O candidato não precisa realizar atividades que lhe causem constrangimentos, inclusive com respaldo da Lei

Por: Fiorella Gomes

Dancinhas, perguntas invasivas, imitações descabidas, cantadas. Quem nunca passou por uma saia justa em um processo seletivo para conquistar a almejada vaga de emprego que atire a primeira pedra. Pouca gente sabe, mas o candidato não precisa realizar atividades que lhe causem constrangimentos, inclusive com respaldo da Lei. E fica uma dica de antemão: a entrevista de emprego revela o ambiente de trabalho que você está se metendo.

No Reino Unido, um jovem de 21 anos, recém-formado na universidade se preparou durante uma semana para tentar o primeiro emprego. No tão sonhado dia, em setembro, foi obrigado a dançar ao som de Daft Punk. As reais habilidades do candidato para a vaga em questão, se quer foram questionadas.

“Eu me senti muito envergonhado e desconfortável. Acabei dançando ao som de Around the World do Daft Punk, fazendo movimentos robóticos, vestido de terno, na frente de um grupo de estranhos”, disse, a imprensa local.

“Na boquinha da garrafa” já rendeu processo no Espírito Santo

No Espírito Santo, há alguns anos, uma empresa de telemarketing que prestava serviços para uma grande empresa de telefonia sofreu vários processos por ter o hábito de, tanto no ato de seleção, quanto no de contratação, realizar gincanas em que candidatos e funcionários precisavam realizar gincanas vexatórias, como dançar “na boquinha da garrafa” ou usar trajes do sexo oposto, diante dos colegas.

O advogado da área trabalhista, Christiano Menegatti, explica que histórias do tipo acontecem principalmente em empresas multinacionais. “Geralmente essas práticas motivacionais são todas importadas dos Estados Unidos onde a legislação não proíbe e não emite qualquer sanção, então essas empresas pegam modelos prontos e colocam para funcionar em suas empresas aqui no país, onde esse tipo de comportamento são vetadas e proibidas por Lei”, afirmou.

Tentar aprofundar-se na intimidade do candidato, além de ser deselegante, também é proibido. “Tudo que viola a intimidade da pessoa é proibido. Tudo que diga respeito à situações que vão além do trabalho – como opção sexual, estado civil, religião – não pode ser objeto de avaliação. O candidato não só pode deixar de responder, como deve se recusar”, alerta o advogado trabalhista.

Isso porque, uma entrevista de emprego tem como objetivo avaliar a qualidade e as aptidões de uma determinada pessoa para uma função a ser exercida. Portanto, não devem ser explorado pelos empregadores fatores pessoais que não influenciam a aptidão do candidato para a vaga que concorre.

O candidato também não pode de forma alguma ser obrigado de fazer polichinelos, cantar, contar piadas se a função a que concorrem não tem relação com essas práticas.

“Se a entrevista preliminar já é cheia de piadas, assuntos que não dizem respeito às qualidades profissionais da pessoa, possivelmente a empresa em que oferece a vaga tende a ser um ambiente de trabalho ruim. A pessoa deve sentir desde imediato se existe nenhum outro interesse além”, alerta Menegatti.

O consultor de recursos humanos, Uefton José, da Psicoespaço, alertou que o candidato pode ser reservar ao direito de não cumprir uma determinada dinâmica ou responder uma pergunta durante a entrevista se isso lhe trouxer constrangimento, mas deve saber como abordar o recrutador.

“Se o candidato tiver que realizar uma atividade em que acha que vai se expor em excesso, ou que lhe traga constrangimento, ele tem todo direito de não participar. O condutor deve informar como é a dinâmica e ele decide o que fazer.  A dica é que ele converse com o condutor, de forma amigável, de preferência separado do grupo”, diz.

Outra dica, é procurar informações sobre a empresa, antes da entrevista. “O candidato deve buscar conhecer a empresa antes mesmo da entrevista. Consulte sua política de gestão de pessoas e busque informações em redes sociais, amigos e pessoas que já tiveram contato com a empresa”, alerta.

Confira o que não pode nas entrevistas e fuja de uma cilada

• Encenação de personagens a expor opções sexuais;
• Referência enfática e negativa às condições socioeconômicas, sociopolíticas, raciais e religiosas, mesmo que em contexto histórico;
• Representação de animais que já sugerem imagem pejorativa;
• Solicitar que os candidatos comparem uns aos outros com animais;
• Perguntas que violem a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas;
• Exigência de teste, exame, perícia, laudo, atestado, declaração ou qualquer outro procedimento relativo à esterilização ou a estado de gravidez;
• Atestados de antecedentes criminais não podem ser exigidos a não ser em hipóteses excepcionalíssima como um empregado que será contratado como vigilante ou irá trabalhar no transporte de valores;
• O uso de piercing, tatuagens, corte de cabelo, barba não podem ser empecilho à contratação;
• O empregador deve ter critérios objetivos a fim de avaliar que possui as melhores aptidões para exercer o cargo. Algumas empresas que priorizam a lisura já fazem a seleção através de avaliação de curriculum e entrevista pela internet a fim de evitar que a aparência, cor, idade entre outros preponderem sobre os reais valores dos empregados.

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