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03 de abril de 2012 - 0:15

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Érica Missão

Qual é a relação entre a satisfação do cliente contratante e a rentabilidade da empresa contratada? Na teoria, quanto maior o grau de satisfação do cliente, maior deveria ser a rentabilidade da empresa; entretanto, na prática, essa relação não ocorre em 100% dos casos. Atualmente, no segmento de Call Center, a lógica do negócio se traduz em saber o quanto custa satisfazer os clientes e quais são os benefícios correspondentes. Nesse setor, existe uma tendência bastante agressiva no investimento de inteligência e em novas tecnologias – principalmente nas áreas estratégicas das empresas-, visando encontrar o equilíbrio entre a busca de resultados satisfatórios para o cliente contratante e também a maximização de receita para a empresa contratada.

As operações de cobrança que possuem um modelo variável de remuneração são as que apresentam um maior desafio quando o assunto é o equilíbrio entre os dois elementos citados acima. Por um lado, quanto maior é a recuperação em uma determinada carteira, maior será a comissão recebida para a empresa contratada. Por outro lado, essa equação não é tão simples assim, pois envolve outras variáveis como, por exemplo, os custos de Telecom, Canais, FTE (Full Time Equivalent – Equivalência do Tempo Integral), SLA`s (Service Level Agreement – Acordo de Nível de Serviço), entre outros. Tais variáveis podem resultar em uma margem negativa para a empresa contratada, mesmo que a receita seja relativamente alta.

Para demonstrar como uma determinada operação, que contém modelos contratuais distintos, pode ser rentável; ou não, considere uma carteira de cobrança com faixa de atraso recente e com vários produtos, incluindo nessa carteira um ticket médio bem elevado (financiamento de veículos, por exemplo). Suponha que o modelo de atuação nessa carteira possua toda uma inteligência desenhada, com uma régua de acionamento embasada por meio de modelos estatísticos, utilizando canais (voice e sms) e também discagem (contato telefônico).

No início da régua, utiliza-se um modelo estatístico chamado de Self-Cure, o que resulta em dois nichos: clientes que possuem perfil de pagamento espontâneo e aqueles que não apresentam esse comportamento. No grupo de perfil espontâneo, caso o cliente não tenha saldado a dívida em um determinado período esperado, o acionamento ocorre após esse período (ponto de corte obtido através de um estudo de cascata de pagamento – pagamento acumulado), primeiramente via canais, e em seguida através de um contato telefônico.

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Para aqueles clientes que não possuem o comportamento espontâneo, a pontuação é feita por outro modelo chamado de Collection Score, que aponta o nível de risco desses clientes. Após a identificação do risco, é desenvolvido a forma de atuação. Para os clientes de baixo risco e que possuem um produto de ticket médio baixo, o acionamento é feito inicialmente com canais (voice e sms); já os clientes que possuem um ticket médio alto (financiamento de veículos, por exemplo) são acionados inicialmente via contato telefônico por uma célula apartada, objetivando um poder maior de negociação. Para os clientes que possuem um perfil de alto risco, estes são acionados através de contato telefônico, atribuindo peso máximo na discagem, pois necessitam de uma cobrança mais incisiva por serem clientes menos propensos ao pagamento.

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No geral, essa operação deixa de acionar via contato telefônico cerca de 30% do mailing, mas garante a recuperação, pois a grande maioria que permanece sem acionamento são clientes que pagam espontâneamente (postergam a data de vencimento, mas saldam a dívida em uma data posterior) e os demais são contatados via canais. O resultado desta estratégia de cobrança bem desenhada favorece bastante o cliente contratante, pois atribui força de acionamento onde realmente é necessário, proporcionando uma recuperação satisfatória. A empresa contratada também é favorecida, uma vez que é através do comissionamento (variável e de acordo com as faixas de atraso) e do controle de custos (através de inteligência) que se consegue manter a margem positiva e acima do orçado.

Após um determinado período, suponha que o contratante defina algumas mudanças contratuais em relação a essa mesma carteira, propondo a implantação da metodologia BSC (Balanced Scorecard – Metodologia de medição e gestão de desempenho), atrelando-se pesos em relação a cada produto (os maiores tickets com os menores pesos e vice-versa), e a comissão passe a ser paga somente mediante o acionamento do cliente via contato telefônico. A partir dessas mudanças, faz-se necessário alteração no desenho das estratégias. Ocorre a descontinuação de algumas inteligências, como o modelo de Self-Cure, pois agora o contato telefônico deve ser feito na carteira toda e também o modelo de atuação em altos ticket`s com célula apartada, pois não é mais rentável para a contratada manter uma célula somente para esse nicho.

Além de seguir um modelo de atuação mais “engessado”, abrindo mão da inteligência anterior, a operação terá que aumentar o capacity para atuar no mailing como um todo e, consequentemente, os custos de FTE e de Telecom serão elevados. Nessas condições, a operação estaria sujeita a uma redução abrupta na margem ou até mesmo em uma margem negativa.

