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Os melhores trainees sempre consideram os chefes estúpidos

por: Afonso Bazolli
em: Gestão
fonte: Valor Econômico
08 de dezembro de 2015 - 18:02

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Por: Lucy Kellaway

Na semana passada, conversei com um recém-formado que começou a trabalhar para uma das mais prestigiadas empresas do mundo. Perguntei como ele está se saindo. Ele respondeu que está indo bem, apesar de nas últimas três semanas tudo o que ele fez foi ficar sentado em várias salas, com todo tipo de pessoas da companhia conversando com ele.

O que mais o impressionou até agora é que, quanto mais alta a graduação dentro da organização, mais estúpidas as pessoas parecem ser. Seus colegas trainees são quase todos brilhantes, e as pessoas do escalão seguinte também são muito inteligentes. Mas aqueles com mais de dez anos de casa são chatos, enquanto alguns dos sócios parecem beirar a imbecilidade.

Perguntei se ele tem alguma explicação para isso. Ele me olhou como se eu fosse idiota e disse que é a seleção pessoal. Pessoas realmente inteligentes não ficam nas instituições para as quais se esforçaram tanto para entrar. As melhores vão embora em dois ou três anos; aqueles ligeiramente menos bons ficam um pouco mais e apenas os medianos e os sem imaginação ficam por muito tempo.

Como há quase 30 anos trabalho em uma companhia que também contrata alguns dos recém-formados mais brilhantes, não era exatamente o que eu queria ouvir. Isso não aconteceu no “Financial Times”, protestei. “Veja só o Martin Wolf! Nosso melhor e mais popular colunista está conosco desde sempre”. Ele deu de ombros e disse que talvez no jornalismo seja diferente.

Comecei a refletir com amargura sobre a arrogância dos jovens. Quando comecei, não achava que aqueles que estavam acima de mim eram deuses, mas pelo menos eu concedia a eles o benefício da dúvida.

Desde então, venho pensando em nossa conversa. É verdade que os mais espertos hoje usam os grandes empregadores como um campo de treinamento e trampolim. Isso significa que os patrões precisam parar de se esforçar para contratar os melhores, uma vez que vão perdê-los mesmo – ou que eles devem fazer um melhor uso de seus talentos pelo breve período que terão essas pessoas em suas folhas de pagamento.

É uma grande mudança em relação a quando eu era uma recém-formada e trainee. Em minha admissão no JP Morgan, na década de 80, não havia uma corrida dos mais espertos até a porta de saída. De um grupo de dez pessoas, as duas que desistiram após os dois primeiros anos não eram exatamente as mais brilhantes, e sim as mais desajustadas – nós éramos aquelas que nem deveriam ter sido contratadas em primeiro lugar. Mesmo assim, há três outras explicações para o escasseamento do brilhantismo nas grandes organizações.

Para começar, o processo de admissão é muito melhor hoje. Há mais recém-formados disputando as melhores vagas, o que significa que elas ficam com as pessoas mais competentes academicamente, que fizeram estágios, falam 16 idiomas, são excelentes em codificação e já rodaram o mundo. O novato brilhante de 20 anos atrás não teria mais a menor chance.

A segunda explicação não é que os medíocres permanecem nas empresas, e sim que o ato de ficar os torna medíocres. Anos de trabalho pesado e repetitivo no escritório apagam qualquer brilho e, em todo caso, não há incentivos para ficar, pois o mundo corporativo não dá importância a isso. Em vez de recompensar o brilhantismo, ele prefere habilidades que os recém-formados não podem ver: bom julgamento, educação com os clientes e um instinto para saber quando ficar quieto. Mesmo que os chefes de hoje não sejam chatos, eles rapidamente aprendem a parecer chatos.

O último motivo é o que mais me incomoda. Pode não ser verdade que os gestores sejam muito mais estúpidos que os recém-formados. É que os dois lados simplesmente não conseguem conversar entre si e são cegos aos pontos fortes uns dos outros. Os mais velhos e os mais novos sempre tiveram problemas de comunicação no trabalho, mas isso nunca foi tão evidente como agora.

Os trainees que estão ingressando no mercado de trabalho neste ano estão entre os primeiros a terem crescido com a internet, o que significa que eles se comunicam, pensam e adquirem conhecimento de maneira diferente – e fazem coisas diferentes com ele. Eles olham para os sócios e veem lentidão; os sócios olham para eles e sentem-se desanimados com seu vocabulário limitado e se perguntam se eles já leram um livro na vida.

Estive com nossos próprios trainees brilhantes dias atrás e, pela primeira vez, me senti meio confusa. De certa maneira, é estimulante saber que eles vão abordar o jornalismo de uma maneira muito diferente da minha, mas isso também não deixa de ser perturbador.

Enquanto eu falava sobre as coisas que acho interessantes, percebi que me olhavam de uma maneira estranha; eles podiam estar pensando ‘essa mulher é uma idiota’ – ou um gênio -, ou podiam ainda estar contando as horas para o almoço. O problema é justamente esse: não consegui interpretá-los bem o suficiente para descobrir.

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