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“Estar ocupado não significa ser de fato produtivo”

por: Afonso Bazolli
em: Gestão
fonte: Valor Econômico
26 de setembro de 2017 - 18:02

Estar-ocupado-nao-significa-ser-de-fato-produtivo-televendas-cobranca

Por Eduardo Graça

O editor sênior do “New York Times” Charles Duhigg, uma das principais estrelas da equipe de repórteres investigativos do jornal entre 2006 e 2015, Prêmio Pulitzer de reportagem em 2013 pela série de textos em torno da chamada “ieconomia”, lança no Brasil “Mais Rápido e Melhor” (Companhia das Letras), seu segundo best-seller, centrado em orientações para se tornar um indivíduo – ou empresa – mais produtivo, o primeiro tanto no ambiente de trabalho quanto na vida privada.

Foi justamente a insatisfação pessoal depois de receber o mais prestigiado prêmio do jornalismo americano e de celebrar a boa aceitação de público e crítica de seu primeiro livro – o bem-sucedido “O Poder do Hábito” (Objetiva) – que ofereceu o gatilho para “Mais Rápido e Melhor”. “Eu queria saber como me tornar um profissional e uma pessoa mais produtiva e decidi conversar com especialistas no tema – por mim localizados nas mais diversas áreas”, diz, em entrevista ao Valor no prédio do “Times”. O livro acabou tomando a forma de oito capítulos, focados em narrativas cujos cenários podem ser os bastidores da produção de “Frozen” ou um campo de treinamento do Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA. Alguns dos principais trechos da conversa seguem abaixo:

Valor: Depois dos resultados pouco animadores anunciados pela Apple no mês passado, a companhia segue sendo um exemplo de produtividade, de “mais rápida e melhor”?

Charles Duhigg: As pessoas estão dando uma dimensão muito maior do que deveriam a esse episódio. Lá se vão 13 anos de crescimento ininterrupto, um padrão quase impossível de se manter. O último lançamento de peso deles foi o Apple Watch, que se saiu muitíssimo bem se pensarmos em um produto novo, não comparando com os iPhones. A comparação é injusta. É como se um laboratório farmacêutico lançasse um remédio novo e as pessoas reagissem torcendo o nariz, “Ah, mas não é revolucionário como a penicilina”.

Valor: Mas, no livro, o senhor defende justamente que um dos segredos de se manter a alta produtividade é a inovação permanente…

Duhigg: Sim! As ambições não podem diminuir de escala. A ambição de criar produtos revolucionários em escala mundial não mudou na Apple. Quando a Apple apresentou o iPhone, já havia um público maduro o suficiente para o produto. Nós já não vivíamos sem o celular. Nenhum deles, no entanto, oferecia o máximo que um “smartphone” nos permite. A Apple trouxe o iPhone sem arcar com os custos de “treinar” um público para a necessidade do produto. A integração se deu de modo vertical. Foi um momento único, com um produto que mudou a vida de pessoas mundo afora e de empresas também. Por isso você não pode olhar para esses resultados e dizer: “Há algo de errado com a Apple agora”. A revolução tecnológica por eles iniciada, aliás, criou uma série de empresas que não existiriam sem o iPhone.

Valor: O senhor pensa aqui na “economia compartilhada”…

Duhigg: Exatamente. Pense no Uber. Toda uma nova gama de negócios foi criada por causa do iPhone. Não se pode dizer que a diminuição de lucro da Apple é ligada diretamente a uma redução de produtividade. O princípio de “Mais Rápido e Melhor” é o de que pessoas e empresas mais produtivas são aqueles que se forçam a pensar mais profundamente sobre suas prioridades a médio prazo. É sobre como afiar seus objetivos. O aplicativo da produtividade é o mesmo de séculos a fio: pensar.

Valor: Pensar, no trabalho, virou artigo de luxo, não?

Duhigg: Daí a importância de se distinguir entre “estar ocupado” e ser de fato produtivo. Em alguns momentos manter-se extremamente ocupado implica em ser menos produtivo, pois há menos tempo para a reflexão. Descobri que quem se sucede melhor nesse quebra-cabeças, indivíduos e empresas, são os que criam “rotinas de contemplação”.

Valor: O que nos remete a seu livro anterior. O que são essas rotinas?

Duhigg: São práticas que forçam a pensar mais profundamente sobre cada passo do trabalho. A Apple, por exemplo, dá enorme importância a essas rotinas. Uma das características fundamentais da Apple é a de não apresentar ao mercado um produto de forma precipitada, não estão obcecados pelo lucro quadrimensal. Não vão lançar um produto apenas para alavancar os ganhos a curto prazo. O tempo pode ser maior, mas o central, aqui, é garantir um mercado sustentável para seus produtos. É, provavelmente, por isso, a empresas mais produtiva do planeta hoje. É quem cria um produto que dará lucro por 13 anos a fio!

Valor: E como fazer a tradução dessas rotinas para nossas vidas privadas?

Duhigg: Antes de mais nada, precisamos reconhecer que somos, no mundo dos negócios, produtivos em alguma escala. Menciono uma pesquisa no livro sobre produtividade de executivos para se identificar os que geravam mais lucro para a empresa, os que eram mais influentes no escritório, os que galgaram uma posição de liderança mais rapidamente. Pois eram, em todos os casos, os que estavam tocando de quatro a no máximo sete projetos ao mesmo tempo. Estes tinham uma produtividade muito maior do que os que tocavam 12 projetos, por exemplo. Mais: eram projetos completamente diferente uns dos outros e tocados desde o início pelos executivos. Diversidade e mão na massa desde o início forçam o profissional a pensar, a refletir, a assumir uma postura mais estratégica, como se fosse um designer, em relação ao trabalho.

Valor: No livro o senhor usa como exemplo a lista de tarefas futuras e como ela pode ser um pontapé para uma mudança radical de atitudes no trabalho e em casa…

Duhigg: Sim, aqueles executivos reescreviam a lista todos os dias. E colocavam no topo a mais complexa, a mais difícil, aparentemente, de se alcançar. Eles se forçam a modificar prioridades, a identificar diariamente as tarefas mais importantes, capacidade de edição mesmo. Não é apenas mais uma lista de tarefas ordinária.

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