Por: Fabiana Lopes

Com a saída do HSBC do Brasil, a dificuldade dos bancos estrangeiros para competir no país, especialmente no segmento de varejo, ficou ainda mais emblemática. Mesmo assim, o gigante americano Citibank não tem planos de fazer as malas. O banco, presente no país há cem anos, vê o movimento de seu concorrente como uma oportunidade para expandir sua base de clientes de alta renda.

Fábio Fontainha, responsável pelo varejo do Citi no Brasil e na América Latina, conta que, desde que as notícias sobre a possível venda do HSBC começaram, o banco tem sido procurado por clientes da instituição, especialmente aqueles de alta renda e que precisam de um banco com presença no exterior.

“Achamos que esse mercado é grande e que temos grandes oportunidades nos centros onde operamos. Estamos nos capacitando e contratando onde a gente acha que é pertinente para poder atender esses clientes”, disse ao Valor. O executivo afirma, porém, que o movimento do HSBC não implicou em mudanças da estratégia do banco.

A última grande transformação estratégica da instituição foi feita no começo de 2013, quando Fontainha assumiu a área de varejo e iniciou um reposicionamento para tornar o segmento 100% centrado no mercado de alta renda. Esse processo ainda está em curso e traz alterações que podem ser importantes atrativos para os clientes do HSBC.

Até agora, em grande parte do período de mudança o banco esteve reestruturando o portfólio de serviços e produtos para torná-lo mais alinhado ao que a instituição oferece globalmente.

Neste processo, no entanto, ainda há passos a serem dados. Um deles é um esforço para migrar a plataforma de tecnologia do Citi Brasil para a mesma plataforma usada globalmente. Por trás desse movimento, está a estratégia de deixar as ofertas no Brasil mais parecidas e conectadas com as que o banco dispõe no exterior. “Queremos trazer a globalidade e a internacionalização de volta para a nossa estratégia”, afirma Fontainha.

O banco quer com isso atender três diferentes tipos de clientes brasileiros de alta renda: aquele que viaja e precisa de assistência financeira fora do país; o cliente que se mudou para o exterior; e o brasileiro que quer investir em ativos fora do país para diversificar.

Além disso, está em curso na instituição um processo de remodelagem das agências. Conhecidos internamente como “smart branches”, os novos pontos de atendimento do banco não se parecem em nada com os tradicionais, em que os clientes se enfileiram atrás de um balcão para ter acessos às operações.

No novo modelo, o Citi criou uma espécie de escritório de negócios, com diversas salas de reunião, divididas para atender de forma mais customizada os diferentes níveis de cliente de alta renda. Até o momento, a instituição investiu US$ 50 milhões nas primeiras cinco agências deste tipo, no Rio de Janeiro e em São Paulo. Esses espaços atendem hoje 20% da base de clientes do banco, mas o objetivo é atender 100% dos correntistas no futuro.

O Citi tem hoje 71 agências no Brasil e, segundo Fontainha, não há, no momento, uma perspectiva de ampliar esse número. “Já estamos com o tamanho que achamos que é o certo”, disse, ressaltando que o banco deve apenas remodelar esses espaços pouco a pouco.

Fontainha – que em junho assumiu, além das operações no Brasil, o varejo da América Latina (com exceção do México) – afirma que a região continua a ser estratégica para o banco americano. As carteiras de crédito e de depósitos da área de varejo na América Latina do Citi representam atualmente 19% e 23% da carteira total do grupo na região, respectivamente. Incluindo o Brasil, o banco tem 202 agências na região.

O Citibank Brasil terminou o primeiro semestre com lucro líquido de R$ 187,4 milhões, seis vezes maior que o reportado em igual período do ano passado. Esse resultado foi sustentado, em boa parte, por um volume maior de receitas de intermediação financeira.

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