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Você está pronto para não ter chefe no trabalho?

por: Afonso Bazolli
em: Gestão
fonte: Exame
29 de setembro de 2014 - 18:02

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Paulatinamente, o modelo de gestão sem hierarquia tem ganhado adeptos ao redor do globo; veja o que é preciso para trabalhar em uma empresa sem chefes

Por: Talita Abrantes

Que tal trabalhar em um lugar sem metas e, pasmem, sem chefes? Impossível imaginar? Pois isso já é realidade para alguns profissionais ao redor do globo. Entre eles, os funcionários da loja online Zappos, que aderiu ao modelo recentemente.

No Brasil, o Vagas.com limou a hierarquia há quinze anos. E, se depender dos números da empresa, a estratégia parece estar funcionando.

“Nunca crescemos menos de 25% ao ano”, diz Mário Khapan, fundador da empresa e principal acionista – como ele se descreve já que, dentro da estrutura organizacional do Vagas, não há hierarquia e espaço para o cargo de presidente.

Sem CEO, executivos, gerentes, supervisores ou coordenadores, todos têm voz na hora de tomar decisões.

“Não é uma democracia, não é por maioria de votos. As decisões são tomadas por consenso, todas as pessoas têm que concordar”, afirma Khapan. Lá, até o processo de seleção entra no esquema: a equipe inteira participar da entrevista e decide quem será contratado.

Para se ter uma ideia, dos mais de 150 funcionários do Vagas.com, 95 participaram este ano da elaboração do planejamento estratégico de 2014.

Na prática, estes fatos denunciam que, para trabalhar em uma empresa sem chefes, é preciso aguçar algumas habilidades pouco exploradas pelo mercado de trabalho tradicional.

“Richard Daft afirma que gestão é a obtenção de resultados organizacionais de um jeito eficaz por meio de planejamento, organização, liderança e controle”, afirma João Marcelo Furlan, sócio da Enora Leaders.

Para quem não tem chefe, o desafio reside em aplicar estes conceitos na própria rotina – mesmo quando se ocupa um cargo operacional. Entenda:

1. Olhar para além da própria baia

“Em um ambiente de trabalho hierarquizado, a responsabilidade da vivência de valores da companhia é delegada para níveis executivos”, diz o empresário. Sem a expoente figura deles por perto, a responsabilidade passa a ser compartilhada por todos.

Por isso, se em uma companhia tradicional, ter uma visão clara dos negócios é importante, em um ambiente sem líderes institucionalizados, este é um atributo fundamental.

“O profissional não pode olhar apenas para o seu quadrado. Ele tem que olhar todos os processos e desafios”, afirma Sidnei Oliveira, autor do livro “Profissões do futuro”. “Precisa ter uma visão mais ampla de causa e efeito”.

2. Gostar de controvérsia

Com essa visão ampliada sobre o negócio, é preciso caminhar para cada reunião de equipe com disposição para contribuir, discordar e (muitas vezes) ceder.

“É muito importante que as pessoas gostem do processo de discussão e controvérsia. Que saibam ouvir, construir ideias e se desapegar. Essa coisa do desapego é muito concreta”, diz Khapan.

3. Saber planejar

Sem alguém para determinar quais são suas prioridades e metas, o planejamento se torna seu melhor amigo durante o expediente. E, neste ponto, respirar e inspirar a cultura, os valores e os objetivos da empresa é crucial – principalmente, se não há metas instituídas, como é o caso da Vagas.com.

Para que isso funcione, além de prioridades, Furlan sugere a criação de indicadores de sucesso para cada ação e ferramentas de controle – para saber como cada objetivo está avançando.

“Quando o recurso cair no seu colo, você tem que tomar decisão e ter um critério claro para isso”, diz o sócio da Enora Leaders.

4. Cultivar a disciplina

Agora, de nada vale ter o planejamento lindo no papel, se na hora de executar, você faz apenas o que “dá na telha”. Por isso, disciplina deve ser palavra de ordem na rotina de uma empresa sem chefes.

“A gente não foi treinado a fazer isso porque sempre tinha alguém que tomava conta”, afirma João Brandão, professor da ESPM. Mas é preciso ficar atento que “quando te dão liberdade, você precisa instituir as limitações”, diz o especialista.

E a disciplina para seguir estes parâmetros é o que vai garantir sua produtividade, eficiência e sucesso na carreira. “Este processo economiza seus recursos, seu cérebro e pensamentos”, diz Oliveira.

5. Fazer networking de verdade

Para boa parte das pessoas, networking só faz sentido quando você está em busca de um emprego – o que é um mito, diga-se de passagem. O fato é que em uma companhia sem hierarquia, conhecer as “pessoas certas” pode ser o elemento que faltava para você conseguir fazer o seu trabalho – no mínimo.

“É saber a quem recorrer diante do tamanho do desafio”, descreve o especialista. Segundo Oliveira, a prática do networking funcional (quando você realmente conhece as pessoas com que se relaciona profissionalmente) ajuda a mapear quem é indicado para assumir cada responsabilidade.

