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Dá para concordar mesmo discordando?

por: Afonso Bazolli
em: Gestão
fonte: Valor Econômico
18 de novembro de 2019 - 17:00

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Em 2013, o Alana lançou um filme que olhava para a epidemia de sobrepeso e obesidade infantil no Brasil. Batizado de “Muito Além do Peso”, o documentário apresentava o retrato de um país que tem, hoje, mais de um terço de suas crianças com sobrepeso. Muitas delas têm problemas de saúde que, normalmente, levariam décadas para aparecer (se aparecer!) – como colesterol alto, diabetes, pressão alta, artroses etc.

Um dos fatores que leva a esse quadro é o consumo exagerado de alimentos hipercalóricos. Bolachas, salgadinhos e refrigerantes, por exemplo, deveriam ser exceção e não regra. O desconhecimento da população em relação à composição desses itens – assim como as normas de rotulagem no Brasil, indecifráveis em muitos casos – fica evidente no filme. Todos os personagens se chocam quando descobrem a quantidade de açúcar presente naquilo que eles consomem corriqueiramente, e servem a seus filhos.

Logo depois do lançamento, fomos convidados para algumas conversas com empresas que, a princípio, não pareciam compartilhar das mesmas preocupações. Essas conversas evoluíram para ações concretas, houve avanço. Parece óbvio, e talvez seja, mas empresas são feitas por pessoas – pessoas que são pais, mães, avôs e avós, e às vezes nos esquecemos disso. É nesse lugar, o das pessoas, que a conversa acontece da melhor forma.

Em 2016, vivemos um processo semelhante com o lançamento de outro filme, dessa vez sobre os primeiros anos de vida de um bebê. “O Começo da Vida” – um filme brasileiro que já foi exibido em mais de 80 países, está legendado em quase 30 idiomas e não cansa de nos surpreender levando a importância do vínculo entre um bebê e seu cuidador a todos os cantos do mundo – também permitiu conversas interessantíssimas.

Empresas concorrentes se posicionaram lado a lado para promover a mensagem do filme. Ao abraçar a causa, se dispuseram também a olhar para seus processos internos. Vimos grandes corporações repensando seus períodos de licença maternidade e paternidade. Vimos, também, servidores do Poder Judiciário se dispondo a revisitar suas práticas diárias para identificar se a criança estava sendo preservada e tratada com prioridade no sistema de garantia de direitos.

Mas o que um fabricante de alimentos, um servidor público, uma organização social e uma multinacional de produtos de higiene têm em comum? Talvez pouco, mas o essencial: gente. As diferenças existem e nos enriquecem. Mas acredito que está na hora de entendermos que não precisamos concordar em tudo para trabalhar pelo bem da sociedade. Há momentos em que é importante deixar de lado o que nos difere e focar naquilo que nos une. Temos que encontrar espaço para avançar sabendo que há algumas coisas – e crianças com pressão alta e colesterol aos sete anos de idade são um exemplo – que são absolutamente inegociáveis.

A pergunta que se segue a isso, então, é como definir o que é inegociável. Como avançar em direção à construção de uma agenda comum, que privilegie o interesse público e que estabeleça essa diretriz, na concepção da sociedade brasileira? Estabelecer compromissos – sejam eles de uma empresa, da sociedade civil ou mesmo de um partido político – a partir dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável seria, para mim, um ótimo caminho. O diálogo precisa ser ético e transparente entre todos os setores, e a agenda global dos ODSs pode servir como norte.

Vale ressaltar também que esses compromissos serão tão mais ricos quanto mais forem construídos por um grupo diverso de pessoas. Tem gente que ainda reclama “desse papo de diversidade”… Tem gente que ainda faz eventos onde 100% dos palestrantes são homens e brancos e nenhum deles tem algum tipo de deficiência. Para mim, diversidade é essencial. Não é chatice, não é para cumprir cotas, não é para ser politicamente correto. É, essencialmente, para ampliar olhares, trazer outros pontos de vista para a conversa. É sair de um lugar de conforto, é olhar para o lado e evoluir. O interesse público, o bem comum, não é construído a partir dos interesses de um pequeno grupo. A premissa, tão básica quanto esquecida, precisa ser levada a sério.

E, quando o grupo ficar tão diverso que nada mais parece uni-lo, talvez seja a hora de voltar a olhar para os valores que os fizeram, minimamente, aceitar o convite de estar juntos. Que mundo é esse que queremos construir? Um mundo sem fome? Um mundo onde as crianças têm acesso a uma educação de qualidade, independentemente de onde tenham nascido? Um mundo de paz? Realinhar os sonhos – esses mesmos, os grandes! – nos ajuda a seguir desenhando estratégias e ações.

Hoje, depois de 20 anos bastante focada no trabalho desenvolvido na organização de impacto social que presido, o Alana, volto a olhar com mais cuidado e presença para o mundo corporativo. E faço isso porque acredito que os avanços surgem, essencialmente, da colaboração entre o setor público, o privado e as organizações sociais. Essa troca acelera as mudanças, e não podemos mais desviar dela e seguir fazendo o mais fácil. São essas transformações que eu me proponho a apoiar.

Sou do time das otimistas. Acredito que estamos vivendo um momento de transição importante e sou colecionadora das pequenas e grandes vitórias, das gigantes transformações individuais e das singelas transformações coletivas. Comemoro o que vejo, porque o que vejo é uma evolução das pautas, com uma maior participação social, com mais debate e com questões mais profundas vindo à tona, apesar de reconhecer que por vezes ainda regredimos.

O momento atual é complexo, mas quando damos um passo para trás e enxergamos o momento histórico mais amplo, não cabe desânimo. Cabe um olhar a nós mesmos e às nossas práticas diárias em busca de espaço para fazer mais e melhor. Hoje, já temos a compreensão de que a neutralidade de alguma maneira se traduz em omissão. O silêncio nos faz cúmplices. Por isso, nos engajemos todos em um diálogo sobre como construir um mundo melhor. A única premissa, do grupo das inegociáveis, é que ele seja melhor para todo mundo, e não só para nós mesmos.

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