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Rastro digital pode impedir contratação de executivos

por: Afonso Bazolli
em: Gestão
fonte: Valor Econômico
30 de agosto de 2017 - 18:02

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Reta final da escolha de um executivo para cargo importante em uma grande multinacional. Depois de superar as etapas iniciais de avaliação, os três finalistas são submetidos a um filtro que se tornou obrigatório em processos do gênero: a análise detalhada da “persona” digital – ou seja, a investigação de tudo o que é possível saber sobre a pessoa a partir de pesquisas na internet. A equipe responsável pela seleção descobre então que um deles, justamente aquele que vinha sendo considerado favorito por conta do excelente currículo e da formação primorosa, havia compartilhado em uma rede social um post supostamente bem-humorado, mas com conteúdo que remetia a preconceito religioso.

A informação foi acrescentada ao dossiê sobre o profissional e, ao se deparar com ela, o CEO responsável pela decisão não hesitou em eliminá-lo da disputa, por considerar que o perfil estava em desacordo com os padrões de conduta defendidos pela corporação. “O profissional em questão nem sequer ficou sabendo que esse foi o motivo da eliminação”, conta o presidente da consultoria de recrutamento Elancers, Cezar Tegon, que acompanhou de perto o episódio, ocorrido no fim do ano passado. “Casos semelhantes têm acontecido com frequência e muita gente nem se dá conta dos rastros potencialmente negativos que vão sendo deixados no mundo digital”, alerta.

O caso descrito acima é um bom exemplo de prejuízo à carreira causado por aquilo que os especialistas vêm chamando de “passivo digital” ou até mesmo “karma digital” – sensação que o diretor comercial da empresa de hospedagem de sites Locaweb, Alex Glikas, conhece bem. Até hoje, quando o nome dele é digitado nos mecanismos de busca, surgem logo nas primeiras páginas dos resultados diversas referências a um episódio de 2010 que teve muita repercussão e, por conta disso, “eternizou-se” na internet.

Torcedor fanático do Corinthians, Glikas comemorou no Twitter a vitória por 4 a 3 do seu time sobre o São Paulo – e o fez com provocações aos amigos que torciam para o adversário, como é normal e corriqueiro no universo futebolístico. O problema é que o nome da Locaweb estava estampado no uniforme do São Paulo naquele jogo e o comentário passou a ser compartilhado por torcedores são-paulinos que se mostravam indignados com a postura do diretor de um patrocinador do clube.

A situação se tornou tão incontrolável que a Locaweb decidiu anunciar a demissão de Glikas para tentar conter os estragos na reputação da empresa. Quatro meses depois, quando a poeira já havia baixado, o executivo foi readmitido para o mesmo cargo, que ocupa até hoje. Havia, no entanto, aprendido uma grande lição: já que na internet as coisas podem tomar proporções gigantescas em pouco tempo, é preciso pensar duas vezes antes de apertar a tecla “envia”- mesmo quando você imagina estar falando apenas com amigos, como era o caso de Glikas. “Não existe mais separação entre vida pessoal e profissional. Tudo o que você faz em um dos campos atinge o outro, e vice-versa”, diz ele.

O executivo considera o episódio superado e percebe que o caso vem sendo cada vez menos lembrado na medida em que o tempo passa, mas eventualmente ainda se vê obrigado a voltar ao tema por conta dos registros que sobrevivem na internet – e que provavelmente o perseguirão por muitos anos. “Seria ótimo se isso não aparecesse quando as pessoas pesquisam sobre mim, mas, como é inevitável, só me resta tratar o assunto com transparência quando alguém fala sobre isso”, conforma-se.

De fato não há como ter controle total sobre o que a internet mostra, mas é possível agir para melhorar a reputação on-line. Em casos extremos, pode-se recorrer a profissionais que fazem esse tipo de trabalho, tanto para empresas quanto para pessoas físicas – mas o serviço não é barato. Em situações menos complexas, as principais ações dessa estratégia podem ser realizadas pelo próprio interessado. O primeiro passo é revisar a atuação nas redes sociais, eliminando posts e comentários que possam gerar algum tipo de interpretação indesejada.

Depois é hora de fazer uma busca completa na rede para identificar fontes de informações negativas ou inconvenientes. Pode-se entrar amigavelmente em contato com os respectivos sites pedindo a remoção da informação – ou, diante de insucesso, enviar um aviso de remoção via advogado. Por fim, resta a alternativa de tentar abafar um eventual conteúdo negativo com a produção maciça de informações positivas e a utilização de ferramentas para que essas informações ganhem prioridade nos sites de busca.

Diante dos riscos de ver a reputação arranhada, boa parte dos executivos prefere se manter distante das redes sociais – ou limitam sua participação às redes essencialmente profissionais, como o LinkedIn. Os consultores alertam, entretanto, que a fuga não é o melhor caminho. “As empresas serão cada vez mais cobradas por transparência e seus executivos estão na linha de frente desse processo”, diz Paulo Crepaldi, da I NG Marketing & Training.

Não é por acaso, ressalta ele, que a participação pessoal em redes sociais dos CEOs das 50 maiores empresas globais saltou nos últimos anos de 30% para 80%. No Brasil, a onda de adesão no alto escalão das empresas parece ainda não ter alcançado a mesma dimensão. Dos 23 executivos de diversos setores premiados na última edição do prêmio Executivos de Valor, 15 não têm perfil no Facebook.

No grupo dos que mantêm perfis abertos na maior rede social do mundo está Fábio Luchetti, presidente da seguradora Porto Seguro. Ele se diferencia por ser um usuário frequente e que mescla posts ligados ao trabalho, como a divulgação dos eventos organizados pelo espaço cultural mantido pela empresa, com informações da vida pessoal, a exemplo do anúncio com foto da chegada de um novo cãozinho em sua casa.

Luchetti também compartilha notícias que considera relevantes e não se exime de se posicionar em temas polêmicos, como a situação política do país – no mais recente post sobre o tema, defendeu a ideia de que, independentemente da ideologia de cada um, é hora de arregaçar as mangas e contribuir para a recuperação do crescimento econômico. “O meu estilo de lidar com as redes sociais está totalmente sintonizado com a cultura da empresa para a qual trabalho. Uma seguradora depende basicamente de credibilidade e dos relacionamentos que vai construindo”, diz o executivo.

Um dos efeitos positivos da forma aberta como lida com as redes sociais, destaca ele, é que seu perfil no Facebook se transformou numa espécie de “Fale com o Presidente” informal – muitas mensagens privadas chegam até ele via rede social, tanto de clientes como de subordinados. “Já recebi denúncias de funcionários que se sentiram mais à vontade usando esse canal do que os oficiais estabelecidos pela empresa, com receio de que estejam de alguma forma viciados.”

“Aqui as pessoas sabem que falam diretamente comigo, e só comigo, porque todos sabem que cuido pessoalmente do meu perfil e que disso eu não abro mão”, diz. Preocupado em dar o exemplo e demonstrar que não vive em função das redes sociais, Luchetti nunca publica mais que três posts no mesmo dia e só faz postagens em horários fora do expediente – de manhã cedo, à noite ou no intervalo do almoço.

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