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Faltam conversas francas vindas do alto escalão

por: Afonso Bazolli
em: Gestão
fonte: Valor Econômico
12 de setembro de 2018 - 18:02

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Por: Betania Tanure

“Cala boca já morreu, quem manda na minha boca sou eu!”. Essa frase é um provérbio que crescemos citando, ouvindo e incluindo em nossas brincadeiras.

Recentemente a frase “o cala boca já morreu” foi resgatada pela ministra Cármen Lúcia Antunes Rocha, presidente do Supremo Tribunal Federal, para falar da tão necessária liberdade de imprensa.

A abordagem da ministra, uma pessoa por quem tenho grande apreço e uma profissional com retidão de caráter e competência raras, foi muito oportuna. A liberdade de imprensa é condição ‘sine qua non’ para a existência de um sistema emocrático, embora governantes totalitários e populistas queiram afastá-la – alguns explicitamente, outros de modo mais sofisticado e tácito. Mas trago aqui esse provérbio na perspectiva das nossas empresas e instituições.

O sistema autocrático, herança de gerações, está refletido na ausência da conversa franca, especialmente com pessoas que ocupam posições mais altas na hierarquia. O sistema autocrático, herança de gerações, está refletido na ausência da conversa franca, especialmente com pessoas que ocupam posições mais altas na hierarquia. No ambiente empresarial, as pessoas evitam expressar claramente o que pensam ou sentem. Em outras palavras: é raro falar a verdade crua e nua para o chefe, seja ele quem for. Temos aí a representação inegável de um cala-boca ainda em vigor em nossas organizações.

Por um lado, essa situação é alimentada pela quase generalizada falta de coragem de confrontar quem está no poder. Há o pressuposto, de origem cultural, de que qualquer conversa mais franca traz desconforto. O resultado disso é que as pessoas vão se tornando cada vez mais queixosas e emocionalmente vulneráveis. Em linguagem bem atual, “cheias de mimimi”.

O outro lado da moeda é o comportamento do tipo “pele fina” de boa parte dos que ocupam posições de poder. Falo do executivo que se percebe muito bem-sucedido e que não teve como escola o recebimento de feedbacks assertivos. Ele se acostumou a receber elogios, a achar que é perfeito e se sente afetado quando alguém lhe diz diretamente, por exemplo, que o projeto dele não está funcionando.

A confusão está armada. Para piorar, devido à falta de hábito de falar com franqueza, não sabe lidar com a sinceridade do outro. Mais “mimimi” instalado e reforçado. A área não teve bom desempenho? A culpa é da Lava-Jato. As vendas não atingiram a meta? O câmbio é o responsável. Se a economia não cresce, ele repete: “só faço cortar custos, cortar e cortar” – e se diz chateado quando recebe o feedback claro do conselho de administração de que o desempenho da empresa não está como esperado.

A combinação do cala boca com o mimimi cria as condições perfeitas para o baixo desempenho. Se a gestão está nas mãos de pessoas de caráter frágil, abre-se uma porta para práticas não republicanas, e a impunidade é decorrência natural desses fatores.

Quando são apontadas práticas escusas, alguns afirmam que “não tinha outro jeito”, outros que “esse era o nome do jogo”. Às vezes me pergunto: por que essas pessoas que conseguiram se reunir em torno de um objetivo comum não publicável não se reuniram para pressionar os clientes ou os órgãos de acompanhamento e controle a fazer o que deve ser feito, a fazer as coisas de forma correta e publicável? A razão foi a preguiça? E por que não acreditaram que poderiam ser presos? Por falta de valores? Talvez a maioria tenha achado que, afinal, “sempre foi assim”…

Enquanto isso, o cala boca, a pele fina e o mimimi permanecem vivos. É preciso coragem para romper, coragem para mudar o fluxo natural das coisas. Temos de expurgá-los para valer e, enfim, avançar como cidadãos, como empresas e como país.

A ausência de conversas francas é impeditiva de desenvolvimento, que aliás só acontece com desconforto e esforço. É preciso lembrar sempre que a régua é móvel e que, a despeito de condições de contexto difíceis e complexas, há empresas que obtêm resultados admiráveis. Então, chega de pele fina, chega de mimimi! Acabe de vez com o “cala boca” e… mãos à obra”!

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