“Quem olha isso é o chefe. Sem ele, o profissional precisa ter o foco no projeto que está tomando conta e quem ele pode chamar para executá-lo”, afirma.

6. Ser um influenciador

A ideia de influência sem autoridade ganha contornos claros neste modelo de gestão. “Não tem mais a ‘carteirada’”, brinca Furlan. “Tem que aprender a liderar, influenciar, trazer engajamento, levar as pessoas para uma mesma direção”.

7. Ser mestre em negociação

Neste ponto, a negociação se torna peça fundamental do trabalho. Afinal, “a sua autonomia desafia a autonomia do outro”, diz Brandão. “Este processo de negociação pura e plena requer pessoas maduras” e preocupadas com o objetivo maior da organização.

8. Alimentar a automotivação (e o desapego)

Se por um lado, não ter chefe dá asas para a autonomia, por outro, uma empresa sem hierarquia implica em nenhuma escada profissional para subir. Em outros termos, não ter alguém acima de você significa que também não há espaço para você crescer.

Isso pode afetar negativamente os profissionais acostumados à ideia tradicional de ascensão profissional – e que se motivam com esta proposta.

Em uma companhia sem hierarquia, “a ideia é que as pessoas venham interessadas em um projeto maior”, afirma Khapan. Sem cargos ou status para mirar, a estratégia é fortalecer a ideia de automotivação. “O foco não é mais o cargo ou organograma, mas, sim, o ‘estamos todos aqui para fazer acontecer’”, diz Oliveira.

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Comentários (2)
  1. Muito se tem dito que líder é aquele que puxa e não aquele que, a exemplo do chefe, empurra. Se observarmos bem esta frase, tanto o líder quanto o chefe, na concepção popular, estão fazendo de tudo, menos liderar, no sentido amplo da palavra.

    Para ilustrar o que estou dizendo, deixe-me dar um exemplo:

    Imagine uma orquestra. Cada músico tem o seu instrumento, escolhido por um misto de dom, afinidade e/ou técnica. Quando digo misto, considero esta a combinação ideal para se formar um bom instrumentista. Veja que se alguém toca piano porque os pais obrigaram, provavelmente não irá tocar a alma dos ouvintes, a despeito de tecnicamente ser perfeito.

    Voltando, após o maestro reunir cada integrante e constatar que todos estão presentes, começa o processo de afinação dos instrumentos. Note que cada músico é responsável não só pela afinação, como pela guarda e zelo do instrumento (aquela flanelinha não é de enfeite. Serve para limpar a saliva nos instrumentos de sopro). O maestro, à disposição e atento a cada som, instrui, ajusta, corrige e auxilia aqueles com mais dificuldade. Raramente você vai ver um maestro tomando o instrumento das mãos do músico e mostrando para ele como é que se toca. A regra é clara e esta à disposição de todos, na figura da partitura, linguagem universal da música. Um músico treinado no Brasil poderá tocar em uma orquestra chinesa, com apenas alguns ajustes. Ninguém ousa desafiar o maestro, tampouco tocar no tom que bem entenderem. O envolvimento do maestro é tal que ao menor sinal de desafinação, ele sabe instantaneamente quais instrumentos desafinaram.

    Parece mágica? Jamais! O maestro investiu horas, talvez uma vida inteira para chegar onde está. No livro Fora de série – Outliers, de Malcom Gladwell (Sextante), o autor defende a tese de que para se chegar à maestria em qualquer atividade são necessárias não menos que 10 mil horas de prática. Cita inclusive os Beatles que em dois anos se apresentaram em público mais do que qualquer outra banda se apresentará durante toda a sua trajetória.

    Certo! Citei que o músico tem que ser bom e que o maestro precisa ser melhor ainda. Mas o que faz uma orquestra de sucesso? Na minha singela opinião, é a dependência do maestro, ou seja, a confiança que os músicos têm na sua pessoa. Ora, se cada músico está concentrado no seu instrumento, precisam depender de alguém que esteja vendo o todo e com uma visão clara do objetivo a ser alcançado, no caso, uma perfeita sinfonia. Mais uma coisa: a partitura de cada músico não é igual a outra. Porém todos precisam acompanhar o contexto para saber quando iniciar, pausar e parar. Qualquer que não seguir fielmente a partitura e a orientação do maestro corre o risco de jogar por água abaixo o conjunto da obra.

    Mas fazer somente o que o maestro manda soa ditatorial? Por que nenhum músico se rebela e faz do seu jeito? Simplesmente porque está muito claro para ele da sua importância (do maestro) na equipe. Está claro também que a decisão do maestro é a certa e não se questiona. Não se trata de regime político, se democracia ou ditadura, mas de um comprometimento tal, que a figura do maestro em meio a música é vista como o elo de conexão com todos os envolvidos, das pessoas aos objetos inanimados, passando pela plateia.

    E aí? Você quer ser líder ou chefe?

    Ismael Pereira em 30 de setembro de 2014 - 10:33
  2. O que diz um consultor de RH sobre esse tema?

    ROBERTO em 30 de setembro de 2014 - 10:27

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