Por: Marcelo Cuellar

Segundo o instituto norte-americano de pesquisa Economic Policy Institute, os presidentes das maiores empresas americanas receberam em média US$ 15,2 milhões de remuneração no ano passado – quase 300 vezes o valor recebido por um trabalhador médio do mesmo setor. Apenas como referência, em 1965, cada CEO ganhava 20 vezes o salário de um trabalhador médio, segundo o mesmo instituto de pesquisa.

Então eu me pergunto: um executivo – por mais diferenciado que seja – pode realmente entregar 300 vezes mais valor ao acionista do que o trabalhador médio do seu setor? Se a resposta for não, podemos inferir que conselhos de administração estão queimando dinheiro em remuneração executiva que não necessariamente gera valor aos acionistas.

Esta é uma das constatações de que os sistemas de gestão presentes nas empresas não estão sendo efetivos em trazer o melhor resultado aos acionistas. Mas há ainda mais: em outra recente pesquisa junto a mais de 4.500 gerentes seniores, diretores e presidentes, a DMRH (em parceria com a Nextview People) constatou que executivos consideram as diferentes empresas do mercado, similares entre si em suas práticas de gestão. Isto leva estes executivos a não valorizarem a empresa atual onde trabalham, nem as outras companhias do mercado.

Ainda segundo a DMRH, desde o início da realização da pesquisa, há três anos, vem caindo o número de executivos que de fato escolhem uma “empresa dos sonhos”; somente 11% deles escolheram a atual companhia onde atuam como sua organização “dos sonhos”. O que preocupa neste aspecto é que são estes executivos que servem de modelos para todos os demais profissionais da empresa.

A mesma pesquisa ainda traz o impressionante número de quase um terço (29% dos profissionais entrevistados) que ao serem perguntados o que as organizações esperam deles, não hesitaram em responder “resultados a qualquer custo”. Nem vou questionar o modelo de gestão das empresas que adotam esta prática, porque prefiro refletir sobre os potenciais resultados que este modelo de gestão pode trazer; para a empresa, para o seu corpo executivo, para a sociedade e – por que não? – para o planeta.

Sim, precisamos rever nossos modelos de gestão. Não é uma opinião, já é fato. No post de Daniel Karrer divulgado aqui no meu blog (leia aqui), há uma reflexão sobre este tema. E ela precisa ser ampliada.

Talvez o caminho para os novos modelos de gestão deva ser alicerçado por dois pilares: valores organizacionais e a a práticas da academia. Valores organizacionais arraigados (e não somente proferidos no dia de integração dos novos funcionários) e praticados pela alta gestão, são um dos indicadores de que há um norte seguido pela empresa. Isto garante uma sintonia de ações, estratégias e uma “proteção natural” aos modismos de gestão.

O segundo é o papel da academia. É claro que a indústria acadêmica também precisa gerar valor aos seus acionistas ou controladores, mas é preciso cuidar para que a atuação acadêmica e de pesquisa não se torne uma repositora da prateleira de “produtos de gestão para consumo imediato”.

Mas não há pessimismos, estamos caminhando! Já ouço em entrevistas executivos perguntando sobre as práticas de governança corporativa das empresas para as quais eles se candidatam em um processo seletivo e também a preocupação das organizações de não contratar o executivo que atinge os resultados esperados a qualquer custo.

Um maior grau de governança corporativa, um sistema de fiscalização coerente e honesto, executivos mais cientes do seu papel mais abrangente nas organizações e na sociedade e um consumidor mais exigente em seu esforço de consumo, ajudarão a premiar os novos modelos de gestão que estão por vir. Já temos muitos bons exemplos, não só no exterior mas no Brasil também.

Tenha certeza que este é o caminho.

BOA SORTE!

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