Por: Vanessa Adachi e Vinícius Pinheiro
Prestes a vender o negócio de varejo bancário do Citi no Brasil, a executiva Jane Fraser, que comanda as operações do banco americano na América Latina, procura minimizar a relevância do movimento. “O banco de varejo não é uma franquia grande. Na verdade, é bem pequena”, disse ela ao Valor na última sexta, na sede do banco em São Paulo, durante visita ao país.
Na véspera, Fraser fizera um périplo pelos gabinetes do ministro da Fazenda Henrique Meirelles, do presidente do Banco Central Ilan Goldfajn e da secretária do Tesouro, Ana Paula Vescovi, em Brasília, para, segundo ela, ouvir sobre os planos do novo governo na área econômica e sinalizar a disposição do banco em colaborar com investimentos de longo prazo, a partir dos negócios que serão mantidos no país: o banco de atacado, o banco de investimentos e o private banking.
O Citigroup colocou o varejo brasileiro à venda no primeiro semestre do ano, ao lado das franquias da Argentina e da Colômbia. Segundo pessoas que acompanham as conversas, Itaú e Santander estão na reta final do processo. Fraser não deu informações sobre as negociações. “Ainda não temos um negócio assinado.”
“Ficamos com uma escala aquém da necessária no Brasil”, disse ela, para explicar a decisão de deixar o varejo bancário no país, desfazendo-se das 71 agências e 320 mil correntistas, assim como aproximadamente R$ 8 bilhões em operações de crédito – sobre o edifício sede do banco no país, na avenida Paulista em São Paulo, ela diz que ainda não houve decisão sobre mantê-lo ou não. “Depois da crise de 2008, se você era um banco americano, foi proibido de adquirir outros bancos. E o que aconteceu em várias franquias de varejo mundo afora é que os bancos locais continuaram a consolidar seus mercados e nós não pudemos fazer o mesmo. Foi muito difícil fazer frente a fusões como a do Itaú com o Unibanco”, afirmou.
Segundo Fraser, que é escocesa e conserva um suave acento de seu país de nascimento, nas franquias de atacado e banco de investimento, a dinâmica era inversa da de varejo e daí a decisão de centrar esforços nesses negócios. “Nosso plano agora é crescer no Brasil, em termos de lucratividade e ativos. O que tivemos foi uma mudança de estratégia”, disse Fraser, citando a decisão de outros bancos estrangeiros, particularmente muitos europeus, de encolher o tamanho na América Latina. “Vamos colocar nossos recursos em termos de talentos, tecnologia, capital e investimentos no corporate.”
Fraser, no entanto, não quis informar quanto capital o banco pretende ter no país e qual o tamanho dos ativos que poderão ser mantidos no balanço local e fora do país relacionados a negócios feitos no Brasil. “Claramente seremos menores em termos de número de funcionários no país, mas o Brasil é um dos mercados mais importantes para o nosso corporate e investment banking.” De acordo com ela, o banco atende cerca de 5 mil empresas na América Latina e o Brasil é um dos três mercados principais para boa parte delas, ao lado de Estados Unidos e China. Ela fez questão de dizer que o Citi se manterá mais relevante que o HSBC, que vendeu o banco local para o Bradesco, mantendo um banco de investimento. “Eles venderam o corporate e nós não. Quando a transação for anunciada os números deixarão clara a diferença.”
Fraser disse que antes da crise de 2008 o banco perdeu oportunidades de se tornar um consolidador do sistema bancário local. “Em algum momento do passado, todos nós nos arrependemos de não ter adquirido um Itaú, um Unibanco ou outro banco”, disse. Segundo ela, entretanto, com a nova configuração do sistema bancário mundial no pós-crise, a conclusão é que foi melhor assim. “É melhor ser focado e muito bom no que você faz do que ser grande demais. No passado tentamos ser tudo para todos em todos os lugares. É impossível.”
A executiva do Citi explicitou uma visão bastante positiva da recente mudança de governo no país. “Na nossa avaliação, o Brasil está se abrindo para o mundo novamente. Vemos esse governo buscando muito mais proativamente estabelecer relações bilaterais e antecipamos que haverá um crescimento significativo na atividade entre países (crossborder).” A projeção do Citi é que a economia brasileira volte a registrar um pequeno crescimento no quarto trimestre deste ano. Para 2017, o banco projeta um avanço de 0,6% do Produto Interno Bruto (PIB).
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