Nesse novo modelo proposto pode haver uma contrapartida, ou seja, há possibilidade de aumentar a rentabilidade da carteira para que a margem ainda permaneça favorável? O que geralmente ocorre nesse novo modelo é a antecipação do pagamento mediante o contato mais incisivo, principalmente entre os clientes com perfil de pagamento espontâneo, porém somente a empresa contratante seria beneficiada. Entretanto, deixa-se de colocar maior esforço no público de baixa propensão de pagamento e também nos clientes que possuem um alto ticket médio, e corre-se o risco da dívida rolar para as faixas mais altas, tornando-a mais difícil de ser recuperada.

Mediante a esse exemplo, que infelizmente tem ocorrido em alta escala no cotidiano das empresas de Call Center, fica evidente que é preciso muita cautela em uma negociação entre o cliente contratante e a empresa contratada. Uma operação rentável poderá sofrer graves consequências se a empresa contratada aceitar um modelo mais engessado, principalmente contendo pesos atrelados ao ticket médio da carteira. A sugestão é fazer algumas simulações antes de fechar o contrato, envolvendo as características da carteira e o comissionamento proposto de cada nicho. Além disso, é indispensável negociar com o contratante até que o contrato fique favorável para ambos – cliente satisfeito x empresa rentável.

Caso você tenha alguma experiência interessante relacionada a esse tema, fique à vontade para comentá-la.

Érica Missão

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Comentários (11)
  1. Oi Érica, gostaria também de parabenizar pela riqueza deste artigo. De fato, é essencial enfatizar a importância dos estudos e análises para garantir uma melhor atuação, desde a concessão à recuperação de crédito. São os números (bem interpretados, é claro) que nos darão o norte sobre como lidar com os clientes, trazendo-os e mantendo-os em casa.

    Paulisvan Barroso Paulino em 26 de junho de 2013 - 12:28
  2. Show de bola, Erica! Simplesmente ‘destrinchou’ um dos piores problemas vividos atualmente pelas empresas de CallCenter que atuam em cobrança.
    Grande abraço!

    Alexander Goes em 10 de abril de 2012 - 19:24
    • Boa noite Alexander!

      De fato este é um problema que impacta muito o nosso dia a dia e com certeza o melhor a se fazer é negociar até que fique bom para os dois lados, empresa e cliente.

      Abraços.

      Érica Missão.

      Erica Missão em 11 de abril de 2012 - 22:48
  3. Com o seu depoimento sobre LGD todo o seu texto ganhou ainda mais credibilidade. Parabéns.

    “A respeito do LGD – Loss Given Default, vou me especializar mais no assunto e posteriormente trarei um artigo aqui para debatermos. O LGD, tem como definição Padrão: 1 – Tx de Recuperação, incluindo as perdas de custo de empréstimos não pagos, processos de cobrança e recuperação de crédito e por isso geralmente quem mais trabalha com esse indicador são financeiras e bancos, mas também não vejo uma grande disseminação. Boa dica!”

    Milton Eiti Sato em 05 de abril de 2012 - 10:57
    • Milton, boa noite!

      Obrigada pelo elogio, espero que continue visitando o Blog e lendo os nossos artigos.

      Grande abraço!

      Érica Missão.

      Erica Missão em 09 de abril de 2012 - 01:01
  4. Parabéns pelo post.

    Realmente as mudanças no modelo variável levam os Contact Center a trabalhrem com margens baixas e sujeitos a desistirem da parceria. Em alguns casos, é melhor a operação sair do modelo variável e passar a ser Fixo, por exemplo.

    Excelente sua abordagem, parabéns novamente.

    Carlos Alberto Souza Rodrigues em 04 de abril de 2012 - 08:49
    • Boa tarde Carlos,

      Seja bem vindo ao Blog e muito obrigada pelo elogio. A idéia deste Blog é promover discussões construtivas e sadias de forma a todos nós ganharmos com o conhecimento e informações.

      Você colocou muito bem, quando disse que em alguns casos é favorável a mudança do modelo de remuneração, passando do modelo variável para o fixo. Ambos os modelos podem ser muito bem sucedidos se tiver uma negociação favorável para ambas as partes, entretanto quando o modelo variável deprecia a margem da contratada e não há abertura para uma renegociação do comissionamento, uma alternativa muito válida é aderir ao modelo fixo de remuneração.

      Abraços.

      Érica Missão.

      Erica Missão em 04 de abril de 2012 - 13:40
  5. Boa noite caros,
    Ótimos artigo. Parabéns Erica!

    A primeira observação que faço é que o self cure, deveria acontecer do lado da empresa contratante, uma vez que ela tem as informações do cliente, das características do produto,…, ou seja, o credit score para contratos com FPD – First Payment Default – e behaviour score (caso o contrato atrase no meio do contrato) e enviar os contratos em atraso para a empresa contratada após x dias de atraso para os clientes escorados como Pagamentos Não Espontâneos e após y dias para os clientes escorados como self cure (para x < y), observando a curva de pagamento acumulado.
    Ou seja, a empresa contratante maximiza o seu resultado, uma vez que não vou remunerar os self cure a empresa contratada.

