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Vendas por meio de consórcio continuam em crescimento

por: Afonso Bazolli
em: Vendas
fonte: Valor Econômico
11 de maio de 2015 - 18:05

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Por: Simone Cavalcanti

O coordenador administrativo Daniel Alves, 43 anos, não tinha pressa. Pensava em encontrar uma nova fonte de renda para o futuro e resolveu investir em um imóvel para alugar. Foi pesquisar as taxas das linhas de crédito que estavam sendo oferecidas em um feirão para aquisição de casas e, sem pestanejar, optou por um consórcio divulgado no mesmo evento. “O consórcio é algo planejado e pode ser, sim, um bom investimento”, defende Alves, que está com a carta de crédito para adquirir o imóvel. O aluguel, garante, será suficiente para honrar as 177 parcelas restantes do contrato que assinou. Agora o próximo passo, conta, é entrar em outro grupo para aquisição de um veículo.

Alves faz parte de uma parcela da população que soma 6,26 milhões de pessoas participantes do sistema de consórcios, segundo a Associação Brasileira das Administradoras de Consórcios (Abac). O segmento automotivo representa a grande massa dos consorciados no país. São 5,49 milhões de participantes, que concentravam um volume de crédito da ordem de R$ 9,94 bilhões no primeiro bimestre, de acordo com a entidade.

A participação da modalidade em relação aos financiamentos tradicionais na compra de veículos leves vem crescendo de maneira consistente. Dados da Cetip mostram que, no primeiro trimestre deste ano, a representatividade do consórcio na aquisição de veículos alcançou 15,2%, acima dos 13,5% de dezembro passado. Ao fim de 2011, a fatia era de 9,6%. Ainda segundo a Cetip, no período, o consórcio foi a única modalidade de financiamento de veículos que cresceu em relação ao mesmo período de 2014. Foram financiados 212,2 mil unidades por meio de cotas de consórcio, um aumento de 0,6%, ante queda de 9,8% do CDC. Os dados consideram cotas contempladas, mas não quitadas de consórcio. Só em março, 35.896 veículos foram comprados com o uso de cartas de crédito, o maior volume dos últimos cinco anos.

Em tempos de crédito mais restrito e juros em elevação, o consórcio tem sido usado como alternativa tanto para aquisição de veículos como de imóveis. Mas será que a modalidade deve ser considerada como opção? Segundo especialistas, em termos. Poupar e comprar à vista ainda são o melhor caminho.

O sistema de consórcio, modalidade de compra baseada na união de pessoas com o objetivo de formar poupança, pode funcionar para quem não tem pressa em adquirir o bem ou ainda como um meio-termo entre poupança e financiamento, desde que o interessado tenha um valor de “entrada” para ser usado para dar um “lance” e arrematar a carta de crédito.

“Consórcio não é feito para quem precisa do bem imediatamente”, ressalta o presidente da Abac, Paulo Rossi. “Mas para aqueles que, dentro de um mapa mental, pensam no médio e longo prazo e que, ao fim, terão o poder de comprar um bem à vista.” Rossi exemplifica: se você tem um filho com 14 anos e sabe que, aos 18, ele vai querer um carro ou um imóvel comercial para trabalhar quando se formar na faculdade, o consórcio cabe nesse planejamento.

Pesquisa encomendada pela associação mostra que a maioria (64%) dos cotistas é do sexo masculino e que 72% dos participantes são casados. Pela classificação etária, 54% dos participantes têm mais de 40 anos e 19%, até 29 anos. Pouco mais da metade declara rendimentos entre quatro e dez salários mínimos e, portanto, são classificados como classe média pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O professor e coordenador do laboratório de finanças do Insper, Michael Viriato, afirma que, se a análise considerar apenas o lado financeiro, não há vantagem melhor do que a compra à vista. Mas ressalta que pensar apenas no elemento financeiro não seria o ponto, pois, neste caso, a tendência é sempre minimizar os custos ou, por outro ângulo, otimizar seus ganhos. “É preciso considerar também os aspectos psicológicos de desejo e satisfação do indivíduo, por isso ele financia.”

