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É muito perigoso se sentir apaixonado pelo trabalho

por: Afonso Bazolli
em: Gestão
fonte: Valor Econômico
19 de abril de 2015 - 14:00

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Por: Lucy Kellaway

Um dia desses fiz uma palestra para cerca de 80 pessoas de meia-idade, a maioria homens tributaristas. Pedi a eles que levantassem as mãos caso se considerassem apaixonados por seus trabalhos. A metade levantou a mão rapidamente e o restante, vendo para onde a coisa caminhava, também acabou levantando.

Não havia nada visivelmente apaixonante naqueles homens; eles pareciam melancólicos e derrotados após passar uma manhã vendo alguém exibir duas centenas de slides sobre as maravilhas dos preços de transferência. Mas a resposta não me surpreendeu. A moda da paixão, sobre a qual escrevi há cerca de 20 anos, chegou a um ponto em que admitir em público que você não morre de amores pelo seu trabalho é algo tão chocante quanto admitir que você frauda suas despesas.

Se você digitar “paixão” no site de empregos Glassdoor, a busca devolverá 105 mil empregos que a exigem. Mas tente digitar “escrupuloso” – certamente um atributo muito mais valioso em qualquer emprego – e você terá apenas 2.823 citações.

Anunciei aos meus tributaristas apaixonados que não sinto nenhuma paixão pelo meu trabalho. Expliquei que gosto do meu emprego. Tenho sorte de tê-lo e não consigo pensar em nada que seja mais adequado para mim. Eu me importo com ele. Mas não sou apaixonada. Observei que a palavra “paixão” refere-se propriamente a uma forte atração sexual ou ao sofrimento de Jesus Cristo no momento da crucificação, sendo que nenhum dos dois casos é apropriado para o ambiente de trabalho.

Então, pedi mais uma vez a participação da plateia. Desta vez, todos decidiram que, afinal, não eram tão apaixonados pelas questões tributárias. Nessa hora, tomei isso como prova daquilo que sempre assumi ser a verdade – que a moda da paixão foi mais um exemplo cansativo de inflação da linguagem.

Assim como as empresas se referem a todos os seus funcionários como “talentosos”, mesmo quando eles são preguiçosos e medíocres, e mencionam de maneira flatulenta os clientes “maravilhosos” e “encantadores”, elas também insistem que a paixão é um bilhete de entrada para qualquer emprego. É uma coisa fingida e estúpida, mas trata-se apenas de palavras.

No dia seguinte, já na redação, estava lendo uma lista de estudos que virão da Harvard Business School e algo surgiu que me fez pensar que eu estava errada. A insistência na paixão no trabalho é algo muito mais preocupante.

Um estudo intitulado “Sou apaixonado!” tenta desfazer nossa atitude diante das explosões emocionais no trabalho. Na maioria das vezes, as vemos como uma coisa muito ruim: a pessoa que está sempre se desmanchando em lágrimas no ambiente corporativo não é só inconveniente, mas também pouco profissional.

No entanto, os acadêmicos constataram que se a paixão fosse tida como motivo para uma explosão emocional, os colegas de trabalho a veriam de maneira diferente. Quando uma funcionária chora, mas depois explica que aquilo se deveu à sua paixão pelo trabalho, ela passa a ser vista como uma pessoa dedicada e de alto desempenho. Mas quando ela explica que seu choro se deveu a motivos pessoais, é vista como uma idiota.

O mais alarmante é que o estudo mostra que, durante as entrevistas de emprego, os candidatos podem aumentar suas chances de conseguir o trabalho se descreverem uma explosão emocional e então citá-la como evidência de sua enorme paixão por seu trabalho.

Isso é muito perturbador. Se eu me deparar com alguém chorando no trabalho porque, digamos, seu casamento está acabando, verei isso como compreensível. Mas se essa pessoa estiver chorando porque não se saiu bem em uma apresentação na empresa e ela se sente muito apaixonada a esse respeito, então vou querer dizer a essa pessoa para se controlar.

A resposta pode estar em uma distinção feita por Robert Vallerand, um professor de psicologia canadense. Segundo ele, há duas variações de paixão: a obsessiva e a harmoniosa. A primeira é muito ruim. É quando as pessoas trabalham de maneira compulsiva e tudo mais em suas vidas se torna enfadonho e sem importância. Esses são os funcionários que supostamente choram quando fazem uma apresentação ruim – e o tipo de pessoa que os patrões deveriam evitar. São tão compulsivos quanto os jogadores profissionais e é quase certo que vão sofrer um esgotamento.

Por outro lado, há aqueles que sentem uma “paixão harmoniosa” em relação ao trabalho. Eles estão no controle do quanto trabalham e não deixam isso acabar com o resto de suas vidas. Todos deveriam querer se sentir dessa maneira em relação aos seus empregos, e todos os patrões deveriam esperar contratar pessoas assim. No entanto, isso não é paixão. Chama-se gostar do seu trabalho – e se importar com ele. O trabalho é bom se você consegue lidar com ele. Mas não deve ser motivo para você chorar.

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