Por: Sofia Esteves

Tenho quase 30 anos, sou formado em administração de empresas e iniciei minha carreira na área comercial de um banco atraído basicamente pela possibilidade de alta remuneração. Após alguns anos nessa atividade, percebi que não tinha mais interesse em continuar. Pesaram nessa decisão o baixo controle na carreira e a alta suscetibilidade de uma demissão ao não cumprimento das metas cada vez mais agressivas, devido ao cenário econômico nacional. Atualmente, trabalho como gerente financeiro em uma empresa de pequeno porte, porém gostaria de mudar de emprego e, eventualmente, até de função. Como fazer a transição, considerando que os recrutadores deverão ponderar mais meu perfil pessoal e disposição para mudanças do que minhas experiências profissionais anteriores – que não vão estar correlacionadas com a nova empresa ou setor?

Gerente financeiro, 29 anos

Resposta:

Ao olhar sua trajetória profissional sob o ponto de vista da Teoria dos Setênios, de Rudolf Steiner, diria que você está vivendo a famosa crise dos talentos. Segundo Steiner, a maturação emocional e profissional pode ser dividida em fases de sete anos (setênios) e cada uma tem característica própria.

No quarto setênio (21 a 28 anos), vivenciamos a crise dos talentos, na qual se enfrenta o dilema da profissão ideal. Vale ressaltar que as faixas etárias utilizadas por Steiner são aproximadas, visto que cada um se desenvolve de uma maneira. A Teoria dos Setênios é só um modelo de referência que pode ajudar a entender alguns momentos de maturidade profissional comuns a diferentes pessoas.

Atualmente, com o crescimento da taxa de expectativa de vida e os estudos sobre o futuro do mercado de trabalho, é possível afirmar que um profissional, no decorrer de sua carreira, vai ter diferentes atuações e exercitar seus mais diversos talentos. Será considerado incomum aquele profissional que do início ao fim viveu uma única rota.

Essa sua mudança é mais frequente do que você imagina. Com 29 anos, você já tem mais clareza de quem é, dos ônus e bônus da vida profissional, e pode olhar com honestidade para suas escolhas e realizações. Sempre é tempo de rever decisões e identificar caminhos profissionais mais alinhados ao atual momento pessoal e àquilo que traz satisfação.

No entanto, é preciso ter em mente que, na maioria das vezes, essas mudanças exigem que você dê alguns passos “para trás”, como na remuneração e no cargo. Está preparado para isso? Houve um planejamento financeiro para dar conta dessa alteração de rota? Conheço muitos profissionais insatisfeitos que não suportam a mudança por não terem se planejado financeiramente para isso e, na primeira dificuldade, retornam para o caminho anterior.

Na sua pergunta não ficou explícito qual o novo caminho que quer seguir. Você tem clareza disso? Caso não tenha, vale procurar uma orientação de carreira para não ter que ficar pulando de área em área ou empresa em empresa. Saber o que você faz bem, quais são seus valores e o que entende por sucesso são fatores fundamentais para a sua escolha ser a melhor possível e correspondente ao seu atual momento profissional.

Caso tenha certeza da área que quer seguir, pode iniciar uma pós-graduação. Isso vai ser importante para ganhar segurança sobre sua escolha e ampliar seus contatos na área, além de ser um sinal para o recrutador de que está decidido a fazer essa mudança.

Outra estratégia é aproveitar a empresa na qual está trabalhando como gerente financeiro e ir se aproximando das rotinas e conhecimentos da nova área. Será que não é possível participar de algum projeto comum às duas áreas? Se sim, verá como isso aumentará as suas chances nas entrevistas.

Para finalizar, recomendo participar de grupos de discussão nas redes sociais sobre a área pela qual se interessa. Procure construir vocabulário, garimpar leituras prioritárias e ampliar sua rede de relacionamento. Tudo isso contribuirá para que a sua mudança seja um sucesso.

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