Viriato levanta outra questão: o que se vê é que, culturalmente, o brasileiro não tem tendência a poupar. “É um dilema forte: consumo hoje ou poupo para amanhã”, brinca. Diante disso, afirma ser muito comum as pessoas optarem pela chamada poupança forçada, na qual o dinheiro da conta é extraído porque a pessoa não conseguiria guardar por si mesma. “E, nesse caso, o consórcio é uma alternativa.” No entanto, avisa: consórcio não é elemento de poupança, mas de captura de recursos.

É possível antecipar a obtenção da carta de crédito por lance. Porém, no início, as ofertas podem chegar a 60% do valor do bem

Ainda segundo o professor do Insper, a aquisição de um veículo em nada se compara a de um imóvel. Uma casa, diz, é algo único, com características como localização e proximidade do trabalho e escola, que atendem a anseios próprios. E isso difere muito de um automóvel, cuja marca ou modelo pode ser encontrado em qualquer lugar. “Além disso, os juros do financiamento imobiliário são razoáveis comparados a outros segmentos da economia.” Talvez por isso o consórcio para a aquisição de propriedades seja menos usado. Ao fim do primeiro bimestre, alcançou 716 mil participantes, com volume de crédito de R$ 3,5 bilhões.

A arte de poupar em grupo não é para qualquer um. Mas há felizardos que conseguem ser sorteados nos primeiros meses do contrato. É o caso do decorador José Carlos Reis, de 59 anos, que ganhou o sorteio de março. Levado pelo genro para o sistema, já é o segundo veículo que compra com carta de crédito. Na primeira vez, para comprar um carro da marca Gol, da Volkswagen, venceu o leilão no oitavo mês. “Mas agora tive sorte logo no início. Mas muitos dos meus colegas vão pagando até o final”, lembra ele, que foi contemplado com R$ 41 mil e já vai comprar seu veículo Hyundai, modelo HB20.

Lance e sorteio são as duas formas de contemplação. A periodicidade das assembleias, o número de sorteios ou lances e os percentuais da cota que podem ser ofertados pelos consorciados para vencer o leilão variam de acordo com cada contrato. Rossi lembra que, atualmente, existem os chamados grupões de 200 participantes. Com esse volume de cotistas é possível ter quatro entregas por mês, divididas entre sorteios e lances.

Miguel de Oliveira, ex-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac) e agora consultor, diz que o consorciado deve observar os valores que foram apresentados nas assembleias anteriores para saber qual o piso das ofertas naquele grupo. “Ele vai usar os percentuais como balizadores para seu próprio lance.”

Em geral, nos meses iniciais da formação do grupo, os lances para a compra de imóveis ou veículos podem chegar a 60% do valor do bem. A estratégia do chamado lance embutido, atualmente admitida em contrato por inúmeras administradoras, pode ajudar a incrementar a proposta. Nesse sistema, o cotista usa parte do valor do seu crédito previsto e ainda pode agregar recursos próprios, aumentando sua chance de vencer.

Muitas pessoas têm aderido a uma cota maior do que precisam para a compra do bem desejado, como o conferente de mercadorias Carlos Eduardo Santos Pereira, que pegou uma cota de R$ 30 mil e fez uma oferta de R$ 10 mil na assembleia. No caso de imóveis, o consorciado pode usar recursos do FGTS para elevar o lance. Foi o caso de Daniel Alves que, juntando recursos próprios e do fundo, conseguiu 42% (R$ 100 mil) do valor contratado de R$ 238 mil.

