Por Fabiana Lopes e Carolina Mandl

Em meio a projeções de baixo crescimento da economia, o Itaú Unibanco vem adotando uma série de medidas para adequar o seu negócio a um cenário de maior volatilidade. O objetivo é tornar o banco mais resistente a eventuais turbulências.

Entre as estratégias do banco para se fortalecer, estão mudanças no portfólio de crédito. Em teleconferência com analista na quarta-feira antes do feriado, Alfredo Egydio Setubal, vice-presidente de relações com investidores do Itaú Unibanco, afirmou que a meta do banco é ampliar o volume de empréstimos de menor risco em seu estoque dos atuais 50% para algo entre 60% e 70%.

O banco considera que o financiamento imobiliário, o crédito consignado, os desembolsos feitos para grandes empresas e operações com garantias de recebíveis são as principais transações com baixo potencial de inadimplência.

É dentro desse contexto que se encaixa também o negócio fechado com o banco BMG nesta semana. A instituição mineira transferirá 100% dos seus ativos de crédito consignado para o Itaú BMG Consignado, do qual ambos são sócios desde meados de 2012. Ao mesmo tempo, o BMG ampliará sua participação no novo banco de 30% para 40% com um aumento de capital.

A transação ampliará a presença do empréstimo com desconto direto na folha no balanço do Itaú, já que o BMG tem hoje em seu balanço cerca de R$ 15 bilhões em operações. A expectativa é que a carteira do Itaú BMG Consignado termine o ano com um saldo de R$ 20 bilhões, sendo que em março o banco tinha R$ 12 bilhões.

A internacionalização dos negócios do Itaú também se encaixa nos planos de fortalecimento do banco. Alfredo Setubal ressaltou que a operação de fusão com o banco chileno CorpBanca, anunciada em janeiro, faz parte da estratégia de ficar menos dependente do Brasil e “diversificar a fonte de receita”.

O vice-presidente do maior banco privado brasileiro disse que as ações do banco se baseiam na premissa de que a economia não terá um crescimento substancial no próximo ano, apresentando um cenário similar ao que deve ser visto ao longo de 2014. Na estratégia para enfrentar esse cenário estão o forte controle de custos, tanto administrativos quanto de perdas com crédito.

Com essas medidas voltadas para um mix de crédito mais seguro, a expectativa é que as despesas com provisão para crédito de liquidação duvidosa fechem 2014 no piso ou no centro da meta divulgada pelo banco no começo deste ano, que vai de R$ 13 bilhões a R$ 15 bilhões. No primeiro trimestre, foram de R$ 4,252 bilhões, de acordo com o balanço divulgado na terça-feira.

Outra iniciativa do banco para reduzir a exposição aos efeitos adversos da economia é investir na oferta de serviços de maior rentabilidade. “Continuamos aproveitando a oportunidade de crescer na área de serviços e seguros, que são menos voláteis e contribuem para diminuir a dependência do crédito”, disse Setubal.

Para o executivo, todas essas iniciativas do banco fazem parte desse processo de adequação ao crescimento mais lento do país. Por outro lado, ele diz acreditar numa recuperação da economia após esse atual período “de transição”.

Essa transformação do portfólio do Itaú não é um movimento isolado. Tal dinâmica é facilmente percebida na carteira de pessoas físicas de seu maior concorrente.

No fim de 2010, 19% do saldo de empréstimos para pessoas físicas do Bradesco estava alocado em financiamento imobiliário e crédito consignado. Em março deste ano, já eram 32,1%. Na mesma comparação, o percentual do Itaú passa de 11% para 29,7%.

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