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24 de junho de 2013 - 18:45

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Com as listas de Serasa e SPC, o Brasil já tinha dois grandes instrumentos contra as bolhas de crédito. Agora essa frente ganhará um reforço com os nomes dos bons pagadores

Por: Daniel Barros

Marino de Oliveira, de 55 anos, é professor de squash em São Paulo. Por anos só deu aulas particulares e, nos meses bons, chegava a ganhar 10 000 ­reais. Em 2008, resolveu realizar o sonho de empreender. Montou uma empresa, tomou um empréstimo de 80 000 reais e alugou oito quadras de squash.

Não demorou um ano para Oliveira perceber que tinha dado um passo maior do que podia. Sem conseguir pagar as dívidas, viu seu nome parar na lista de inadimplentes da ­Serasa e a vida virar um inferno. Com o nome sujo, não conseguia comprar nada a prazo nem parcelar a anuidade da faculdade da filha.

Do ponto de vista pessoal, os últimos quatro anos foram um martírio para Oliveira. Para o país, seu caso e o de outros milhões de brasileiros que caem nas listas de inadimplentes são um mal muito necessário. A Serasa e o Sistema de Proteção ao Crédito (SPC) funcionam como um escudo protetor da economia brasi­leira.

“São mecanismos eficientes contra a formação de bolhas de crédito”, diz Luiz Carlos Mendonça de Barros, sócio da Quest Investimentos e ex-presidente do BNDES. O sistema de informações sobre crédito do Brasil é mais avançado que o de países como a França e a Bélgica, de acordo com o Banco Mundial. Agora, está prestes a dar mais um passo importante.

A partir de agosto, o Brasil passará a ter uma ferramenta que permite identificar quem paga suas contas em dia. Conhecido como cadastro positivo, esse mecanismo faz um raio X dos consumidores, com o histórico de seus pagamentos — da prestação do carro à conta de luz. Hoje, os varejistas só conseguem saber quem está inadimplente.

Com o cadastro positivo, poderão calcular a capacidade de endividamento de cada cliente. “Essa ferramenta, aliada ao que o Brasil já tem, dará o retrato completo dos consumidores”, diz Margaret Miller, economista sênior do Banco Mundial. Apesar da merecida festa após a aprovação da medida no Congresso no ano passado, a velocidade com que o cadastro positivo vai se popularizar no país é incerta.

Clientes de bancos, varejistas e companhias de serviço público precisam dar autorização para que suas informações sejam compartilhadas. “Nosso objetivo é cadastrar todos os brasileiros em dois anos”, diz Ricardo Loureiro, presidente da Serasa Experian. A expectativa é que as pessoas reconheçam as vantagens de participar.

Na hora de fazer um crediário ou de pedir um empréstimo, o bom pagador terá vantagens, com acesso a condições melhores que a média. “O novo mecanismo vai nos possibilitar trabalhar com taxas de juro mais baixas”, diz José Rodrigues, diretor de crédito da rede de vestuário Riachuelo, que tem sua própria financeira.

Em Hong Kong, dois anos após a implantação do cadastro positivo, em 2003, a participação de instituições não bancárias na concessão de empréstimos aumentou de 5% para 30% do total de crédito concedido.

A melhoria do sistema brasileiro vem em boa hora. Em tempos de desaceleração econômica, a concessão de crédito, que cresceu em média 22% ao ano no último decênio, está em ritmo mais lento. Isso num momento em que o endividamento das famílias brasileiras atingiu um percentual recorde, de 44% da renda anual.

“Daqui para a frente, o crédito no Brasil só cresce se for com responsabilidade”, afirma Ana Carla Abrão, diretora de modelagem e pesquisa do banco Itaú. “Só o cadastro positivo identifica quem tem condições de se endividar.”

Listado pela Serasa, o professor de squash Oliveira está conseguindo se reerguer. Renegociou a dívida no banco, diminuiu o tamanho do negócio, limpou seu nome e agora sonha em entrar no clube dos bons pagadores.

Quem resume bem essa mudança de cultura é o economista Marcos Lisboa, que idealizou o cadastro positivo quando trabalhou como secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda de 2003 a 2005. “Essa medida cria regras para que as pessoas façam a coisa certa, em vez de só punir quem faz o errado. É assim que se educa a população”, diz Lisboa.

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