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Os jovens estão trabalhando menos?

por: Afonso Bazolli
em: Gestão
fonte: Valor Econômico
25 de agosto de 2014 - 18:00

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Muitos analistas têm se perguntado por que nosso mercado de trabalho continua aquecido, mesmo com a desaceleração recente no processo de geração de empregos. De fato, depois de um longo período em ascensão, a taxa de admissão em novos empregos, que sempre foi o principal determinante do comportamento da taxa de desemprego no país, passou a declinar. Essa taxa passou de 15% para 28% nas regiões metropolitanas entre 2003 e o início de 2012, mas desde então começou a declinar rapidamente até atingir 21% no início do ano passado. Na última vez que isso ocorreu, entre 2002 e 2003, a taxa de desemprego aumentou de 11,5% para 13%. No entanto, atualmente o desemprego tem permanecido constante, pouco abaixo de 6%. Mistério?

A explicação parece estar no comportamento da oferta de trabalho. A taxa de crescimento da população tem diminuído como resultado da transição demográfica. Mas, além disso, a oferta de trabalho da população também passou a diminuir nos últimos anos. A taxa de participação das pessoas com 15 a 64 anos de idade aumentou de 71% para 74% entre 1998 e 2005, mas declinou para 72% em 2012 (dados das pesquisas de amostras domiciliares do IBGE). Esse declínio ocorreu tanto entre os homens como entre as mulheres (cuja taxa estava crescendo continuamente nos últimos anos).

O mais interessante é que existe um grupo demográfico específico que está causando essa redução de oferta: os jovens, principalmente os menos qualificados. Como mostra a figura ao lado, a taxa de participação dos jovens com até quatro anos de estudo (que não completaram o primeiro ciclo do fundamental aos 15 anos de idade), ficou estável entre 1998 e 2005, mas caiu 13 pontos percentuais entre 2005 e 2012. A participação dos jovens com educação intermediária caiu 8 pontos percentuais, enquanto a dos jovens com ensino superior caiu apenas 4 pontos. Interessante notar que esse fenômeno aconteceu tanto entre os homens como entre as mulheres, tanto no Sul/ Sudeste como no Norte/Nordeste. Qual seria a razão para essa quebra tão intensa da tendência anterior?

Algumas hipóteses têm aparecido no debate. A primeira é que esse movimento seria na verdade positivo, pois estaria refletindo a maior permanência dos jovens na escola. Os dados mostram que isso é apenas parcialmente verdade. Quando examinamos os jovens que estão mais atrasados, notamos que somente 41% dos que estão fora da PEA estão na escola, em comparação com 38% em 2005 e 36% em 1998. Mais ainda, entre os jovens com ensino médio houve uma diminuição na taxa de frequência escolar entre os que estão fora da PEA, de 67% em 2005 para 62% em 2012. Assim, os jovens não estão simplesmente deixando de trabalhar para estudar.

Outra possível explicação está relacionada com o forte aumento do salário mínimo que houve no período recente. Pode ser que as empresas, para empregarem trabalhadores por esse salário, além de todos os benefícios trabalhistas, teriam que contratar jovens com produtividade cada vez mais alta para não perderem dinheiro. Assim, a parcela menos qualificada dos jovens não teria mais lugar no mercado de trabalho e teria desistido de procurar emprego. Essa explicação, entretanto, é incompatível com a existência de um mercado informal ainda relevante no Brasil. Se essa teoria fosse verdadeira, o mercado informal deveria estar aumentando no Brasil e não diminuindo, como tem acontecido.

Na verdade, a principal explicação para essa queda de participação parece ser o aumento do salário real dos pais desses jovens. Em primeiro lugar, porque essa queda ocorreu principalmente entre os jovens que ainda moram com os pais. Além disso, os jovens menos escolarizados moram com pais que também tem pouca educação. E foram eles os mais beneficiados pelo crescimento econômico dos últimos anos, liderado pelo setor de serviços. Assim, o salário médio dos pais dos jovens menos escolarizados aumentou 5,5% ao ano em termos reais entre 2005 e 2012, depois de ter declinado 2,5% ao ano nos sete anos anteriores.

Essa parece ser a principal explicação para a queda na taxa de participação dos jovens. Várias pesquisas mostram que o aumento do salário dos pais diminui a oferta de trabalho dos filhos. Afinal, quem não gosta de ficar em casa vendo sessão da tarde, se a mesada é suficiente para a cerveja? O problema dessa opção é que o futuro não é nada promissor para esses jovens. Em breve o salário dos pais pode começar a declinar novamente e o crescimento necessitar de jovens com mais qualificação. Aí o pior pode acontecer.

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1 Comentário
  1. E uma triste constatação.
    Jovens, pouco qualificados não tem interesse em crescimento, não têm ambição,sonhos,vontade de algo melhor.
    O que podemos esperar para a próxima década??

    Ana Maria em 26 de agosto de 2014 - 11:47

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