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Crédito Bancário e Crédito Mercantil

por: Afonso Bazolli
em: Crédito
fonte: LinkedIn
14 de agosto de 2017 - 18:09

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Por: Olavo Borges

Quando o assunto é crédito logo se imagina a atividade de uma instituição financeira, pois o crédito bancário está presente na vida de quase todas as pessoas, seja física ou jurídica. E é contratado para diversas finalidades, seja consumo, investimento ou, em momentos de crise financeira pessoal ou coletiva, como a que vivemos hoje, crédito para renegociação de dívidas vencidas.

Não são apenas as instituições financeiras que concedem crédito, as empresas não financeiras também, pois a maior parte de suas vendas é realizada a prazo.

Sabemos que todos são empresas e que podem ser chamadas também de instituições. No entanto, nem todas as instituições financeiras possuem atividade de “banco”. Segundo definição do Banco Central do Brasil, “banco” é a instituição financeira que opera conta corrente.

Mas, para simplificar o texto, aqui vamos chamar as instituições financeiras de “bancos” e as instituições não financeiras simplesmente de “empresas”. Chamando também suas operações de “crédito bancário” e “crédito mercantil”, respectivamente.

Alinhados os conceitos, a questão é quais são as diferenças e semelhanças no processo de análise de crédito num banco e numa empresa?

Ao longo de minha carreira conheci profissionais da área de crédito que haviam trabalhado em bancos e mudado para empresas e vice versa. Gostando ou não da mudança, seus relatos eram sempre uma mistura de confusão com espanto, levando um bom tempo para se adaptarem à nova situação.

Pois bem, se esse foi o seu caso ou se ainda será, vamos entender um pouco dessas diferenças e semelhanças. Para começar, do ponto de vista de um processo de análise de crédito há muito mais semelhanças do que diferenças. Como sempre falo em meus textos, um processo para tomar decisões de crédito deve ter as seguintes etapas, na ordem:

Etapas do Processo de Gestão do Risco de Crédito

A primeira grande diferença que surge é a quantidade de pessoas envolvidas em cada uma dessas etapas. Nos bancos, os grandes principalmente, cada etapa pode ser configurada em uma diretoria envolvendo muitas pessoas, além de áreas adjacentes envolvidas em uma ou outra tarefa como compliance, auditoria, fraudes, sem falar na área de TI responsável por desenvolver os programas executados nessas etapas.

Nas empresas todo esse processo pode estar a cargo de duas, três ou quatro pessoas, além do Gerente Financeiro. Dividindo o tempo de trabalho com outras atividades da área financeira como contas a pagar, contas a receber, conciliação bancária, gestão do capital de giro, etc., além de atender as pessoas da área comercial que encaminharam pedidos de clientes para análise.

Ao se definir as atividades em cada uma das etapas, cria-se a “Política de Crédito”. Seja empresa ou banco, as atividades são muito semelhantes, diferenciando-se em volume e, como gosto de dizer, no tempero da política de crédito. Mesmo entre bancos semelhantes ou entre empresas concorrentes, pode haver políticas mais arrojadas ou mais conservadoras. A princípio não existe política certa ou política errada. Existem apenas políticas mais ou menos arrojadas.

Até onde pude observar, a característica da política segue mais ou menos a característica da pessoa que a formula ou da pessoa que decide seu perfil. Há pessoas que valorizam mais a segurança em detrimento de “muitos” negócios e há pessoas que não se intimidam diante dos riscos. Assim como na vida particular, há pessoas que preferem esportes radicais, ação, aventura, e outras, preferem férias em um resort. Há riscos em tudo na vida, mas algumas pessoas se expõem mais e outras menos. Seja qual for o (seu) perfil ou o grau de risco assumido, há que haver mecanismos para gestão do risco.

Dizem por aí que o Bradesco sempre foi um pouco mais conservador do que o Itaú em decisões de crédito. Dizem também que o Banco Safra é muito mais arrojado do que os dois. Não sabemos até onde isso é verdade, mas é o que o mercado sente e é o que pessoas que já trabalharam nessas três instituições dizem.

Como dizia com relação a políticas de crédito, não gosto de olhar sob a ótica do “certo” ou do “errado”. Mas, sabemos que políticas conservadoras proporcionam baixas taxas de inadimplência na carteira, no entanto, podem levar a perda de oportunidade de negócios. Por outro lado, políticas arrojadas alavancam os negócios, mas, podem elevar a taxa de perdas.

Dados e Análise do Risco de Crédito

Nas duas primeiras etapas do processo há muito mais semelhanças do que diferenças.

De modo geral os dados coletados sobre os clientes (pessoas físicas e pessoas jurídicas) são muito semelhantes e resumem-se a dados cadastrais, hábitos de pagamento, negativos e balanços no caso de empresa de grande porte.

Os bancos têm ainda acesso exclusivo a informações de dívidas bancárias em aberto de seus clientes, que é um banco de dados do Banco Central do Brasil (SCR – Sistema de Crédito).

