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Nova lei poderá permitir que o teleoperador trabalhe de casa

por: Afonso Bazolli
em: Notícias
fonte: Estado de S. Paulo
25 de abril de 2012 - 0:40

Nova-lei-podera-permitir-que-o-teleoperador-trabalhe-de-casa-blog-televendas-e-cobrancaPor: Cláudio Marques

Todos os dias, o analista de concepção e projeto do Metrô Flávio Luiz Jabbur Ferreira, de 56 anos, acorda às 6 horas da manhã, vai para a academia, chega em casa, toma um banho e, diferentemente da maioria dos brasileiros, segue para o escritório no seu próprio quintal, e começa a trabalhar. Ferreira faz parte de um grupo de funcionários do Metrô que, desde março, começou a trabalhar em casa como parte de um projeto piloto da empresa.

“Moro em Jacareí e precisava acordar às 5 horas da manhã para chegar às 8h ao trabalho. Saía às 18h para chegar em casa somente às 20h. Eu perdia quatro horas do meu dia no trânsito. Agora que trabalho em casa, aproveito esse tempo para fazer atividade física e ter minha vida social de volta”, conta. O projeto será concluído em seis meses. Se o resultado for positivo, poderá ser estendido para outros departamentos que possam realizar suas atividades a distância.

A analista de desenvolvimento em gestão, Aparecida de Lourdes Aggio, de 57 anos, também foi selecionada pelo Metrô para participar do projeto. “Eu demorava uma hora e meia para chegar ao trabalho. Ia de carro até a estação Sacomã do Metrô e esperava dois ou três trens para conseguir entrar. Atualmente, faço caminhadas com este tempo livre e percebo que a minha produtividade aumentou. Estou muito mais disposta.”
Aparecida conta que hoje só sente falta do cafezinho que tomava com os colegas de trabalho. “Mas como vou à empresa uma vez por semana, mato a saudade. Sou tratada como visita.”

Assim como Flávio e Aparecida, 10 milhões de pessoas trabalham em casa e têm os mesmos direitos trabalhistas que qualquer funcionário regido pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), segundo estimativas do Centro de Estudos e Pesquisas de Teletrabalho e Alternativas de Trabalho Flexível (Cetel). São os chamados teletrabalhadores. “O número deve ser maior, mas nem todas as empresas formalizaram a atividade”, diz Álvaro Melo, presidente da entidade, professor e autor de uma tese de doutorado sobre o assunto.

Melo acredita que, com a promulgação da Lei 12.551/2011, em dezembro, regulamentando o trabalho a distância no Brasil, o interesse das empresas por este tipo de relação trabalhista deve crescer. Ele prevê aumento de 30% no número de empresas, hoje estimado em 150, que adotam esse tipo de atuação.
“Nós acreditamos que mais companhias usufruam do teletrabalho. Mas por medo de serem consideradas ilegais, nem todas oficializaram o trabalho. Com a nova lei isso deve acabar.”

A Gol mantém, desde 2009, algumas centrais de atendimento pelo sistema. Hoje, 40% dos operadores da companhia – cerca de 600 profissionais – trabalham em casa. E a empresa espera transferir 80% do departamento para esse esquema até 2013. “Começamos o projeto pensando na satisfação dos funcionários portadores de deficiência. Depois percebemos que, ao deixar o ambiente mais agradável para os colaboradores, também melhoramos o atendimento aos clientes”, diz o diretor de atendimento da companhia, Rogério de Castro Pereira Nunes.

De acordo com o diretor, a aprovação do call center da empresa subiu de 70% para 90% depois que houve a alteração. A companhia também identificou uma redução de custos com esta alternativa. “Para montar uma central de atendimento, precisamos alugar um espaço e aparelhar toda a estrutura”, conta. A empresa oferece toda a infraestrutura para o funcionário trabalhar. Somente os gastos com telefone e banda larga são assumidos pelo teleatendente.

O custo, porém, não afeta o orçamento do atendente de call center da companhia André Gomes Pereira, de 33 anos. “Atuo no chat do site da empresa e dificilmente utilizo o telefone. E eu teria internet banda larga em casa mesmo que trabalhasse fora.” Para ele, o fato de não precisar sair de casa para trabalhar é a melhor recompensa.

