Por: André Ramalho

O carro para no posto e o motorista saca o celular. Do próprio smartphone, escolhe o quanto quer abastecer e, na hora, fica sabendo o quanto pode economizar com os descontos do programa de fidelidade da rede. O frentista, com a máquina de cartão em mãos, só precisa se aproximar do veículo para o aparelho reconhecer automaticamente o pedido. Com mais uns toques no celular, o motorista digita sua senha e paga o serviço, sem tirar a carteira do bolso. O uso de aplicativos para o consumo, que já é realidade em serviços como recarga de celulares, aquisição de ingressos e compra de roupas, promete chegar agora aos postos de combustíveis.

A rede Ipiranga lançou nesta semana, no Estado de São Paulo, um aplicativo batizado de “Abastece Aí”, que promete mudar a relação com os clientes. A ideia da empresa é se aproximar das novas tendências de consumo digital e atrair usuários para a rede do programa de fidelidade “km de Vantagens”, o maior do tipo no país, com mais de 20 milhões de usuários cadastrados.

Com a tecnologia, a companhia espera desfazer o que considera “um dos maiores mitos da internet mundial”: o risco de usar celulares em postos de combustível. A utilização dos aparelhos nesses locais é restrita por lei municipais em algumas das principais cidades do país, como Rio de Janeiro e São Paulo.

Para lançar o aplicativo, a Ipiranga se baseou em um laudo da Faculdade de Engenharia e Computação e do Instituto de Física Gleb Wataghin, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), segundo o qual o risco da utilização de celulares em postos de combustíveis é nulo.

A companhia destaca, também, que “a definição das normas de segurança para os postos de combustível é de responsabilidade da Agência Nacional de Petróleo (ANP), que não proíbe o uso de celulares em postos de combustível” e que só vai lançar a tecnologia onde houver restrições “à medida que o uso do celular em postos for sendo autorizado municipalmente”. A ANP, por sua vez, diz que não possui nenhum regulamento sobre a questão e que o uso de celulares em postos não é regulado pela agência.

O diretor de varejo da Ipiranga, Jerônimo Santos, diz que o lançamento do aplicativo, que será estendido à rede de postos fora de São Paulo a partir de março, faz parte da estratégia para “oxigenar” o “Km de Vantagens” (que fornece descontos na compra de itens como passagens aéreas, ingressos e combustível). O programa de fidelização da empresa cresce a uma base de 270 mil clientes por mês e, embora ainda surpreenda positivamente, precisa de renovação constante, avalia o executivo.

“Acreditamos que já estamos chegando à fase de maturidade do programa. É nos benefícios que ele se renova e o ‘Abastece Aí’ é um movimento de renovação. Precisamos trazer sempre novos motivos para as pessoas que utilizam [o programa] o usarem mais. E para sensibilizar as pessoas que não o usam a adotar o programa”, explica Santos.

O aplicativo foi desenvolvido pela empresa espanhola Gigigo e está conectado ao ConectCar (sistema de pagamento eletrônico que abre cancelas de pedágios e estacionamentos e que oferece desconto de combustível nos postos Ipiranga. Segundo Santos, a Ipiranga vê a inovação como uma ferramenta essencial sob a estratégia de atrair clientes para a rede de postos da companhia, a segunda maior do país, atrás apenas da BR Distribuidora.

“Achamos que esses consumidores que hoje estão numa plataforma digital dão preferência às empresas que oferecem uma experiência de consumo dentro desse ambiente. Queremos trazer esses consumidores para a nossa rede. Por consequência, agregamos base de clientes para o ‘Km de Vantagens’”, diz Santos.

Apesar da queda nas vendas de combustível no ano passado, sobretudo diesel e gasolina, o uso do programa “Km de Vantagens” atingiu níveis recordes em 2015, com mais de 83 milhões de transações de acúmulo e 22 milhões de produtos resgatados, destaca o executivo. O consumo dos clientes nas lojas de conveniência também segue positivo.

“Existem alguns hábitos que são novos para o consumidor. Como ainda estão começando a fazer parte do dia a dia das pessoas, eles crescem de forma bastante acelerada e de alguma maneira contrariam as taxas de crescimento da economia”, analisa.

De acordo com dados do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes (Sindicom), o crescimento médio anual do canal de lojas de conveniência, em vendas, foi de 14,2% entre 2011 e 2014. Segundo Santos, a trajetória continua ascendente.

Para 2016, a ideia da companhia é manter o ritmo de expansão dos últimos anos. Em entrevista ao Valor, em dezembro, o presidente do grupo Ultra, controlador da Ipiranga, Thilo Mannhardt, antecipou que a distribuidora pretende investir R$ 887 milhões neste ano, sendo R$ 354 milhões para manter o ritmo de expansão da rede de distribuição e de franquias am/pm (conveniência) e Jet Oil.

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