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Após 15 anos de prática, por que ainda somos tão ruins de e-mail?

por: Afonso Bazolli
em: Gestão
fonte: Folha de S.Paulo
31 de março de 2015 - 18:00

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Por: Lucy Kellaway

Na semana passada, recebi um e-mail que dizia o seguinte: “Caros colegas, por favor me acompanhem no webcast Global Conversations. Os detalhes estão em um post no meu blog. Tudo de bom -”

Uma mensagem curta e animada, o que é bom. Também era um texto claro e relativamente livre de jargões, o que é igualmente bom. Mas ainda assim o e-mail me irritou de pelo menos três maneiras diferentes.

Para começar, prefiro que o e-mail contenha os fatos relevantes, em lugar de um convite para que eu os encontre em outro lugar. Ainda que, como todo mundo, eu aprecie uma boa conversa, a ideia de um “webcast de conservação global” é abominável. E “tudo de bom” está entre as piores despedidas de e-mail, superada apenas por “tudo de melhor” e “tudo de bom e de melhor” –nesta ordem.

Dado meu pendor por encontrar coisas irritantes até mesmo nas mais curtas e anódinas mensagens, fiquei entusiasmada na semana passada com um tweet no qual alguém indicava um artigo da “Fast Company” sobre os hábitos mais irritantes de e-mail.

Alguns deles eram novidade para mim. A revista dizia que o maior crime é não colocar seu número de telefone na mensagem de e-mail. Jamais revelo meu número de celular a desconhecidos, pela excelente razão de que não quero que o usem para me ligar. Uma das coisas menos irritantes quanto ao e-mail é que ele é muito menos incômodo do que um telefonema.

O artigo também objetava a e-mails de simples agradecimento, sob a alegação de que esse tipo de mensagem representa uma perda de tempo para o destinatário. É uma crítica absurda. Já que o adulto médio lê 250 palavras por minuto, até mesmo o mais ocupado dos executivos dispõe de quatro milésimos de segundo para desperdiçar com a leitura de uma palavra sucinta e gentil como “obrigado”.

Mas a maioria das coisas irritantes que a revista aponta – mensagens longas demais, uso indevido do “responder a todos”, inserção de citações cafonas no pé do texto – são coisas com as quais eu concordo. Também são coisas com que só os malucos discordariam, o que desperta uma questão interessante: se essas coisas são universalmente reconhecidas como irritantes, por que as pessoas insistem em fazê-las?

Um dos diversos enigmas quanto ao e-mail é que, a despeito de dedicarmos diversos horas por dia a ele nos últimos 15 anos, não estamos mostrando grande melhora. Mesmo quanto às coisas mais básicas, continuamos tão desorientados quanto no passado.

Qual é a maneira correta de começar um e-mail? Longe de vermos um consenso surgindo, o caos das saudações não para de piorar.

A tensão entre a formalidade e a informalidade está longe de resolvida. Na minha caixa de entrada há exemplos de mensagens começadas por “caro senhor/senhora” e outras iniciadas com um simples “ei”. Na semana passada, a oficina mecânica que uso tentou bravamente resolver o problema com uma mensagem que começava por “oi senhorita Kellaway”.

Detecto o surgimento de duas novas tendências nas saudações. Uma é começar a mensagem dizendo “bom dia” ou “boa noite”. A prática irrita tanto por sua falsa cordialidade quanto por presumir que o destinatário esteja no mesmo fuso horário e que seja tão viciado em e-mail que abre suas mensagens de imediato. A outra é começar secamente com um “pessoas”, o que elimina qualquer traço de cordialidade da mensagem.

As despedidas também estão piorando. Há muitos “até mais”, “atenciosamente” e “tudo de bom”, como sempre houve, mas agora há uma nova tendência a empilhar formas delicadas de despedida. Na semana passada, recebi um e-mail que terminava com “aguardo ansiosamente por sua resposta. Muito obrigado e nos falamos em breve. Com meus melhores votos”.

Isso me lembra o dono da lojinha de conveniência perto de minha casa, que se despede dos clientes com “tudo de bom, até a próxima, volte sempre, tchau tchau”. Ele está aprendendo inglês agora, e ouso afirmar que com o tempo vai entender melhor como o sistema funciona. Mas no e-mail? A situação não parece promissora.

Ainda mais irritante do que tudo que descrevi acima é a “confirmação de recebimento”, um desdobramento recente que solicita permissão do destinatário para informar ao remetente que a maldita mensagem foi aberta.

“Agora não”, é o que eu sempre clico, com irritação, lastimando a ausência de um botão que diga “vá cuidar da droga da sua vida”.

Já que o e-mail está se tornando cada vez mais irritante, a única coisa encorajadora é que mesmo assim ele já não me irrita tanto quanto no passado. Talvez isso tenha a ver com a docilidade que envelhecer traz.

Mas existe um elemento da velha fórmula de “se você não pode vencê-los, junte-se a eles”. Pontos de exclamação, que eu costumava desprezar, agora enfeitam alegremente minhas mensagens, em um exagero de “ótima notícia!”, “que bom!” e “adorável!” Com certeza não vai demorar muito para que eu comece a usar emoticons, que sempre me causaram repugnância.

No entanto, a principal razão para que o e-mail nos irrite menos hoje é que, embora não tenhamos aprendido a escrevê-lo melhor, aprendemos a lê-lo muito melhor. O que vale dizer que aprendemos muito melhor a não lê-lo.

Mensagens irritantes hoje em dia pouco incomodam porque mesmo aquelas que conseguem passar por todos os admiráveis filtros que usamos podem ser eliminadas rapidamente com o botão del.

Tradução de Paulo Migliacci

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Comentários (2)
  1. Concordo com o Renan, esperava por dicas.

    Ana Maria em 07 de abril de 2015 - 15:09
  2. Achei o texto interessante, porém esperava algumas dicas de como escrever ou o que nunca dizer. Pareceu mais um grande desabafo.

    Renan em 01 de abril de 2015 - 12:05

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