“É uma atividade que dá para ser feita tanto em casa como em uma central de atendimento. Recebo treinamento para poder responder todas as dúvidas de clientes e agentes de turismo.”
Outra empresa que mantém funcionários no esquema home office é a Ticket. Ao todo são 150 colaboradores em trabalho remoto. Todos do departamento comercial. A empresa substituiu as filiais por teletrabalhadores. “Os profissionais que atuam na área comercial dificilmente param na empresa. Eles iam à companhia apenas para iniciar as atividades e logo saiam para atender os clientes ”, afirma a diretora de recursos humanos e de responsabilidade social da empresa, Edna Bedani.

A mudança já refletiu no desempenho da empresa. “Nossos funcionários estão mais felizes e já tivemos um aumento de 40% no volume de vendas e de 70% na receita comercial”, diz Edna.

O gerente de negócios da Ticket, Leandro Guedes, de 39 anos, aprovou o novo estilo de trabalho. Ele está há seis anos na empresa e, há cinco, exerce suas atividades de casa. Vai à companhia a cada 15 dias para as reuniões agendadas pelo seu gestor.

“A rotina de ir ao escritório diariamente é pouco eficiente para os profissionais que atuam na área de vendas. Ficamos pouco tempo no escritório e perdíamos muito tempo no trânsito desnecessariamente. Posso iniciar os contatos em casa, agendar as visitas e sair apenas para as reuniões.”

Atividade deverá aumentar vagas para deficientes

Na opinião do presidente do Centro de Estudos e Pesquisas de Teletrabalho e Alternativas de Trabalho Flexível (Cetel) e autor de uma tese de doutorado sobre o assunto, Álvaro Melo, no Brasil, o teletrabalho deve ser utilizado, principalmente para favorecer a inclusão de portadores de deficiência no mercado de trabalho e auxiliar as empresas a cumprirem a lei de cotas.

“Nos Estado Unidos, quase 90% dos teleatendentes são portadores de deficiência. E isso deve se tornar uma tendência também por aqui. As empresas podem começar a adotar o teletrabalho como forma de proporcionar mais qualidade de vida para os funcionários e dar oportunidade de emprego para pessoas com necessidades especiais”, afirma ele.

A opinião de Melo é compartilhada pelo presidente do Sindicato Paulista das Empresas de Telemarketing, Marketing Direto e Conexos (Sintelmark), Stan Braz. “Vários segmentos vão começar a olhar para o teletrabalho com mais atenção. É uma atividade que deve crescer e abrir mais campo de atuação para a área de telemarketing.”

Para o diretor jurídico da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABHR), Wolnei Ferreira, o fato de os operadores de call center que atuam em casa terem os mesmos direitos trabalhistas dos demais é um ponto que deve valorizar o teletrabalho nos próximos anos.

A Uranet, empresa que projeta estações remotas para atendentes especiais, foi uma das companhias que optaram por investir na mão de obra de pessoas com necessidades especiais.
Atualmente, mantém 170 operadores de call center atuando em casa. “Há muita rotatividade nas centrais. Percebemos que esse público é muito fiel e precisava de mais espaço no mercado”, diz o presidente da empresa, Andres Enrique Pueda Garcia.

A atendente Soraia Alvarenga, de 49 anos, trabalha na empresa há seis anos e expressa as dificuldades que os portadores de deficiência têm para conseguir um emprego e se locomover. “A vida de um cadeirante é muito difícil. Não há estrutura para nos movimentarmos sem transtornos na cidade. Como podemos fazer cursos e obter mais experiência? As coisas estão melhorando, mas ainda há muito a se fazer.”

Soraia virou cadeirante aos 42 anos, quando uma sequela da poliomelite, que teve quando criança, a deixou paralítica. Desde então, divide o tempo entre o trabalho e os treinos do tênis de mesa, no qual representa o Brasil como uma atleta paraolímpica. “A empresa incentiva minha atividade, tanto que abona as faltas quando participo de campeonatos.”