O processo de análise também é muito parecido. A forma como uma empresa analisa o balanço de seu cliente é a mesma que um banco. Os índices analisados são os mesmos. O objetivo da análise é verificar se o cliente é uma empresa lucrativa e que possui endividamento baixo com boa capacidade para pagamento de suas dívidas.

A avaliação do risco pode ser feita por meio de modelos matemáticos de creditscoring, mais objetivos, ou por meio da análise julgamental (credit rating), onde o risco é uma opinião do analista baseada em sua experiência em análise de crédito.

Seja uma análise objetiva ou subjetiva, o que se busca medir é a possibilidade do cliente vir a se tornar inadimplente com o banco ou com a empresa. Coisa que só vai acontecer se o cliente estiver com sérias dificuldades financeiras (classificado como alto risco).

O que diferencia bancos de empresas, aqui, nessa etapa do processo, é o conceito de inadimplência. Bancos seguem orientação do Banco Central do Brasil, que por sua vez, se baseia em “recomendações de Basiléia” (grupo formado por titulares dos bancos centrais dos dez países mais desenvolvidos – G10 – que se reúnem periodicamente na cidade de Basiléia, que fica na Suíça, para discutir questões ligadas à segurança e bom funcionamento do sistema financeiro mundial). Para o Banco Central, os créditos com atrasos superiores a 180 dias devem ser baixados para prejuízo (reconhecido no balanço como perda). Veja na tabela abaixo os critérios de provisionamento para créditos de liquidação duvidosa definida pelo Banco Central na Resolução 2682 (de 1999). Antes, um aviso, não recomendamos seguir essa tabela, pois não há muito sentido nos saltos que as taxas de provisionamento dão de uma classe de risco para outra.

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Nas empresas o conceito de inadimplência varia de acordo com as características dos produtos. Produtos de baixa margem de lucro costumam ter pouca tolerância a atrasos. Nesses casos, um atraso de 10 dias pode comprometer toda a rentabilidade da operação. Quando a margem é alta, a tolerância a atrasos pode ser maior.

Portanto, supondo um cliente comum de um banco e de uma empresa, enquanto a empresa tem como objetivo em sua análise, verificar a possibilidade do cliente atrasar mais do que 10 dias, o objetivo da análise do banco é verificar a possibilidade desse cliente vir a atrasar mais do que 180 dias.

Do ponto de vista do cliente, tornar-se inadimplente com o banco pode ser muito diferente de tornar-se inadimplente com a empresa. Ou não. Nesse sentido, um mesmo cliente (do banco e da empresa) poderá ter perfil de risco diferente para um e para outro.

Eu costumo usar o exemplo do motorista de taxi que tem a conta do cartão de crédito para pagar e a parcela do financiamento do veículo que utiliza para trabalhar. Tendo condições de pagar apenas uma das contas, muito provavelmente optara pelo pagamento da parcela do veículo (que usa para trabalhar) em detrimento do cartão, mesmo considerando sua elevada taxa de juros.

Os dados dessa pessoa colocados no modelo de análise de risco do cartão e no modelo do banco para financiamento de veículo, apresentará perfis de risco diferentes. Apesar dos modelos serem muito semelhantes, utilizarem as mesmas variáveis e os mesmos dados, o conceito de inadimplência do banco é diferente do conceito do cartão.

Decisão do Crédito

A decisão do crédito, tanto nas empresas quanto nos bancos, envolve cinco componentes:

  • Produto
  • Valor
  • Prazo
  • Taxa
  • Garantias

As características dos produtos ajudam a decidir se a política de crédito poderá ter um viés mais arrojado ou mais conservador.

No caso do crédito mercantil, a essencialidade do produto para o cliente é determinante para o viés da política de decisão. Se o produto da empresa for matéria prima do cliente e que ele, o cliente, compra corriqueiramente, a política poderá ser mais arrojada do que quando o produto é apenas mais um “acessório” para o cliente e as compras são eventuais. Nesse caso, o mais adequado é uma política com viés conservador.

No crédito bancário a finalidade do empréstimo conta muito na determinação do perfil da política. Empréstimos para pagamento de dívidas carregam maior risco de inadimplência, nesse caso, política com mais prudência são as mais indicadas. Dívida contraída para investimentos, que poderá alavancar as vendas dos clientes, por implicarem em riscos menores, pode ter políticas de decisão mais arrojadas.

O “valor” e o “prazo” da operação de crédito apresentam diferenças significativas entre o crédito bancário e o mercantil. No crédito mercantil os prazos concedidos aos clientes são pequenos, geralmente variam em múltiplos de sete (7, 14, 21 e 28 dias) ou em meses (30, 60 e 90 dias). Os clientes das empresas que compram corriqueiramente acabam por acumularem um montante de dívida com a empresa.

No crédito bancário as linhas de crédito possuem prazos bem maiores. O crédito pessoal, por exemplo, pode ser em 36 parcelas, os financiamentos de veículos em 48 e até 60 parcelas. Sem falar do crédito imobiliário que pode chegar a 35 anos.

