio Carbonari, da associação de bancos de montadora (Anef). Sinal de que a queda continua, a inadimplência entre 15 e 90 dias, que em abril do ano passado estava em 10,1%, fechou outubro em 7,94%.

A BV Financeira, que tomou um dos maiores tombos com o calote, vem se reabilitando. “Já estamos melhorando marginalmente nossas taxas de aprovação de crédito, mas sem flexibilizar prazos”, afirma Elcio dos Santos, diretor-executivo de negócios da instituição. Segundo o executivo, as provisões da BV caíram cerca de 48% nos últimos 12 meses. Como um dos líderes em usados, o banco voltou a focar o segmento, reforçando as exigências de entrada e diminuindo a fatia financiada do bem.

O retorno da BV reforça que mesmo no financiamento de veículos usados, os calotes já se aproximam da normalidade. No passado, com a redução de imposto para compra de carros novos, o preço do usado despencou, fazendo muita gente pensar duas vezes antes de pagar o que devia, levando a inadimplência às alturas. Agora, com preços dos veículos mais estáveis, as instituições financeiras têm dado mais atenção à modalidade.

“Financiar só carro novo é ficar exposto demais às políticas dos bancos de montadora”, diz André Novaes, do Santander Financiamentos. O banco espanhol compete pela liderança dessa modalidade com a BV. “Até o fim do ano que vem, a inadimplência ainda vai cair mais. A carteira pode não crescer tanto, mas com certeza será mais rentável.”

Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, que desde o ano passado vêm operando com mais intensidade no segmento, também tentam manter a inadimplência sob controle, ao concentrar suas operações com correntistas. “Nossa inadimplência está em 3,5% em veículos, 1,5 ponto a menos que no ano passado”, afirma Fábio Lenza, vice-presidente de negócios emergentes da Caixa. O banco público responde hoje por 3% das contratações de crédito de veículos e tem a meta de médio prazo (dez anos) de deter 10%.

Para tanto, a Caixa vê espaço para aumentar a fatia de sua base de correntistas que contratam o financiamento do carro com o banco, e não na concessionária. “Os concorrentes têm um percentual entre 6% e 7% da base de correntistas tomando essa modalidade no próprio banco. Na Caixa, é apenas 1%”, afirma.

Já o Banco do Brasil registra uma inadimplência de 1,6% – comparável à de bancos de montadora. Manter a qualidade nesse nível, porém, pode acabar exigindo que o banco sacrifique o crescimento. “Vou crescer menos na carteira de veículos no ano que vem, em grande parte pela preocupação em manter a qualidade do portfólio. Para financiar sem qualidade, tem mercado”, afirma Edmar Casalatina, diretor de empréstimos e financiamentos do banco.

O estoque de operações de crédito para veículos do BB, excluindo a participação no Votorantim e carteiras adquiridas, estava em R$ 12 bilhões no terceiro trimestre, 1% a menos do que o registrado em junho, mas 30,7% acima de igual período do ano passado.

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