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Vamos mesmo deixar a empresa contar as nossas calorias?

por: Afonso Bazolli
em: Gestão
fonte: Valor Econômico
09 de outubro de 2019 - 17:00

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Por: Stela Campos

Dieta para mim sempre foi um problema. Parece que vivo em uma luta eterna por aqueles três ou quatro quilinhos que vêm e que vão. E olha que isso já faz muitos anos. Nunca fui exatamente gorda, mas também nunca fui magra o que, para nós mulheres, significa ser gorda e pronto. Mas esse sempre foi um problema meu com a balança, com a geladeira, com as pizzas, as coxinhas e os sorvetes, e não da empresa onde eu trabalho.

Recentemente, uma companhia me relatou que em um de seus programas de recursos humanos ela vincula o cumprimento de metas de emagrecimento a um período adicional de férias. Se você fechar a boca e perder alguns quilos pode ganhar um mês a mais de folga no ano.

Essa informação, que executivos da empresa me contaram durante um almoço, a princípio, me soou simpática. Confesso que tive um pouco de inveja pelos trinta dias a mais de descanso no calendário. Olhei para o meu prato e tive orgulho dos dois terços preenchidos com salada.

Aquela mesma informação, no entanto, ficou martelando na minha cabeça. Não é a primeira vez que ouço isso. Em uma das minhas primeiras matérias para o Valor, contei a história de uma empresa que já atrelava uma parte do bônus de seus executivos a metas de emagrecimento. A ideia, portanto, não é nova, mas parece estar se espalhando. Meu personagem na época era gordinho, mas estava tão empenhado que, algum tempo depois, voltei a entrevistá-lo e ele tinha de fato secado.

Não quero agourar, mas é notório que gordura vai e vem se a motivação do regime não for genuína. Em pouco tempo, todo o esforço pode cair por terra. Como será que fica a vida do sujeito que, em meio a uma competição interna por magreza, vacila e saca um chocolate da gaveta. Vão achar ele fraco? Pouco engajado?

Uma consultoria especializada em desenhar programas de bem-estar desse tipo para diversas companhias afirma que essa prática tem crescido no Brasil. E que já está ultrapassando as fronteiras das multinacionais. Apoiadas em iniciativas que têm como pano de fundo melhorar a qualidade de vida dos funcionários, prevenir doenças e assim reduzir os custos com planos de saúde, algumas organizações podem estar sendo mais invasivas do que protetoras. Não me parece justo a pessoa lembrar do trabalho toda vez que dá uma garfada em uma feijoada.

É sabido que a fronteira entre a vida pessoal e o trabalho já caiu há muito tempo. A tecnologia e seus meios de rastreamento, como o WhatsApp, nos coloca à disposição de nossos chefes praticamente o tempo todo. Só que agora o controle chega ao nosso corpo e aos nossos hábitos fora dos muros da empresa.

Nos EUA, uma desenvolvedora de softwares anunciou recentemente que vai implantar chips debaixo da pele de seus funcionários com o objetivo de identificá-los, facilitar seu acesso a computadores, abrir portas, fazer cópias de documentos e compartilhar informação, entre outras funções. Eles dizem que o procedimento é indolor e que não colocará em risco a privacidade dos trabalhadores, uma vez que os dados armazenados no chip estarão criptografados e não poderão ser rastreados por GPS. Mas e o furo na pele?

Muitas pessoas acham isso uma evolução natural e moderna das relações de trabalho. Em muitas organizações, os contadores de passos se transformaram em plataformas de competição entre equipes. O lado positivo é incentivar as pessoas a andarem e todo mundo sabe que é melhor deixar o sedentarismo. Então temos que ir até a máquina de café 150 vezes por dia, já que passamos mais tempo no escritório do que na rua.

É fato que hoje existem aplicativos para quase tudo e que podem ajudar a medir nossos hábitos saudáveis. Mas esses usa quem quer, baixa quem gosta de saber sobre os batimentos cardíacos ou quer contar quantos copos de água bebe desde que acorda. A decisão é do cidadão, a empresa não tem nada a ver com isso.

O trabalho já ocupa nossos momentos de ócio doméstico quando levamos as preocupações conosco após o expediente. Pesquisas mostram que cada vez mais ele tira o sono dos profissionais. Os executivos têm dormido cada vez menos e com isso estão mais angustiados e infelizes. Se, além disso, tivermos que deixar de dar uma beliscada em um docinho para não perder a recompensa e o status no trabalho, a vida pode se tornar ainda mais amarga.

O risco é considerarmos tudo isso normal. Os prêmios para sermos mais esbeltos podem ter um lado bom que é fazer os mais gulosos controlarem o peso porque finalmente encontraram um incentivo que vale a pena.

Mas, certamente, alguns gordinhos podem não ligar tanto para sua silhueta mais arredondada e querer continuar assim. Eles não querem ser olhados de lado pelos colegas de trabalho porque se mantêm fora de forma ou que a empresa contabilize as suas calorias. Eu, pensando bem, poderia sim fechar a boca por mais um mês de férias. É realmente tentador.

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