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Com custo menor, crédito em dólar atrai empresas

por: Afonso Bazolli
em: Crédito
fonte: Valor Econômico
25 de fevereiro de 2014 - 18:08

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Por Vinícius Pinheiro e Felipe Marques

A combinação de juros em alta e volatilidade do câmbio criou uma oportunidade inusitada para as empresas brasileiras: contratar empréstimos em dólar. As companhias têm encontrado vantagem em tomar crédito na moeda americana, mesmo sem necessariamente serem importadoras ou exportadoras, com taxas mais competitivas do que em empréstimos locais.

O custo da operação em dólar com prazo até cinco anos tem ficado abaixo das tradicionais linhas de capital de giro oferecidas no mercado doméstico, dependendo do perfil de risco da companhia. A comparação já considera a proteção contra a oscilação da moeda (hedge). Ou seja, no fim do dia é como se a empresa tivesse tomado um crédito em reais atrelado à taxa interfinanceira (CDI), referência dos financiamentos domésticos.

A linha externa é conhecida no mercado como “4131″, uma referência à lei que disciplina a aplicação de capital estrangeiro e a remessa de valores para o exterior (leia ao lado). Diferentemente de adiantamentos de contrato de câmbio (ACC) ou de um pré-pagamentos de exportação, a operação não exige que a companhia tenha lastro em exportações, como é comum nas demais linhas de comércio exterior. Os bancos estrangeiros, que em geral possuem um custo de captação mais baixo fora do Brasil, costumam ser mais competitivos nesse tipo de empréstimo.

Os principais tomadores das linhas 4131 são empresas de grande porte e de capital intensivo. É o caso, por exemplo, das companhias do setor elétrico e varejistas. Os bancos, porém, têm visto avançar a demanda também em empresas de médio porte.

Embora não existam números oficiais sobre a modalidade, a estimativa de bancos é de um estoque da ordem de US$ 7 bilhões. O volume é relativamente pequeno porque a competitividade da linha em relação às opções de crédito local depende de janelas de oportunidade – o que tem ocorrido nos últimos meses.

A abertura das janelas depende basicamente do cupom cambial, que representa o custo de se emprestar em dólares no Brasil. Entre os fatores que determinam essa taxa estão a diferença entre os juros externos e domésticos e a perspectiva de desvalorização do real. A incerteza recente sobre ambas as variáveis aumentou o cupom e criou as condições para os bancos voltarem a oferecer os empréstimos. A taxa do cupom com vencimento em janeiro de 2019 saiu de 3,1% no início de junho para 3,78% ontem na BM&F.

“Há casos em que chega a haver de 100 a 120 pontos-base de diferença entre o custo local e a operação estrangeira. Mas é uma diferença que pode aumentar ou diminuir em semanas, então a estratégia é aproveitar as oportunidades”, afirma Adoniro Cestari, responsável pela área de produtos corporativos do Citibank. Segundo Cestari, nos últimos 24 meses, o estoque de operações 4131 no balanço do banco triplicou, embora ele não divulgue o valor absoluto da linha.

“Neste momento, o financiamento externo pode ser uma opção mais eficiente e barata do que uma emissão de debêntures”, compara Maurício Tancredi, diretor do Bank of America Merrill Lynch (BofA). Para ele, a piora no humor dos investidores, que vêm exigindo taxas maiores para financiar as captações das companhias no mercado de capitais local, também deve favorecer os empréstimos via 4131.

Se por um lado investidores têm encarecido o prêmio que exigem em captações de empresas brasileiras, por outro, o crescimento dos empréstimos em moeda estrangeira sugere que os bancos estão na direção oposta. “Como as grandes empresas seguraram bastante a contratação de novas dívidas, os bancos ficaram com mais capital e com um limite maior para emprestar”, afirma Paulo Cesar Souza, executivo de global banking do HSBC.

Em tese, quanto pior a percepção de risco sobre o país, maior o cupom cambial e melhor a condição dos empréstimos externos. Mas uma deterioração muito grande do humor dos investidores internacionais pode afetar o apetite dos bancos em emprestar recursos, mesmo com um spread maior. Já existem no exterior questionamentos sobre um possível excesso de exposição das instituições a mercados emergentes.

“Um rebaixamento efetivo da nota soberana do Brasil pode fazer com que um banco estrangeiro precise alocar mais capital para emprestar para companhias do país. Isso deixaria o empréstimo mais caro”, afirma Gustavo Castro, chefe do Citi para empréstimos internacionais.

O Santander afirma ter dobrado a originação de empréstimos 4131 no último ano, como parte de um projeto em que tenta expandir o uso da linha por empresas de médio porte. “Estendemos o uso desse produto para uma base maior de clientes, e não só grande empresas”, afirma Miguel Angel Albero, superintendente de “trade finance” do banco.

Para ele, porém, os clientes que mais se beneficiam da linha são os que possuem exposição de seu negócio no exterior, e contam com alguma forma de hedge natural. “Temos visto empresas tentando otimizar seu capital de giro e recorrendo mais a linhas de 4131.”

O Bradesco também afirmou que tem observado o aumento da procura pela linha. “Estamos vendo um bom número de cotações indicativas, porém sem negócios firmes. É um tipo de linha que as empresas sempre consideram como uma opção no momento de tomar recursos de prazos entre dois e três anos”, informou o banco, por e-mail. “Em relação ao mercado de capitais, a 4131 é de estruturação mais fácil.”

A última oportunidade para captação de recursos com as linhas externas ocorreu entre 2011 e 2012, no auge do processo de injeção de recursos pelos bancos centrais internacionais para estimular as economias. Grandes empresas nacionais, como CPFL, Natura e TIM, aproveitaram-se da liquidez internacional farta da época e recorreram à 4131.

Naquele momento, a entrada de recursos só não foi maior porque o governo decidiu atacar o que a presidente Dilma Rousseff classificou como “tsunami monetário” com o aumento da alíquota do imposto sobre operações financeiras (IOF). A restrição foi retirada meses depois, com a virada na percepção dos investidores sobre o país.

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