Mais de 50 milhões de brasileiros já aderiram ao Open Finance, autorizando o compartilhamento estruturado de seus dados financeiros — um passo que redefine o acesso ao crédito no país. A expectativa é ousada: alcançar até 170 milhões de participantes e construir um ecossistema mais transparente, competitivo e inclusivo, segundo projeções divulgadas pela Febraban.
Esse avanço é ainda mais significativo quando consideramos o contexto socioeconômico do Brasil. Em um país onde a inadimplência cresce e os modelos tradicionais de análise de risco excluem grande parte da população, o uso estratégico de dados alternativos e inteligência artificial está abrindo caminho para uma nova era na concessão de crédito — mais justa, personalizada e alinhada às reais condições de cada consumidor.
Open Finance: do conceito à prática
O Brasil já é um dos países mais avançados do mundo em regulamentação de Open Finance. Segundo Bruno Chan, CEO da Klavi, “o Brasil é líder global nesse setor: é o maior mercado de Open Finance do mundo, o que mais cresce, o que mais atrai investimento e o que possui a regulamentação mais avançada e favorável.”
Mais de 10 milhões de pessoas aderiram ao sistema apenas em 2025, e a expectativa é que o número ultrapasse 80 milhões nos próximos anos. Para Bruno, o verdadeiro impacto virá quando as empresas forem capazes de transformar esse capital informacional em decisões estratégicas:
“A Klavi, como provedora de dados e inteligência de Open Finance, vê isso como uma grande oportunidade. E o crescimento forte ocorrerá quando as empresas realmente souberem usar essas informações para tomar decisões mais assertivas.”
O cenário, portanto, não é apenas de expansão — é de mudança estrutural. Startups estão liderando esse movimento, mas os grandes players começam a reagir, diante do novo ritmo do mercado.
“Hoje, a Klavi tem muitos clientes que são startups e já usam dados do Open Finance todos os dias em suas decisões de crédito. Os grandes ainda não têm esse ritmo, mas o movimento está mudando. Estamos vivendo um turning point.”
Moove On 2025: a prática em ação
Esse debate foi o centro do painel “Crédito do Futuro: inclusão com dados alternativos & novas inteligências”, que ocorreu no evento Fórum Moove On 2025. Com representantes da Klavi, Provenir e Dotz, o painel destacou o uso real de dados não tradicionais, inteligência artificial e machine learning para redefinir os critérios de concessão de crédito no país.
Bruno Chan reforçou a ideia de que o movimento começa “de baixo para cima”, com as fintechs puxando a transformação:
“As startups já estão usando dados do Open Finance todos os dias. O movimento começa pelos desafiantes, mas os grandes bancos também estão acordando para isso. Estamos vivendo um ponto de virada.”
Ele também destacou a importância da integração dos dados à jornada de decisão de forma ágil e ética: “O maior crescimento vem quando as empresas realmente sabem usar a informação. Ainda há muito espaço para crescer — e o caminho é sem volta.”
Dados que contam histórias (e evitam riscos)
O painel também trouxe outras perspectivas. Denis Lopes, da Provenir, falou sobre como a empresa já utiliza machine learning e IA para atender com mais precisão públicos historicamente subatendidos, como as classes C e D. Daniel Kamo, da Dotz, destacou o uso de dados de fidelidade e consumo como vantagem competitiva:
“O fato de atuarmos diretamente nos canais de consumo nos dá acesso a um nível de detalhamento comportamental que enriquece significativamente nossas estratégias de análise”.
A convergência entre dados alternativos, comportamento de consumo e IA permite uma leitura mais refinada dos perfis de risco e abre espaço para uma nova forma de inclusão: a inclusão orientada por inteligência.
O crédito hiperpersonalizado está mais perto do que nunca
Com base na análise em tempo real de dados financeiros, hábitos e interações digitais, a grande tendência é a personalização radical da oferta de crédito. O próprio Bruno Chan reforçou esse ponto:
“Estamos muito próximos de oferecer crédito com taxa personalizada. Isso nunca foi feito no Brasil — mas já é tecnicamente viável, e em breve será realidade.”
A proposta é que os modelos de decisão ajustem não só o limite, mas também as condições do crédito, como taxa de juros, prazos e garantias — tudo com base em dados atualizados, seguros e consentidos pelo próprio consumidor.
Mais dados, mais inteligência, mais inclusão
O avanço do Open Finance no Brasil não é apenas uma tendência: é um movimento irreversível, que redesenha as bases do sistema financeiro. Para os profissionais de cobrança, vendas e crédito, entender esse cenário é fundamental para atuar com mais precisão e impacto.
“O Open Finance já é essencial e irreversível, assim como foi o Cadastro Positivo. Quem entender isso primeiro terá uma vantagem imensa”, conclui Bruno.
O crédito do futuro será moldado por dados reais, comportamento atual e análises inteligentes. Quem souber usar essa nova matéria-prima com responsabilidade e criatividade estará à frente das transformações do mercado.
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