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Posso questionar ordens que recebi para demitir?

por: Afonso Bazolli
em: Gestão
fonte: Valor Econômico
30 de novembro de 2016 - 18:00

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Por: Karin Parodi

Tenho 56 anos e mais de 15 anos de empresa. Há alguns dias, uma auditoria interna apontou a necessidade de fazer cortes e precisarei demitir parte da minha equipe. Tive carta branca para demitir quem quisesse, desde que a empresa economizasse determinado valor na folha de pagamento. Outros diretores estão optando por demitir os antigos e mais caros, mas eu resisto porque essas pessoas são importantes na equipe.

Gostaria de ter mais tempo, de negociar caso a caso e rever o valor apresentado, mas a matriz parece inflexível. Cheguei a um limite de pressão em que considero até mesmo me demitir, mas tenho medo de não conseguir me recolocar. Como argumentar nesse caso?

Diretor de novos negócios, 56 anos

Resposta:

Não sei se os leitores já viram um meme que circula nas redes sociais, no qual um cachorro olha para a própria sombra projetada no chão e pensa: “Meu Deus, eu sou o Batman”.

Lembrei-me dessa imagem ao ler o questionamento acima porque o dilema exposto é exatamente o de ser um super-herói, salvando empregos à custa de si mesmo, ou ser um homem comum. Com o desafio extra de que, no mundo executivo, infelizmente não se pode ser super-herói secreto como o homem-morcego, com uma máscara que preserva a identidade.

Essa imagem é adequada porque, simbolicamente, todo cenário econômico adverso pode ser encarado como uma Gotham City. Esse clima é cada vez mais frequente no Brasil dos últimos meses, levando à redução de custos e investimentos e, assim, ameaçando diretamente a vida e a carreira de diversos profissionais. É fato inegável que muitas empresas estão revendo negócios, estruturas e, claro, pessoas.

Mas nada disso é novidade. Por sua idade, sei que você viveu a Gotham City dos anos 90, com mudanças tão extremas que reescreveram nossa relação com o mundo do trabalho – globalização, terceirização, diminuição de estruturas, novas tecnologias, fusões e aquisições mudaram para sempre nossa trajetória profissional.

Ficar desempregado, como se dizia então, era algo que estigmatizava um indivíduo. A percepção era a de que algo grave havia acontecido na sua relação com a empresa, ou então, a de que o desempenho do sujeito era muito abaixo do esperado, beirando a incompetência. Os demitidos aprendiam no susto a buscar alternativas de carreira e faziam o que podiam para conviver com o choque, a raiva e a negação. Até que, um dia, o turbilhão de emoções se estabilizava e finalmente eles davam um novo passo. Mas a autoestima saía arranhada.

As coisas mudaram muito da primeira Gotham City para a atual. Nem falamos mais em ficar desempregado – agora usa-se a expressão “transição de carreira”. Existe uma aceitação social a esse “status”. E, além disso, você está mais maduro e preparado para lidar com a crise do que nos anos 90.

É muito difícil para um líder fazer o que lhe pediram sempre, principalmente se sua equipe tem boa performance, está engajada e alinhada aos valores da organização. Mas já foi mais difícil no passado e talvez não seja preciso incorporar o Batman, embora sua intenção seja nobre.

Vamos analisar o que você colocou: demitir parte da equipe ou demitir-se. Para demitir na equipe, você terá de fazer uma análise de cada posição e o impacto da saída de cada ocupante, – saber, por exemplo, se existe um sucessor preparado. Você deve pautar-se pelas avaliações de cada um feitas ao longo do tempo. É importante saber ainda com quem você vai poder contar neste cenário de mudanças; pois existem os que se adaptam e se engajam e os incapazes de fazer isso.

Você até pode usar outros critérios, como os apontados em sua mensagem, mas sugiro que tome a decisão com base em critérios mais estratégicos e olhando a médio prazo. Em algum momento, o cenário mudará e você precisará ter uma equipe bem preparada, se resolver permanecer como líder.  Outro ponto é que a comunicação tem papel primordial nesse processo.

Quanto à opção de pedir demissão, acho-a menos glamourosa. No fundo, você estará fugindo de um exercício da liderança, que é conduzir uma reestruturação em um momento delicado. Creio que o mercado interpretaria assim. Sendo sincera e racional, não vejo a solução Batman como alternativa, principalmente se você não tem um plano B pronto.

Mais “super-heróico” seria posicionar-se em relação à matriz. Você pode sugerir alternativas que atenuem as demissões, por exemplo. Mas elas devem ser fundamentadas e não poderão soar como sinais vindos de um profissional resistente a mudanças.

A Gotham City brasileira de 2015 requer cautela e, principalmente, as competências de um líder. Alguma leitura sobre o tema “gestão de mudanças” pode lhe ajudar nesse momento.

Robin, o menino prodígio, diria: “santa injustiça, Batman”. De fato é, porém você, como líder, tem o poder de fazer com que a solução seja menos dolorosa e mais humana para todos os envolvidos.

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