Enquanto no crédito mercantil observa-se o acúmulo de dívidas (base para determinação de limites), no crédito bancário o mais importante é o valor da parcela, que em muitos casos não pode ser maior do que 30% da renda do cliente.

Por terem prazos mais longos e por causa da natureza da atividade bancária (intermediação financeira) as taxas de juros são mais evidentes do que no crédito mercantil.

A prática de exigir uma garantia na operação de crédito é muito mais comum no crédito bancário do que no mercantil. Há linhas de crédito bancárias que possuem uma garantia natural, como no caso do financiamento de veículo e no crédito imobiliário. Aval e fiança são garantias geralmente solicitadas em linhas de crédito sem finalidade específica.

No crédito mercantil são poucas as empresas que tem como prática a solicitação de garantias. E quando solicita, o faz com muito receio. Ora, como o objetivo da garantia é o de atenuar o perfil de risco do cliente, tornando a operação de mais baixo risco, ao invés de não aprovar o crédito para os clientes de alto risco, basta apenas colocar uma condição para aprovar o crédito, ou seja, solicitar uma garantia. O desgaste com o cliente seria bem menor do que a recusa direta da venda a prazo.

Acompanhamento e Revisão

Ao longo da vida do cliente nas carteiras da empresa ou do banco, muitas coisas podem acontecer com implicações favoráveis ou desfavoráveis no seu perfil de risco. Por isso é preciso ter mecanismos de acompanhamento e revisão do crédito concedido.

Acompanhar o crédito concedido implica em acompanhar, essencialmente, as modificações no perfil de risco de cada cliente, que pode ser por fatores internos ou externos. No crédito mercantil essa atividade é mais simples (não que seja fácil), pois o mercado a ser monitorado é mais restrito. Quem vende fertilizante, por exemplo, não precisa, a priori, acompanhar o que está acontecendo no setor de siderurgia.

No caso do crédito bancário, que faz empréstimos e financiamentos para todas as camadas da população e setores da economia, essa tarefa é muito mais complexa. Não é a toa que os bancos possuem áreas específicas para acompanhar o desempenho dos mercados, da economia e do ambiente como um todo, desde alterações climáticas e suas implicações na agroindústria, inovações tecnológicas (marca da era de aquário, como dizem os astrólogos de plantão), e muitos outros fatores que modificam constantemente o ambiente.

Eu fiz curso de datilografia, aprendi a enviar telex, passar fax, tirei foto com filme, comprei filmadora, gravador de fita K7, aparelho de videocassete (esse em consórcio), até que chegaram os microcomputadores TK85 (lá pela década de 1980) que pisou no acelerador das mudanças no mundo. Na minha época de Office boy (precursor do moto boy) não existia as gigantescas áreas de TI.

Os bancos precisam definir em suas políticas onde, quando e quanto alocar seus empréstimos. Acompanhar as taxas de inadimplência por região, setor, linha de crédito, tipo de cliente, etc. São atividades que as empresas também realizam (ou deveriam realizar), mas em menor escala e muitas vezes focada em um determinado setor da economia.

Gestão da Carteira de Créditos Concedidos

Esta é outra atividade pouco desenvolvida nas empresas. Embora seja uma atividade semelhante entre os bancos e as empresas, também carregam maior complexidade nas instituições financeiras do que nas empresas.

As principais atividades desta etapa são:

  • Avaliação do risco médio da carteira
  • Cálculo perda esperada e não esperada da carteira de crédito
  • Acompanhar a LGD – lossgiven default (perda dada a inadimplência)
  • Stress Test da carteira diante de cenários pessimistas

Se você trabalha em empresa e nunca ouviu falar dessas atividades, veja o texto que escrevemos sobre bibliografias de temas relacionados a crédito e procure no site do Banco Central do Brasil pela Resolução 3721 (2009). O Banco Central do Brasil exige que essas atividades sejam realizadas por área específica do banco e não pode ser a mesma área que elabora a política de crédito e nem a que analisa as solicitações de crédito. Tem que ser uma área específica para gestão do crédito concedido.

Enfim

O esforço para estruturação de uma política e de um processo para gestão do risco de crédito é enorme. Mas, depois de defina e implantada em sistemas, o trabalho fica muito mais interessante, fácil e muito mais eficaz. É um investimento que se recupera rapidamente, além de agregar muita qualidade e rapidez nas decisões de negócios.

Se você está pensando em mudar de banco para empresa ou de empresa para banco, ou se isso acontecer algum dia, mesmo não tendo isso em mente agora, tenha sempre em mente as etapas do processo de crédito que sua adaptação será rápida e “indolor”.

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1 Comentário
  1. Prazados Senhores: após ver comercial desta modalidade de crédito, gostaria de maior esclarecimento, Estou negativado e preciso de uma valor que eu possa liquidar dívídas e usar o dinheiro para capital de giro de minha empresa, o qual também vai servir para resolver uma divída que consta no meu CNPJ usado indevidamente, pois estava trabalhando em uma Empresa Multinacional, tudo tem como comprovar. Fico no aguardo dos Srs.

    Angelo Vidal Falcão em 01 de novembro de 2018 - 09:01

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