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04 de janeiro de 2015 - 14:03

Falta-sintonia-entre-o-que-os-jovens-querem-e-o-que-as-empresas-precisam-televendas-cobranca

Por: Jacílio Saraiva

Nos principais vestibulares do país, os cursos mais procurados não são os ligados às formações profissionais que o mercado corporativo mais precisa. Segundo especialistas em recursos humanos ouvidos pelo Valor, há um descompasso entre o interesse da maioria dos vestibulandos e as necessidades reais das empresas. A falta de sintonia pode ser causada pela falta de informações dos candidatos sobre empregabilidade e pelo número reduzido de ações das companhias para atrair a atenção dos estudantes ainda nos bancos das escolas.

Por outro lado, os consultores afirmam que não é recomendado se inscrever no vestibular pensando apenas na possibilidade de ter uma colocação garantida ao término do curso. “É preciso levar em conta que há um intervalo de vários anos entre o ingresso na universidade e a formatura. A situação do mercado de trabalho pode mudar”, lembra Raquel Villardi, professora da pós-graduação em políticas públicas e formação humana da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

Na edição 2015 do vestibular da Fuvest, que recebeu 141,8 mil candidatos, a área com o maior número de inscritos é a de humanidades, com 46,8 mil vestibulandos, seguida por biológicas (45 mil) e exatas (35 mil). O concurso é a porta de entrada para 249 opções de graduação da Universidade de São Paulo (USP). Os cursos mais disputados são os de medicina, com 55 candidatos por vaga; psicologia (40,6) e engenharia civil (40). Aparecem ainda entre os mais desejados o bacharelado em artes cênicas, com 37,4 alunos por posição, audiovisual (37,4) e jornalismo (36,7). Nos últimos três anos, medicina e engenharia civil sempre estiveram entre as duas alternativas mais requisitadas na Fuvest.

Outros vestibulares também apontam o diploma de medicina como campeão de interesse. No de 2015 da Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com 39,8 mil inscritos em 90 graduações, o curso apresenta uma concorrência de 78,7 pessoas por vaga. Em segundo lugar, psicologia (29,9), seguida de fisioterapia (22,67) e jornalismo (20). Em Pernambuco, o curso de direito é, pelo segundo ano consecutivo, o mais procurado da Universidade de Pernambuco (UPE), com 139,2 candidatos por vaga. A instituição recebeu, este ano, 39,4 mil inscrições para 3,4 mil colocações em 53 cursos.

“Os mais procurados são sempre os mais conhecidos e tradicionais”, diz Raquel. “Áreas novas, mesmo com oferta de emprego, nem sempre são consideradas porque são menos comentadas entre os estudantes”. Segundo a especialista, há carência de profissionais na área tecnológica, principalmente entre engenheiros e tecnólogos, mas essas carreiras só se sustentam com a economia em crescimento.

Raquel afirma que o curso de medicina sempre registra uma grande procura, mas como oferece poucas vagas, a disputa é acirrada. Já o curso de direito é o campeão de demanda para quem deseja fazer concursos públicos com altos salários, como juízes e promotores. A professora da UERJ destaca também que há várias profissões com elevada escassez de mão de obra, ligadas à geologia, biomedicina e atuária, que são pouco procuradas pelos jovens. “Geralmente, os estudantes ficam influenciados por notícias de carência de profissionais em determinados nichos ou são atraídos por setores com remuneração diferenciada. Isso, porém, pode levar a equívocos.”

Em sua opinião, a engenharia de petróleo e gás é uma graduação que está no radar dos cursinhos, mas nada garante que o setor será uma carreira promissora daqui a duas décadas. “No longo prazo, as que se ocupam do meio ambiente tendem a ser mais vantajosas, pois vamos lidar com a questão da preservação de uma forma mais sistemática.” Os jovens precisam considerar, em primeiro lugar, as suas próprias aptidões e, só depois, as perspectivas e possibilidades do curso que querem fazer.

O estudante Felipe Freire, de 17 anos, prestou este ano vestibular para duas faculdades de publicidade e propaganda – e deve obter o diploma entre 2018 e 2019. Ele diz que fez a escolha levando em conta fatores como o interesse pelo segmento, remuneração e oportunidades de ascensão na carreira. “Dentro das minhas aspirações, optei por um nicho em que vejo mais chance de êxito”, diz.

A decisão foi elaborada a partir de testes vocacionais, entrevistas com profissionais de diversas áreas e o auxílio da família. Para saber se havia demanda de pessoal no setor, Freire fez pesquisas em sites para vestibulandos e conversou com executivos na ativa. “Mesmo depois de me formar, independentemente do segmento escolhido, continuarei fazendo pós-graduações e até outros cursos para me adaptar às necessidades do mercado”, garante.

Para João Márcio Souza, diretor executivo da Talenses, de recrutamento de executivos de média e alta gerência, a escolha do estudante pode não ser definitiva. “A formação acadêmica nem sempre é decisiva na carreira que o profissional vai seguir”, diz. Segundo ele, com exceção de graduações mais especializadas como medicina e direito, a universidade servirá como base para o candidato adquirir conhecimentos genéricos. “No mundo corporativo, a complementação da formação com pós-graduações e MBAs vai ajudar a pavimentar o caminho para postos gerenciais, seja qual for a origem acadêmica do executivo.”

Souza observa uma maior procura para os departamentos de finanças, engenharia e tecnologia. Mas, apesar de muitos estudantes se formarem nessas áreas, os cursos funcionam como uma credencial de entrada no mercado e não como garantia de uma carreira de sucesso. “A motivação dos jovens por determinadas faculdades ainda leva em conta o potencial de escalada profissional e o ganho financeiro rápido.”

Ricardo Amaro, diretor de recursos humanos da Ticket, do setor de benefícios e gestão de despesas, avalia que as preocupações com o primeiro emprego variam de acordo com a região do país e do crescimento de segmentos de negócio. “Formados em administração, economia, ciências contábeis ou marketing são muito interessantes para a nossa empresa”, diz.

O grupo mantém o programa “Ticket na Facul”, que apóia alunos e professores no desenvolvimento de trabalhos acadêmicos. O objetivo é aproximar os estudantes do mundo corporativo. “Organizamos visitas de universitários e alunos do ensino médio para vivenciarem o ambiente profissional e entenderem quais carreiras podem ser mais interessantes.”

Para Sigmar Malvezzi, professor da Fundação Dom Cabral e PhD em comportamento organizacional pela Universidade de Lancaster, na Inglaterra, os pré-vestibulandos também consideram a facilidade de acesso às profissões na hora da inscrição. Além disso, na maior parte das vezes, eles ainda não estão preparados para definir uma trajetória tão cedo, antes dos 18 anos. “Escolher um trabalho é decidir uma forma de relação com o mundo. Pode-se chegar a uma ocupação específica por meio de um curso de outra área. É muito comum por exemplo, encontrar profissionais que trabalham naquilo em que nunca se especializaram”, afirma.

O arquiteto Sílton de Oliveira, de 38 anos, engrossou a lista de candidatos no vestibular de 2013, mas optou por um curso distante da sua primeira formação. Aprovado há um ano em um concurso público para órgão do judiciário, resolveu voltar a frequentar as salas de aula para estudar direito. “Pretendo fazer carreira no setor público e o curso de direito é o que mais pode me ajudar a atingir metas de desenvolvimento e ascensão profissional.”

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