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Comentários (5)
  1. Gostaria de ingressar nesta rotina de call Center home work entrei em vários sites de trabalho em casa mais não vi nenhuma credibilidade, onde procuro este tipo de serviço

    Samanta maria mendes em 28 de maio de 2017 - 22:47
  2. Recentemente tentei implantar o modelo Home Base no meu Call Center ativo de vendas, o maior impacto encontrado foi a falta de compromisso dos agentes com o trabalho.
    Na minha opinião, o brasileiro ainda não está preparado para este modelo de trabalho e não encara isso com responsabilidade, compromisso e disciplina.
    É um modelo que promete crescer, mas tem que encontrar o publico certo, não tem como se fazer isso com pessoas de primeiro emprego, pois necessitam de muito amparo nas atividades diárias, modelos de reuniões estruturadas também são importantes.
    Outro ponto que infelizmente nos deparamos foi a deficiência tecnológica em nosso pais, este modelo exige banda larga de alta velocidade e infelizmente ainda não temos esta qualidade em todas as regiões de São Paulo e o publico que mais aceita o modelo de trabalho mora em regiões pouco privilegiada quando o assunto é banda larga de qualidade.

    Grande abraço a todos.

    Rogério Silva.

    Rogério Silva em 25 de julho de 2013 - 10:41
  3. O projeto é viável do ponto de vista financeiro. Aqui na GOL trabalhamos para atingir a meta de 800 colaboradores no regime “home base”.

    O perfil do candidato é importante, temos preferência por profissionais com características auto gerenciáveis. Independência é fundamental para que a pessoa trabalhe em casa.

    Nivaldo em 28 de abril de 2012 - 11:34
  4. Para a área de Call Center na teoria é excelente. Raciocinando como pessoa jurídica a redução de custos é impressionante. A empresa deixa de ter gastos com aluguel, água, luz, vale transporte, telefonia e banda larga (como no caso da Gol) e até o cafezinho, dentre outros.

    Porém o projeto pode funcionar para determinado perfil de profissional e pode não funcionar para outro. Por isso o piloto é necessário, não adianta transformar toda uma equipe de atendimento em teletrabalhadores sem antes avaliar se aquele perfil de profissional vai se adequar a esse tipo de trabalho.

    Será que novatos no mercado de trabalho e com pouca experiência vão se adaptar e entregar os resultados esperados sem esse contato pessoal diário? É preciso testar.

    Minha irmã trabalha no atendimento da Gol e recebeu a proposta de atendimento de chat em casa. Porém os custos não seriam apenas de telecom e banda larga. Ela teria que adquirir também um computador e cadeira compatíveis com o padrão Gol.

    Dessa forma, e pensando como profissional, valeria a pena investir parte de seu baixo salário como atendente para comprar o material de trabalho, que deveria ser responsabilidade da empresa, em troca de não pegar uma condução lotada ou perder tempo no transito?

    Essa avaliação é muito pessoal e deve levar em consideração diversos fatores.
    Em outras palavras em ambos casos é preciso avaliar caso a caso. Qual o custo benefício para a empresa e para o funcionário?

    Basicamente a empresa avalia o quanto reduz em custos e se o perfil de profissional se adéqua ao teletrabalho. No caso do funcionário o que deve ser colocado na balança é o aumento da qualidade de vida versus os custos que terá que arcar com a mudança e além de tudo se irá se adaptar e entregar no mínimo os mesmos resultados.

    Apesar do crescimento estrondoso da internet e da resolução de problemas a distancia, qual é a nossa disposição para a quebra de um paradigma de não ter que se deslocar para trabalhar e não ter um mesmo local dividido com vários profissionais. Será que isso pode reduzir a troca de experiências e o “companheirismo” das pessoas?

    É preciso estudar cada situação com visão holística para tentar projetar os resultados, sejam eles positivos ou negativos.

    William Sota em 25 de abril de 2012 - 11:07
    • William,

      Parabéns pelas suas colocações tão pertinentes! Realmente cada profissional, independente do segmento, apresenta comportamentos distintos e com certeza é necessário avaliar quem se adequa a essa condição. A troca de experiências também deve ser levada em conta, como vc também citou, pois é a partir dela que crescemos, tanto no pessoal como no profissional.

      Grande abraço!

      Erica Missão em 29 de abril de 2012 - 13:49

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