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Seu talento pode ser invisível aos algoritmos recrutadores

por: Afonso Bazolli
em: Gestão
fonte: Valor Econômico
23 de outubro de 2019 - 17:00

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Outro dia li um artigo sobre restaurantes mexicanos que me deixou intrigada sobre o futuro dos humanos na área de recrutamento. Explico. Um cientista de dados criou um algoritmo para tentar descobrir por meio de posts da internet qual era a opinião das pessoas sobre os restaurantes mexicanos.

Para sua surpresa, o algoritmo chegou à conclusão que eles eram muito malvistos pela sociedade. Intrigado, já que basicamente em todos os países se consome comida mexicana, ele resolveu ir mais a fundo e investigar o que poderia ter ocorrido. Ele descobriu então que o algoritmo tinha associado a palavra “mexicano” a “ilegal”, por conta dos problemas com a imigração para os Estados Unidos. A rejeição não tinha nada a ver com tacos ou guacamole.

Fiquei pensando nas consequências de erros como esse no momento em que o recrutamento feito por inteligências artificiais (IA) começa a ser tornar um negócio milionário em todo o mundo. Essa é uma área que vem crescendo exponencialmente. Para se ter uma ideia, em 2016, ela atraiu para as startups investimentos da ordem de US$ 863 milhões nos EUA, o triplo de dois anos antes, segundo o site TeleCrunch.

Basicamente essas novas companhias de recrutamento programam algoritmos que se tornam capazes de garimpar entre uma montanha de currículos aqueles que estão mais ajustados ao perfil idealizado pela empresa contratante. Os candidatos selecionados são os que alcançam os chamados “pontos de adequação”. Essa varredura tecnológica, que não exige interação humana, reduz custos, diminui o tempo da seleção e em alguns casos, escolhe pessoas que vão permanecer por mais tempo nos cargos, segundo alguns estudos. O melhor cenário possível, você deve estar pensando.

Nem tanto. Os mais críticos a esses processos dizem que, por serem alimentados por humanos, os algoritmos seguem padrões e podem incorporar alguns preconceitos inconscientes de seus criadores. Errar é humano, a máquina não tem culpa. Ao buscar dados de quem trabalha na empresa, a IA pode chegar à conclusão, por exemplo, de que a melhor pessoa para trabalhar ali é um homem, branco, com 35 anos e que estudou em determinada faculdade e pronto. É o fim da busca por mais diversidade e inclusão.

As companhias de tecnologia sabem disso e estão tentando melhorar seus dispositivos para evitar essas distorções. Elas também estão cientes de que as pessoas não gostam muito da ideia de serem atendidas por máquinas, então hoje muitas estão procurando “humanizar” os processos para que os candidatos não se sintam tão abandonados.

Algumas companhias usam chatbots para dar mais “vida” às suas inteligências artificiais, e dão a eles nomes charmosos como Mya ou Olivia. Elas atendem o candidato pelo nome e até conversam. Tudo bem que as respostas são primitivas, mas elas criam a impressão de que você não está sozinho e é isso que as empresas de tecnologia querem.

Nessa garimpagem de currículos, no entanto, fico imaginando erros banais como o que aconteceu com a comida mexicana. Um candidato pode ser um bom líder, ter inteligência emocional e outras habilidades que poderiam interessar a uma companhia, mas em seu currículo não estão os cursos técnicos mais “adequados” à descrição da vaga. Por essa razão, ele pode passar batido pelo algoritmo e não ser selecionado.

Ok, podemos dizer que essa triagem tecnológica funciona para funções mais técnicas – embora as “soft skills” ou as habilidades comportamentais sejam consideradas cada vez mais relevantes e complementares em qualquer área – ou que ela seja mais indicada para vagas menos qualificadas. Pensando no Brasil, imagino como fica a situação daquele trabalhador que aprendeu tudo na prática, que entende pouco de tecnologia, mas ainda tem muito que o que oferecer na sua função simples e necessária.

Uma diretora de recursos humanos de uma multinacional, com quase 6 mil funcionários e que atua em 9 estados brasileiros, me disse que, enquanto o discurso da sua companhia caminha para o uso de mais tecnologia no recrutamento, para encontrar candidatos em cidades pequenas ela ainda precisa alugar um carro de som, daqueles que ouvimos gritando “pamonhas, pamonhas, pamonhas”.

Tudo bem, sabemos que o uso de tecnologia no recrutamento é um caminho sem volta e esse pode parecer um exemplo extremo, mas o Brasil é enorme, diverso, desigual e os robôs para atuar aqui vão precisar aprender a lidar com isso. Entender como funciona esse país não é nada fácil, nem para as inteligências artificiais mais evoluídas.

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