Por: Vinícius Pinheiro e Felipe Marques
Nesta semana, o Santander Brasil inaugura uma temporada de resultados mais fracos para os quatro grandes bancos brasileiros listados em bolsa. Com gastos cada vez maiores para fazer frente ao aumento da inadimplência, o lucro do quarteto deve cair 8% em comparação com o primeiro trimestre do ano passado, somando R$ 13,459 bilhões. É um desempenho ainda expressivo em tempos de retração econômica, mas que marca o fim de um ciclo de crescimento que começou no segundo trimestre de 2013, de acordo com o Goldman Sachs.
A cifra corresponde à média das projeções de seis analistas consultados pelo Valor. O diagnóstico feito pela maioria desses profissionais é que tal quadro deve se repetir nos próximos trimestres, sem dar trégua até a metade do ano que vem.
A queda na atividade e o aumento das despesas de provisão contra calotes tendem a pesar mais sobre o Banco do Brasil. A estimativa média dos analistas do Deutsche Bank, HSBC, Itaú BBA, J.Safra, UBS e Goldman Sachs, para o lucro do banco público no primeiro trimestre é de R$ 2,437 bilhões, o que representaria uma queda de 19% em relação ao resultado ajustado do mesmo período do ano passado. Se fosse considerada a receita extraordinária que o banco teve em 2015 com a criação da Cateno, joint venture na área de cartões com a Cielo, a redução no lucro seria ainda maior, de 58%.
Os bancos privados, porém, estão longe de conseguir passar ao largo desse cenário. Itaú e Bradesco podem registrar rentabilidade sobre patrimônio abaixo de 20% pela primeira vez em pelo menos dois anos, de acordo com relatório do Deutsche Bank, assinado por Tito Labarta.
O analista projeta um retorno sobre o patrimônio líquido de 18,8% para o Itaú no primeiro trimestre deste ano, pouco abaixo estimado para o Bradesco, que deve ficar em 19,2%. Já o retorno apresentado por Santander e BB deve ficar entre 10% e 13%.
O avanço da inadimplência estará novamente no centro dos debates sobre os resultados. Analistas continuam a chamar a atenção sobre as renegociações em massa que vêm sendo promovidas pelos bancos, o que ajudou a evitar um crescimento ainda maior na inadimplência. A leitura de analistas do Goldman Sachs é que, sem uma expectativa de melhora significativa no cenário econômico, renegociar esses créditos equivale a “chutar a lata” a uma curta distância estrada abaixo.
“A lenta recuperação na confiança e o aumento do desemprego devem limitar a efetividade das renegociações, simplesmente represando o aumento dos índices de inadimplência por alguns meses”, escrevem os analistas da instituição, em relatório a clientes. A tese é similar à de um relatório recente da agência de classificação de risco Moody’s que afirmou que o aumento das renegociações mascara a qualidade dos ativos dos bancos.
A projeção média dos analistas para o lucro do Itaú no primeiro trimestre é de R$ 5,274 bilhões. Se confirmado, o resultado será 8% inferior ao registrado pelo maior banco privado do país nos três primeiros meses de 2015. Já o Bradesco deve ser o único entre as grandes instituições que deve apresentar um pequeno aumento no lucro. A projeção média dos analistas é de um resultado de R$ 4,365 bilhões, 3% maior que o observado entre janeiro e março de 2015.
Além da alta na inadimplência, o fraco crescimento do crédito, que diminui as receitas obtidas com esse tipo de intermediação, também pressiona os resultados. Com a apreciação do real em relação ao dólar nos três primeiros meses do ano, os empréstimos em moeda estrangeira dos bancos não terão a ajuda do efeito cambial que tiveram no ano passado para avançar. Graças a esse efeito, analistas do Itaú BBA esperam, por exemplo, “quase nenhum” crescimento no portfólio de crédito do Banco do Brasil no trimestre.
O Goldman Sachs já questiona se não está na hora de os bancos reverem algumas das projeções apresentadas em janeiro para 2016. Na visão dos analistas da instituição, o Bradesco foi menos conservador que o Itaú nesse sentido e pode ser obrigado a refazer algumas estimativas. Para os analistas, dado o comportamento histórico dos bancos, é mais provável que essa revisão ocorra só após o segundo trimestre.
Entre os destaques positivos do primeiro trimestre, a expectativa é que os bancos ainda colham alguma expansão nas margens de juros, fruto do elevado patamar em que se encontra a taxa Selic. “Para os bancos, os fracos volumes e a deterioração gradual na qualidade de ativos devem ser parcialmente compensados pelo benefício da expansão das margens num ambiente de altas taxas de juros”, escrevem analistas do HSBC em nota enviada a clientes.
CADASTRE-SE no Blog Televendas & Cobrança e receba semanalmente por e-mail nosso Newsletter com os principais artigos, vagas, notícias do mercado, além de concorrer a prêmios mensais.