Por Marco Tulio Zanini

Trabalho em uma grande multinacional, onde entrei como trainee e atualmente ocupo o cargo de gerente. Cerca de três meses atrás, a companhia me incluiu em um programa de desenvolvimento de lideranças com duração de um ano, designando-me um mentor. Trata-se de um executivo sênior bastante respeitado internamente, com o qual deveria me encontrar a cada 15 dias para compartilhar conhecimentos, expectativas, metas e oportunidades. O problema é que, na prática, as coisas não tem sido assim. Nossas conversas são sempre muito rápidas e superficiais. Sinto que ele me recebe apenas por obrigação e que não está genuinamente interessado em ser meu mentor. Pensei em abrir o jogo com ele ou com o RH, mas devido ao grande prestígio desse executivo, tenho medo de que me achem arrogante, imaturo ou algo parecido. O que devo fazer?

Gerente, 27 anos

Resposta:

O mentoring é mais uma ferramenta de desenvolvimento profissional para ajudar executivos a alcançarem um novo patamar de carreira. Porém, é importante compreender que a formação de lideranças é ainda um grande desafio para as empresas e escolas de negócios em todo o mundo.

Buscamos aplicar as ferramentas e modelos mais adequados à realidade de cada organização, identificando aqueles que possuem comportamentos mais próximos ao perfil de liderança desejado. Porém, não é possível criar um líder pela simples determinação da hierarquia. Isso porque a liderança é um fenômeno social, e alguém só se torna líder aos olhos de seus liderados.

Liderança é um tipo de exercício de poder que emerge informalmente, pela confiança recíproca entre líder e liderados, não pela organização formal. O principal papel de um líder é ressignificar e criar sentido para o trabalho do grupo. Tornar-se líder, portanto, é uma decisão pessoal e intransferível por ocupar um espaço moral na sociedade em que se vive.

Apesar da falta de consenso sobre uma definição universal de liderança, creio que muitos colegas concordariam comigo que o líder é aquele capaz de enxergar possibilidades e criar espaços de sentido, ética, realização e excelência onde a maioria só enxerga espaços de pressão por resultados e redução de custos. É o indivíduo que, ao rejeitar o fatalismo, a complacência e o pessimismo, consegue mobilizar as pessoas na construção das alternativas possíveis e necessárias.

No ambiente de negócios brasileiro, o desenvolvimento de lideranças tem se manifestado de diversas formas, superando as dificuldades do nosso modelo cultural-institucional. Alguns casos de sucesso representam grandes soluções. Vivemos no contexto imperativo das demandas de curto prazo, onde prioridades entram na frente do planejamento. Porém, líderes não podem ser resumidos a recordistas de metas de curto prazo. É exatamente sob desafios como esse que líderes emergem, reconhecendo que esse tipo de gestão não gera valor sustentável.

O ponto de partida de lideranças autênticas é a gestão baseada em valores, a partir da filosofia empresarial, que se reflete em seu processo de tomada de decisão. São modelos de gestão que conseguem, de fato, enxergar um caminho virtuoso para além dos ganhos de curto prazo. Na falta de outros indicadores de sucesso de curto prazo, as organizações têm utilizado a métrica financeira como medida e bússola e, ao fazerem isso, destroem as precondições para a produção de valor verdadeiro e sustentável.

Bons executivos raramente dispõem de tempo sobrando, portanto meu conselho é que você aproveite o pouco tempo que o seu mentor pode dedicar a lhe ajudar. Na prática, programas de mentoring nunca andam como planejado e precisam se adequar ao ritmo das demandas do dia a dia. E, como vemos, esse é um desafio muito comum da realidade brasileira. Se você tem a sorte de ter um líder como mentor, ele poderá lhe ajudar a enxergar melhor as suas opções.

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