Antes de contratar um consórcio é preciso pesquisar muito as taxas de administração, pois elas fazem a diferença nas parcelas e, consequentemente, no valor final a ser desembolsado pelo participante. De acordo com pesquisa do Banco Central (www.bcb.gov.br/?CONSORCIOBD) de fevereiro, esses encargos variavam entre 2,75% e 37% do valor do bem móvel contratado. Para imóveis, o intervalo era de 4,81% a 28%.

Pela legislação em vigor, as empresas são livres para estabelecer suas taxas pela gestão e administração. Por isso mesmo todos os especialistas consultados afirmam que é necessário fazer uma ampla pesquisa e comparação das cotas que são ofertadas no mercado. O custo da taxa é diluído ao longo do tempo e varia de acordo com a quantidade de parcelas. Ferramentas de comparação de consórcios na internet podem ajudar a encontrar as melhores opções.

O professor Fábio Gallo, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), ressalta que compensa muito mais poupar os recursos em alguma aplicação financeira, principalmente se a taxa de administração do consórcio for alta. Em uma simulação hipotética, ele exemplifica com o caso de uma pessoa que entra em um consórcio para aquisição de um bem de R$ 90 mil pagando 100 prestações mensais de R$ 1.044. Se esse contrato tiver uma taxa de administração de 16%, por exemplo, o participante terá desembolsado R$ 104,4 mil ao fim do contrato – sem considerar a correção por um índice de inflação. Já se ele aplicasse os mesmos R$ 1.044 mensalmente em um fundo DI, pelo prazo correspondente, teria em mãos cerca de R$ 140 mil. Ou os R$ 90 mil desejados em um período de 72 meses.

Na avaliação de Gallo, existe vantagem no consórcio se o cotista for contemplado logo no início – o que, em alguns casos, pode significar até um terço do tempo do contrato. Já em situações nas quais a pessoa tem a necessidade do bem, o custo de esperar vira desvantagem. “A pessoa que poupa, não paga e ganha consegue o bem mais barato e rapidamente e aquele que fica no fim da fila do consórcio perde.”

Para ele, o brasileiro está ingressando na puberdade da educação financeira agora e sabe que precisa se organizar financeiramente. Diante disso, Gallo afirma que as pessoas vão repensar alguns sistemas, inclusive o de consórcio.

Além de taxas altas, da saúde financeira da administradora e da possibilidade de obter a carta só no fim do grupo (leia mais na página D2), o consorciado pode enfrentar riscos inesperados. Foi o que aconteceu com o Carlos Eduardo Santos Pereira.

Ao completar 19 anos, Pereira almejava por um carro. Já havia conseguido guardar R$ 10 mil, mas suas economias ainda eram insuficientes para comprar o veículo. No mês passado, a gerente da agência do Itaú Unibanco em Taboão da Serra, onde tem conta, apareceu com uma oferta que seria o melhor dos mundos. Ele compraria uma cota de consórcio e ela o aconselharia sobre como conduzir o lance, podendo ser contemplado logo no início dos 36 meses do contrato.

Inicialmente, Pereira buscava uma carta de crédito de R$ 20 mil, mas o menor valor comercializado no banco era de R$ 30 mil. Foi então que soube como é feito o lance embutido. Aderiu ao grupo e apenas cinco dias depois participou da primeira assembleia na qual ofertou, além de suas economias, uma parcela da própria carta de crédito. Com isso conseguiu dar um lance de R$ 20 mil, o equivalente a 66% do valor total. Levou.

“Foram apenas cinco dias para ganhar o leilão, mas já faz quase um mês e não consigo a carta de crédito”, reclama. Pereira conta que a gerente que vendeu o consórcio foi transferida e os substitutos não sabem informar o que houve. Ele disse que já levou os documentos indicados à central de consórcios Itaú, que fez novas solicitações. “O processo que foi rápido no início agora está muito burocrático.” Questionado, o Itaú respondeu, por meio de nota, que “o cliente foi assessorado durante todo o processo, porém, devido a pendências de documentação, a liberação de crédito não pode ser finalizada”.

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