    Agora vou supor que a empresa contratante adere ao modelo engessado.

    A empresa contratada vai investir nos modelos de collection score. Como empresa contratada, vou ser remunerada apenas para os contratos com ligação.
    Entao vou aumentar o meu custo fazendo a ligacao para os self que antes não fazia (mas como sao bons pagadores, uma ligacao deve ser suficiente).
    Para diminuir os custos, penso em mapear o melhor horário (best call) que obtive sucesso (ligaçao com atendimento do cliente), assim posso reduzir o numero de ligacoes.
    Através do modelo de collection, mesmo para os contratos scorados como os piores pagadores,existe uma curva de ligaçoes que a partir da ligacao numero x nao terei mais chance de recuperar o saldo devedor, ou seja, nao mais ligar a partir da ligacao x (reduzindo os custos).

    Érica, é possivel levantar um topico sobre LGD (lost given default)?
    Vejo que as empresas estão muito avançadas em desenvolver os modelos de credit score e behaviour score, mas sinto necessidade de aprimorar o lgd.
    Que no mundo de cobrança faz todo sentido.

    Abs,

    Rodolfo Miyasaki em 03 de abril de 2012 - 23:28
    • Boa tarde Rodolfo,

      Primeiramente quero lhe agradecer pela interação com o artigo e também pelo feedback positivo, é esse o termômetro que nos orienta a como escrever cada vez melhor para os nossos leitores.

      Você mencionou que o cliente deveria utilizar o modelo de Self-Cure e isso de fato acontece. Em alguns casos a empresa utiliza essa ferramenta para “filtrar” os devedores que possuem perfil espontâneo. Contudo, mesmo aplicando esse filtro, ainda assim é válido desenvolver um modelo de Self na prestadora de serviços, pois como sabemos o modelo probabilistico não possui 100% de assertividade. Outro ponto é que a empresa de Call Center possui informações que a empresa contratante não possui (variáveis de acionamento e bureaus de mercado) e muitas vezes essas variáveis são significativas, auxiliando na assertividade do Modelo.

      No segundo caso, você expõe muito bem, realmente o Modelo de Collection nos ajuda muito dependendo do tipo de contrato existente. Uma outra ferramenta muito importante que você também lembra é o modelo de Best Time to call, o qual nos orienta a ligar com inteligência e a reduzir os custos de Telecom – fundamental para uma prestadora de serviços. Quanto a curva que vc menciona a respeito dos clientes não Self-cure, realmente existe um limite para se ligar, e isso medimos através do spin, até um certo ponto compensa, passando daquele ponto, começamos a “patinar” e perder dinheiro pois pode causar ociosidade na operação.

      Entretanto, mesmo se reduzindo custos com toda esse ferramental inteligente, se o FEE não estiver casado com os custos finais, é necessário uma renegociação. É preciso simular e ficar de olho, pois nessa relação tem que haver o ganha-ganha e a prestadora vai estar sempre com o único objetivo de atender bem o seu cliente, e claro, com resultados satisfatórios.

      A respeito do LGD – Loss Given Default, vou me especializar mais no assunto e posteriormente trarei um artigo aqui para debatermos. O LGD, tem como definição Padrão: 1 – Tx de Recuperação, incluindo as perdas de custo de empréstimos não pagos, processos de cobrança e recuperação de crédito e por isso geralmente quem mais trabalha com esse indicador são financeiras e bancos, mas também não vejo uma grande disseminação. Boa dica!

      Um grande abraço!

      Érica Missão.

      Erica Missão em 04 de abril de 2012 - 13:26
  6. Erica,
    Achei muito bom o artigo, a sua abordagem foi muito clara, realmente as empresas precisam estabelecer parcerias de ganha-ganha. Talvez a única questão dificil seja a assimetria de informações sobre budge dos contratantes e estratégias (inteligência) das contratadas, pois se isso for muito aberto são perdidos os diferencias. Mas as empresas devem estar abertas para discutir e chegar em acordos razoaveis.

    Arnaldo Palma

    Arnaldo Palma em 03 de abril de 2012 - 09:52
    • Boa tarde Arnaldo,

      Muito obrigada pelo feedback positivo. Realmente é essa mensagem que pretendia passar com o artigo, e pode apostar que cada vez mais essa relação fica mais dificil. Quando vc diz que sobre a assimetria de informações, concordo contigo. Por um lado temos o contratante com informações preciosas e por outro lado, temos a contratada com todo investimento de capital intelectual, por isso sempre deve haver um equilíbrio.

      Grande abraço.

      Érica Missão.

      Erica Missão em 03 de abril de 2012 - 16:08

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